O trabalho penitenciário cooperativado : cooperativismo popular e menor elegibilidade na trajetória de apenados e egressos do sistema penal
Resumo
Resumo: Trata-se de pesquisa qualitativa que busca compreender os possíveis significados sociocriminológicos que surgem da interação entre o trabalho de cooperativas populares compostas por apenados e egressos do sistema penal – empreendimentos que podem ser descritos simplesmente como cooperativas penitenciárias – e o princípio da menor elegibilidade. Essa problemática é enfrentada a partir de um estudo de caso focado em duas cooperativas do gênero, quais sejam, a Cooperativa Social Mista de Trabalhadores João-deBarro (Cootrajoba), proveniente de Pedro Osório-RS e a Cooperativa de Trabalho Construindo Sonhos (Cooperconstrução), oriunda de Blumenau-SC. Partindo das proposições da economia política da pena, a investigação objetiva explicar os modos diversos pelos quais a menor elegibilidade marca as experiências laborais de pessoas com experiência de apenamento, mas também busca elucidar as estratégias cooperativas de enfrentamento do problema. A hipótese que a pesquisa pretende testar postula que a organização cooperativa do trabalho de apenados e egressos do sistema penal é capaz de mitigar as privações e desobstruir alguns dos limites ditados pelo princípio da menor elegibilidade no que tange ao campo laboral, oportunizando a transformação para melhor da biografia desses trabalhadores, ainda que prescinda de metas inerentes à ideologia correcionalista, hoje em crise. Nesse sentido, mesmo que não estejam livres de contradições e limitações conjunturais, as cooperativas do gênero podem contrapor os efeitos da menor elegibilidade no âmbito do trabalho penitenciário, produzindo condições materialmente superiores ao patamar de exclusão produzido pelo encarceramento, a partir de cinco vetores de nivelamento: trabalho, renda, ofício, ocupação e remição. Quanto às técnicas de investigação, além da revisão das fontes pertinentes (bibliográficas e documentais), a pesquisa emprega entrevistas individuais com roteiros semiestruturados. São dois os grupos de participantes que compõem a amostra (não probabilística) dos entrevistados: trabalhadores cooperados e apoiadores externos, ambos os grupos relacionados aos empreendimentos que demarcam o recorte do estudo de caso. As entrevistas visam produzir dados objetivos, mas também evocar memórias, instigar reflexões e impressões e captar as representações, individuais e coletivas, que orbitam o percurso dos empreendimentos estudados, as experiências dos participantes e as perspectivas laborais dos cooperados com passagem pelo sistema penal. Ao todo, o estudo apresenta dezessete entrevistas, seis delas com o grupo dos apoiadores e onze com o grupo dos cooperados. No conjunto, a investigação permite demonstrar, por um lado, os efeitos determinantes do princípio da menor elegibilidade sobre as iniciativas de cooperativismo penitenciário, mas também, sob outro ângulo, a ação transformadora do trabalho penitenciário cooperativo sobre as restrições materiais e ideológicas relacionadas à menor elegibilidade em um específico contexto espacial (periférico-dependente) e temporal (neoliberal) Abstract: This is a qualitative study that seeks to understand the possible socio-criminological meanings that arise from the interaction between the work of popular cooperatives composed of convicts and former inmates of the penal system – enterprises that can be described simply as penitentiary cooperatives – and the principle of less eligibility. This issue is addressed through a case study focused on two cooperatives of this type, namely, the Cooperativa Social Mista de Trabalhadores João-de-Barro (Cootrajoba), from Pedro Osório-RS, and the Cooperativa de Trabalho Construindo Sonhos (Cooperconstrução), from Blumenau-SC. Based on the propositions of the political economy of punishment, the research aims to explain the different ways in which less eligibility marks the work experiences of people with experience of imprisonment, but also seeks to elucidate the cooperative strategies for dealing with the problem. The hypothesis that the research aims to test postulates that the cooperative organization of the work of inmates and former inmates of the penal system is capable of mitigating deprivation and removing some of the limits imposed by the principle of less eligibility in the labor field, providing an opportunity for the transformation for the better of the biographies of these workers, even without goals inherent to the correctionalist ideology, which is currently in crisis. In this sense, even though they are not free from contradictions and circumstantial limitations, cooperatives of this type can counter the