A colonialidade científica e o ensino de paleontologia : uma análise da produção acadêmica sobre a educação em ciências
Resumo
Resumo: A Paleontologia é uma ciência marcada pela colonialidade. A colonialidade científica gera um desequilíbrio na produção acadêmica em Paleontologia, em que os países do Norte Global são privilegiados. Os países do Sul, inclusive o Brasil, frequentemente têm seus fósseis traficados, suas leis desrespeitadas e seu conhecimento desvalorizado. A fim de compreender se a colonialidade em Paleontologia também está presente no discurso mobilizado dentro das escolas brasileiras, analisamos a produção acadêmica sobre a Educação em Ciências e o ensino de Paleontologia no Brasil. O objetivo geral desse trabalho é compreender o funcionamento discursivo da Paleontologia em trabalhos acadêmicos sobre a Educação em Ciências no Brasil e como se associam à colonialidade científica a partir de seus sentidos dominantes. Delineamos quatro objetivos específicos: a) construir um aporte teórico que articula a prática e o ensino da Paleontologia, a crítica à colonialidade científica nessa ciência e os estudos decoloniais; b) estabelecer critérios relacionais para acessar discursos presentes em trabalhos acadêmicos sobre o ensino de Paleontologia em escolas brasileiras; c) analisar os sentidos que permeiam a Paleontologia nesses trabalhos; e d) delinear movimentos de sentidos entre a Paleontologia e colonialidade científica a partir das análises. Como aporte teórico, adentramos nas discussões dos estudos decoloniais a partir da trajetória e do pensamento do grupo Modernidade/Colonialidade e em possibilidades metodológicas que rompem com o modelo hegemônico de produção de conhecimento acadêmico. Esta é uma pesquisa qualitativa ancorada no referencial teórico-metodológico da Análise de Discurso de vertente franco-brasileira. Através do referencial da Análise de Discurso, acessamos os discursos de cinco trabalhos sobre o ensino de Paleontologia que relatam atividades previamente implementadas em ou com escolas brasileiras, nas etapas do Ensino Fundamental II ou do Ensino Médio, e foram publicados na última década. A análise foi organizada em quatro diferentes camadas: condições de produção e formações discursivas; sentidos sobre Paleontologia; sentidos sobre a Educação em Ciências e o fazer ciência em Educação; e metodologias (de)coloniais. O último movimento de análise foi o de elencar os sentidos dominantes nos trabalhos analisados e debater como se associam, ou não, à colonialidade científica. Os sentidos dominantes identificados apontam que o ensino de Paleontologia nas escolas segue reproduzindo estruturas coloniais, principalmente pela mobilização de sentidos da ciência moderna. Contudo, também foram identificados sentidos dominantes contra-hegemônicos, que operam pela valorização do patrimônio fóssil brasileiro. Sugerimos a continuidade desta pesquisa: analisando marcas de colonialidade científica no ensino de Paleontologia brasileiro em outros contextos; extrapolando as fronteiras nacionais em estudos comparativos; e investigando a temática em outras disciplinas da Educação em Ciências Abstract: Paleontology is a science marked by coloniality, a condition that produces a global imbalance that privileges the Global North. Consequently, countries in the Global South, including Brazil, often face fossil trafficking, the disregard of their laws, and the devaluation of their knowledge. To verify whether coloniality in Paleontology also manifests within Brazilian schools, this study analyzes the national academic literature on the subject. This study investigates how Paleontology functions discursively within Brazilian academic literature on Science Education, and how its dominant meanings are associated with scientific coloniality. It pursues four specific objectives: a) to construct a theoretical synthesis articulating the practice and teaching of Paleontology with a critique of scientific coloniality and the decolonial studies; b) to establish relational criteria for accessing discourses within scientific literature about teaching Paleontology in brazilian schools; c) to investigate the meanings that permeate Paleontology in these works; and d) to delineate the movements of meaning between Paleontology and scientific coloniality based on the analysis. The theoretical framework is grounded in decolonial studies, drawing from the Modernity/Coloniality group, and explores methodological possibilities that challenge the hegemonic model of knowledge production. This is a qualitative study that employs the theoretical-methodological framework of French-Brazilian approach to Discourse Analysis. This framework was used to analyze the discourse within five academic works, published in the last decade, that detail educational activities implemented in Brazilian middle or high schools. The analysis was structured across four layers: conditions of production and discursive formations; meanings concerning Paleontology; meanings of Science Education and the practice of doing science in Education; and (de)colonial methodologies. The final analytical step consisted of identifying the dominant meanings in the works and discussing their association, or lack thereof, with scientific coloniality. The identified dominant meanings indicate that the forms in which Paleontology is taught in brazilian schools still reproduce colonial structures, primarily through the mobilization of discourses from modern science. Nevertheless, the analysis also uncovered the emergence of counter-hegemonic meanings, which operate through the valorization of Brazilian fossil heritage. Future research directions include: analyzing marks of scientific coloniality in the teaching of Paleontology within other Brazilian contexts; extending the inquiry beyond national borders for comparative studies; and investigating the theme in other disciplines within Science Education
Collections
- Dissertações [1040]