Práticas-experiências de leitura escolar e acadêmica de estudantes guineenses da UNILAB

Abstract

Resumo: A presente dissertação enquadra-se no campo da Linguística Aplicada Crítica (LAC) (Moita Lopes, 2006; Kleiman, 2013; Fabrício, 2006; Pennycook, 2006). Nela, compreendemos a leitura como uma prática social, perspectiva hoje predominante nos estudos de LA (Kleiman, 2004; Moita Lopes 1996; Rojo, 2004; Gomes, 2017, 2020), da abordagem ideológica de leitura (Street, 2014) e da perspectiva do letramento crítico (Souza, 2011). Sendo assim, este trabalho tem como objetivo geral investigar práticas-experiências de leitura escolar e acadêmica de estudantes guineenses da UNILAB. Para isso, traçamos os seguintes objetivos específicos: (i) Analisar práticas-experiências de leitura de estudantes guineenses da UNILAB no ensino básico e secundário na Guiné-Bissau; (ii) Discutir práticas-experiências de leitura acadêmica de estudantes guineenses nas disciplinas Leitura e Produção de Texto 1 e 2 e, (iii) Identificar as estratégias de leitura mobilizadas por estudantes guineenses da UNILAB nas práticas de letramento acadêmico. O estudo fundamenta-se nos novos estudos de letramentos (Lea; Street, 1998, 2014; Street, 2010, 2003;), letramentos acadêmicos (Botelho, 2022, 2024; Fischer e Pelandré 2010), letramentos críticos (Janks, 2010, 2018; Sardinha, 2017; Souza, 2011; Jordão, 2016; Takaki, 2012), Soares (2003, 2009) e Kleiman (2004; 2007; 2013). Adotamos o método participante (Gil, 2002), como base que conduz o processo de registro dos materiais de análise e a abordagem qualitativa-interpretativista (Moita Lopes, 1994; Moita Lopes e Fabrício, 2019), como princípio de análise e interpretação dos registros. O corpus de análise foi registrado em duas fases: primeiro através do Google forms aplicamos um questionário semiestruturado; no segundo abrimos um formulário (Google forms), que denominamos "formulário de entrevista" e realizamos a entrevista de explicitação (Dias e Luccio, 2009). Ao todo colaboraram dezanove (19) estudantes guineenses de diferentes cursos de licenciatura da UNILAB (contando os/as que colaboraram nas duas fases e que só participaram em uma fase). Em relação às práticas-experiências de leitura desses/as estudantes no contexto de ensino básico e secundário, o resultado nos mostra que a maioria desses/as estudantes vivenciou práticas-experiências baseadas na perspectiva da alfabetização tradicional e do modelo autônomo de letramentos, cuja ênfase era decodificação dos signos materializados nos textos (livros didáticos), interpretação linear e literal dos textos lidos e o desenvolvimento da capacidade de leitura em voz alta. Isso nos faz acreditar que a alfabetização não é tomada como uma das práticas dos letramentos. Em vista disso, compreendemos que o sistema de ensino guineense precisa pensar abordagens de ensino da leitura a partir do modelo ideológico de letramentos proposto pelo Street, pois o ensino mecanicista e autônomo, baseado na coerção, além de não contribuir na formação de leitores/as críticos reflexivos, capazes de ler se lendo e lendo as suas realidades socioculturais, não ajuda o/a aprendiz a construir afetividade e gosto pela leitura. No que refere ao contexto acadêmico, a maioria dos/as estudantes descreveu práticas-experiências de leituras nas disciplinas de LPT 1 e 2 focadas nas abordagens da escrita acadêmica, nomeadamente ensino das estruturas básicas dos gêneros, suas funcionalidades e como escrever esses gêneros. Com isso, compreendemos que a prática do ensino da leitura é uma dimensão escondida nessas disciplinas, uma vez que se baseia no "modelo autônomo" e dá "habilidades de estudo". Sendo assim, é importante que as práticas metodológicas desenvolvidas nas disciplinas LPT 1 e 2 não se preocupem unicamente, em ensinar os/as recém-ingressos/as a conhecer as estruturas dos gêneros acadêmicos e como escrever esses textos, mas pensar suas práticas a partir do modelo de letramento acadêmico defendido por Street e das abordagens do letramento crítico, considerando assim a leitura, escrita e oralidade como práticas sociais, que além possuir suas especificidades, são indissociáveis e fundamentais para os/as estudantes compreenderem as suas leituras e participarem ativamente no/do processo de construção e compartilhamento dos aprendizados

Abstract: This dissertation falls within the field of Critical Applied Linguistics (CAL) (Moita Lopes, 2006; Kleiman, 2013; Fabrício, 2006; Pennycook, 2006). We understand reading as a social practice - a perspective that currently predominates in Applied Linguistics studies (Kleiman, 2004; Moita Lopes 1996; Rojo, 2004; Gomes, 2017, 2020), from the ideological approach to reading (Street, 2014) and the perspective of critical literacy (Souza, 2011). Therefore, this work generally aims to investigate reading practices-experiences of guinean students at UNILAB in both school and academic contexts. To achieve this, we outline the following specific objectives: (i) Analyze reading practices-experiences of guinean students at UNILAB in basic and secondary education in Guiné-Bissau; (ii) Discuss academic reading practices-experiences of guinean students in the disciplines Reading and Text Production 1 and 2; and (iii) Identify the reading strategies employed by guinean students at UNILAB in their academic literacy practices. The study is grounded in theories of new literacy studies (Lea; Street, 1998, 2014; Street, 2010, 2003), critical literacies (Janks, 2010, 2018; Sardinha, 2017; Souza, 2011; Jordão, 2016; Takaki, 2012), Soares (2003, 2009), and Kleiman (2004; 2007; 2013). We adopt the participant method (Gil, 2002) as the basis for recording analysis materials, and the qualitative-interpretative approach (Moita Lopes, 1994; Moita Lopes and Fabrício, 2019) as the principle for analysis and interpretation of records. The corpus of analysis was registered in two phases: first, through Google Forms, we applied a semi-structured questionnaire; in the second, we opened a form (Google Forms), which we called the "interview form", and conducted the explicitation interview (Dias and Luccio, 2009). A total of nineteen (19) guinean students from different undergraduate courses at the same refering university participated (counting those who collaborated in both phases and those who only participated in one phase). Regarding the reading practices-experiences of these students in the context of basic and secondary education, the results show that most of these students experienced practices-experiences based on the traditional literacy perspective and the autonomous model of literacies, which emphasized the decoding of signs materialized in texts (textbooks), linear and literal interpretation of read texts, and the development of the ability to read aloud. This leads us to believe that literacy is not considered one of the practices of literacies. Thus, we understand that the guinean education system needs to rethink the teaching approach of reading by Street ideological model of literacies. Mechanistic and autonomous teaching, based on coercion, not only fails to contribute to the formation of critical reflective readers capable of reading themselves and their socio-cultural realities but also does not help learners build affection and a taste for reading. In the academic context, most students described reading practices-experiences in the LPT1 and 2 disciplines focused on the approaches to academic writing, namely teaching the basic structures of discourse genres, their functionalities, and how to write these genres. Thus, we understand that the practice of teaching reading is a hidden dimension in these disciplines, as it is based on the autonomous model and provides study skills. Therefore, it is important that the methodological practices developed in the LPT1 and 2 disciplines do not worry solely about teaching newcomers to master the structures and writing of academic genres, but think about their practices based on the academic literacy model defended by Street and the approaches of critical literacy, thus considering reading, writing and orality as social, specific and inseparable practices, fundamental for students to understand their readings and actively participate in the process of constructing and sharing learning