effects of less eligibility in the context of prison work, producing conditions that are materially superior to the level of exclusion produced by incarceration, based on five leveling vectors: work, income, craft, occupation and remission. As for the research techniques, in addition to the review of pertinent sources (bibliographic and documentary), the research uses individual interviews with semistructured scripts. There are two groups of participants that make up the (non-probabilistic) sample of interviewees: cooperative workers and external supporters, both groups related to the enterprises that demarcate the scope of the case study. The interviews aim to produce objective data, but also to evoke memories, instigate reflections and impressions, and capture the individual and collective representations that orbit the path of the enterprises studied, the experiences of the participants, and the work perspectives of the cooperative members who have passed through the penal system. In total, the study presents seventeen interviews, six of them with the group of supporters and eleven with the group of cooperative members. Overall, the research allows us to demonstrate, on the one hand, the determining effects of the principle of less eligibility on penitentiary cooperative initiatives, but also, from another angle, the transformative action of cooperative prison work on the material and ideological restrictions related to less eligibility in a specific spatial (peripheral-dependent) and temporal (neoliberal) context Resumen: Se trata de una investigación cualitativa que busca comprender los posibles significados sociocriminológicos que surgen de la interacción entre el trabajo de cooperativas populares integradas por presos y ex presos –empresas que pueden ser descritas simplemente como cooperativas penitenciarias– y el principio de menor elegibilidad. Esta problemática se aborda a través de un estudio de caso centrado en dos cooperativas de este tipo, a saber, la Cooperativa Social Mista de Trabalhadores João-de-Barro (Cootrajoba), de Pedro Osório-RS y la Cooperativa de Trabalho Construindo Sonhos (Cooperconstrução), de Blumenau-SC. Basándose en las proposiciones de la economía política del castigo, la investigación pretende explicar las diferentes formas en que la menor elegibilidad marca las experiencias laborales de las personas con experiencia de castigo, pero también busca dilucidar estrategias cooperativas para abordar el problema. La hipótesis que la investigación pretende probar postula que la organización cooperativa del trabajo de presos y ex presos es capaz de mitigar la privación y remover algunos de los límites dictados por el principio de menor elegibilidad en el campo laboral, proporcionando una oportunidad para la transformación para mejor de la biografía de estos trabajadores, incluso sin objetivos inherentes a la ideología correccionalista, actualmente en crisis. En este sentido, si bien no están libres de contradicciones y limitaciones circunstanciales, las cooperativas de este tipo pueden contrarrestar los efectos de la menor elegibilidad en el contexto del trabajo penitenciario, produciendo condiciones materialmente superiores al nivel de exclusión que produce el encarcelamiento, a partir de cinco vectores niveladores: trabajo, ingreso, profesión, ocupación y remisión. En cuanto a las técnicas de investigación, además de la revisión de fuentes relevantes (bibliográficas y documentales), la investigación utiliza entrevistas individuales con guiones semiestructurados. Son dos los grupos de participantes que conforman la muestra (no probabilística) de entrevistados: trabajadores de las cooperativas y colaboradores externos, ambos grupos relacionados con las empresas que delimitan el ámbito del caso de estudio. Las entrevistas pretenden producir datos objetivos, pero también evocar recuerdos, instigar reflexiones e impresiones y captar las representaciones individuales y colectivas que orbitan la trayectoria de los emprendimientos estudiados, las vivencias de los participantes y las perspectivas de trabajo de los cooperativistas que han pasado por el sistema penal. En total, el estudio presenta diecisiete entrevistas, seis de ellas con el grupo de simpatizantes y once con el grupo de cooperativistas. En general, la investigación permite demostrar, por una parte, los efectos determinantes del principio de menor elegibilidad sobre las iniciativas de cooperación penitenciaria, pero también, desde otro ángulo, la acción transformadora del trabajo cooperativo penitenciario sobre las restricciones materiales e ideológicas relacionadas con la menor elegibilidad en un contexto espacial (periféricodependiente) y temporal (neoliberal) específico
Collections
- Teses [336]