As estrelas e os estroinas : narradoras e personagens em Amanhecer e As Três Marias

Abstract

Resumo: Consideradas exceções femininas em meio ao cenário ficcional e intelectual dos anos 30, Rachel de Queiroz (1910-2003) e Lúcia Miguel Pereira (1901-1959) tematizaram a condição da mulher e outras desigualdades sociais de seu tempo em seus romances. Contrariando as classificações geracionais que tanto as separaram, nesta pesquisa comparamos Amanhecer (PEREIRA, 1938) e As três Marias (QUEIROZ, 1939), ambos narrados em primeira pessoa por protagonistas femininas. Nosso objetivo é analisar como as autoras construíram suas narradoras e suas personagens em prol de suas ficções, compreendendo ainda quais distâncias morais e físicas são estabelecidas nos textos. Para tanto, consideramos as proposições teóricas de Wayne C. Booth, em A retórica da ficção (1983), especialmente quanto à relação entre narração, personagens e autoria implícita, além das propostas de Antonio Candido (1976), Anatol Rosenfeld (1976), Cândida Vilares Gancho (2004) e Lúcia Osana Zolin (2009), que nos auxiliam nos estudos das personagens. Portanto, a partir do foco nessa relação entre as narradoras e suas personagens, nossa concepção é que, entre outros resultados, as autoras construíram suas personagens femininas com maior complexidade, enquanto as personagens masculinas são enfraquecidas e entrevistas, aspecto fundamental para o tom dos dois romances. Por fim, nossas análises visam ainda contribuir para um resgate das ficções de Queiroz e Pereira, tendo em vista os estereótipos geracionais ainda persistentes sobre seus textos.

Abstract: Considered female exceptions in the fictional and intellectual scenario of the 1930s, Rachel de Queiroz (1910-2003) and Lúcia Miguel Pereira (1901-1959) thematized, in their novels, the women’s condition and other social inequalities of their time. Contrary to the generational classifications that separated them, in this research we compare Amanhecer (PEREIRA, 1938) and As três Marias (QUEIROZ, 1939), both narrated in first person by female protagonists. Our objective is to analyze how the authors built their narrators and their characters for the sake of their fictions, also understanding which moral and physical distances are set in these works. Therefore, we consider the theoretical propositions of Wayne C. Booth, in The rhetoric of fiction (1983), especially regarding the relationship between narrators, characters and implied authors, in addition to the proposals of Antonio Candido (1976), Anatol Rosenfeld (1976), Cândida Vilares Gancho (2004) and Lúcia Osana Zolin (2009), that support our characters studies. Therefore, from the focus on this relationship between the narrators and their characters, we believe that, among other results, the authors built their female characters with greater complexity, while the male characters are weakened, fundamental aspect to the novels’ rethorics. Finally, our analysis also aims to contribute to revive the fictions of Queiroz and Pereira, in view of the persistent generational stereotypes about their works.