Design e cinema : uma análise da atuação do design na formação da subjetividadepolítica, a partir dos filmes

Abstract

Resumo: Desde o início do século XX, o design almejou se tornar um campo autônomo e se inclinou a uma prática de orientação tecno-científica ligada à produção industrial e às ciências da comunicação. Neste mesmo período se desenvolveram, no contexto do cinema, pesquisas que criticaram os efeitos dos filmes na cultura, como por exemplo a teoria crítica frankfurtiana e as abordagens que derivaram dela. Essas pesquisas criticaram o cinema por conformar uma indústria cultural que produz e reforça modos de vida por meio da comunicação de massa. Observa-se, nas duas propostas acima citadas, dois imaginários que colocam os campos do design e do cinema dentro de uma oposição que é vista, nesta tese, como um problema, pois tensiona o debate sobre a formação da subjetividade política a partir dos filmes a uma oposição que, não raro, se torna antagônica. Para investigar essa questão, esta pesquisa adotou a postura pós-estruturalista, que observa com desconfiança tanto a teoria crítica quanto a perspectiva da prática de orientação tecno-científica. Sob a postura acima citada, o objetivo dessa tese foi o de analisar a participação do design na formação da subjetividade política a partir dos filmes. O método adotado para essa investigação foi um misto de pesquisa histórica com análise fílmica. A primeira parte da tese procurou situar as maneiras pelas quais se pode tratar a relação entre design e cinema a partir da contextualização dos significados que os termos receberam através do tempo, e apresenta algumas abordagens de estudos do cinema que se alinham à postura adotada aqui adotada. Na sequência, ampliou-se o horizonte de análise para situar o design e o cinema no contexto dos estudos das visualidades, e teve-se como foco a investigação das noções de dispositivo e tecnologia na formação da subjetividade. Essa empreitada fundamentou a maneira pela qual a pesquisa trata, na segunda parte do trabalho, de três regimes do imaginário denominados nesta tese de imaginários hodiernos. O tratamento se voltou para o mapeamento das principais ideias que se propuseram a explicar a subjetividade política no período moderno e contemporâneo. Os resultados permitiram delimitar três imaginários, denominados de posição, (o)posição e (ex)posição, que foram úteis a esta tese para compreender como os valores presentes nesses imaginários se apresentam na cultura e formam a subjetividade política, a partir da análise de quatro filmes contemporâneos. Como resultado, concluiu-se que dois desses imaginários tendem a manter noções universais fundamentais à teoria crítica e à prática de orientação tecno-científica, que cristalizaram a oposição pela qual a relação entre o design, o cinema e a formação da subjetividade vem sendo pensada nas sociedades ocidentais. Esta tese acrescenta a esses dois imaginários a perspectiva da (ex)posição, que não se limita à oposição cristalizada e pode expor os sujeitos a outras possibilidades transformadoras de sua subjetividade política, a partir dos filmes, assim como oferece outra maneira de pensar a relação entre o design, o cinema e a formação da subjetividade.

Abstract: Since the beginning of the 20th century, design has sought to become an autonomous field and has leaned towards a technoscientific practice linked to industrial production and communication sciences. During this same period, research was developed in cinema that criticized films' effects on culture - for example, Frankfurt's critical theory and the approaches that derive from it. These studies criticize cinema for forming a cultural industry that produces and reinforces ways of life through mass communication. In the two proposals mentioned above, we can observe two imaginaries that place the fields of design and cinema within an opposition that is seen, in this thesis, as problematic, as it tensions the debate on the formation of political subjectivity through films, an opposition that often becomes antagonistic. To investigate this issue, this research adopted a poststructuralist stance, which views both critical theory and the perspective of technoscientific practice with suspicion. Based on the poststructuralist stance, this thesis aimed to analyze design's role in forming political subjectivity through films. The method adopted for this investigation combined historical research and film analysis. The first part of the thesis sought to situate how the relationship between design and cinema can be addressed based on contextualizing the meanings that the terms have acquired over time and presents some approaches to film studies that align with the stance adopted in the thesis. The analysis was then expanded to situate design and cinema in the context o f visual studies and focused on investigating the notions o f devices and technology in the formation of subjectivity. This effort underpinned how the research deals, in the second part o f the work, with three regimes o f the imaginary referred to in this thesis as contemporary imaginaries. The treatment focused on mapping the main ideas proposed to explain political subjectivity in the modern and contemporary periods. The results allowed us to delimit three imaginaries, called position, (o)position, and (ex)position, which were useful for this thesis to understand how the values within these imaginaries are presented in culture and form political subjectivity, based on the analysis of four contemporary films. As a result, it was concluded that two of these imaginaries attempt to maintain universal notions fundamental to critical theory and technoscientific-oriented practice, which have crystallized the opposition through which the relationship between design, cinema, and the formation o f subjectivity has been thought in Western societies. This thesis adds to these two imaginaries the perspective of (ex)position, which is not limited to crystallized opposition and can expose subjects to other transformative possibilities o f their political subjectivity based on films, in addition to offering another way o f thinking about the relationship between design, cinema and the formation o f subjectivity.