A produção da evasão escolar das alunas no ensino fundamental e médio : gênero, raça e a travessia da Covid-19

Abstract

Resumo: A presente pesquisa tem como objeto de investigação a evasão escolar das alunas que estudam no Ensino Fundamental (Anos Finais) e Ensino Médio em municípios de uma Comarca localizada no sul do Paraná, analisando se houve diferença no número de estudantes nessa condição, no seu perfil e nos motivos da evasão antes e durante a pandemia do Covid-19. Para tanto, analisamos os dados constados no Questionário Evasão Escolar e os dados das trajetórias escolares dos anos de 2019, 2021 e 2022. O problema de pesquisa que buscamos responder é: houve impactos da Covid-19 na evasão escolar das alunas e os marcadores gênero, raça e classe impactam a sua produção? Como instrumentos de pesquisa, utilizamos a pesquisa documental e a entrevista semiestruturada, analisando de forma interseccional, o impacto do gênero, da raça e da trajetória escolar na produção da evasão das alunas. Os resultados mostraram uma ausência de pesquisas sobre evasão escolar. Também apontam para uma multiplicidade de leis, diretrizes e demais documentos produzidos tanto em esferas nacionais quanto estaduais que regulamentam o controle da frequência, mas que não têm tido sucesso em garantir a permanência e a aprendizagem. O percentual de alunas em situação de evasão escolar no ano de 2019 é de 44,3%, em 2021 foi de 29% e em 2022 refere-se a 35,3%. Apesar de termos uma queda na evasão no período da pandemia, a mudança nos critérios de frequência pode ter causado essa diminuição. As análises do perfil racial mostram uma condição desfavorável que permanecesse para as alunas negras: em 2019 o índice é de 56% de alunas brancas e 44% negras, em 2021 temos 57% de brancas e 43% negras e em 2022 56% de alunas brancas e 44 % de alunas negras. É importante destacar que em 2018 ano em que conseguimos os dados o percentual de alunas negras nas escolas da região pesquisada era de "16,5%". Os motivos mais frequentes de evasão foram divididos em duas categorias: o cuidado que abarca o casamento, gravidez, maternidade, cuidado com pessoas da família, companheiro não permite e doença na família e esse foi um motivo recorrente: 2019 com 34,2%; 2021 33,2% e em 2022 13,9%. O desinteresse supera o cuidado em 2021 (80%) e se iguala em 2022, o que pode ser explicado pela forma como se estruturou o ensino remoto emergencial - ERE e o próprio cenário da pandemia. Essa condição compõe a trajetória de fracasso escolar, segunda categoria analisada, com informações sobre a reprovação, problemas de aprendizagem, reprovação por frequência ou desistência, desinteresse, transferência e remanejamento. Em 2019, a reprovação por frequência aparece com um percentual de 55,2%, em 2021 66,6% e em 2022 o percentual foi 20,9%. Nota-se que, no período do ERE, houve um aumento do abandono. Na reprovação por nota, em 2019 com 51,5%; 2021 inexistente e em 2022 o percentual foi de 2,3%, sendo que a diminuição nos dois últimos anos pôde ter sido produzida pela mudança nos critérios de avaliação. Uma outra condição analisada foi estar em condição de dificuldade de aprendizagem: em 2019, foi sinalizado por 40,2% das alunas, em 2021 33,3% das alunas e em 2022, por 48,8%. Essa condição de fracasso escolar mostra que antes da evasão já havia um histórico de não aprendizagem. Também apontamos que a pandemia não produziu um perfil diferente nas alunas, mas houve alguns deslocamentos nos motivos, principalmente ao que diz respeito aos desinteresses. Apesar disso, os dados aqui apresentados mostram que a evasão das alunas é um fenômeno produzido pelo fracasso escolar e por ausência de políticas e ações que considerem o gênero e a raça. Por isso, reafirmamos que a trajetória de fracasso escolar mostra que essas alunas não se evadem, mas são expulsas do direito à Educação.

Abstract: The present research has as its object of investigation the school dropout of students who study in Elementary School (Final Years) and High School in municipalities in a district located in the south of Paraná, analyzing whether there was a difference in the number of students in this condition, in their profile and the reasons for evasion before, during and after the Covid-19 pandemic. To this end, we analyzed the data contained in the School Dropout Questionnaire and data from school trajectories for the years 2019, 2021 and 2022. The research problem we seek to answer is: were there impacts of Covid-19 on student dropout rates and whether gender markers, race and class impact your production? As research instruments, we used documentary research and semi-structured interviews, analyzing it in an intersectional way, the impact of gender, race and school trajectory in the production of student dropout. The results showed a lack of research on school dropout. They also point to a multiplicity of laws, guidelines and other documents produced at both national and state levels that regulate attendance control, but which have not been successful in guaranteeing retention and learning. The percentage of students who dropped out of school in 2019 was 44.3%, in 2021 it was 29% and in 2022 it was 35.3%. Although, we saw a drop in dropouts during the pandemic, the change in attendance criteria may have caused this decrease. Analysis of the racial profile shows an unfavorable condition that remains for black students: in 2019 the rate is 56% white students and 44% black, in 2021 we have 57% white and 43% black and in 2022 56% female students white and 44% black students. It is important to highlight that in 2018, the year in which we obtained the data, the percentage of black students in schools in the region was "16.5%". The most frequent reasons for evasion were divided into two categories: care covering marriage, pregnancy, motherhood, caring for family members, partner not allowing it and illness in the family, and this was a recurring reason: 2019 with 34.2%; 2021 33.2% and in 2022 13.9%. Lack of interest exceeds care in 2021 (80%) and is equal in 2022, which can be explained by the way emergency remote teaching - ERT - was structured and the pandemic scenario itself. This condition makes up the trajectory of school failure, the second category analyzed, with information about failure, learning problems, failure due to attendance or dropout, lack of interest, transfer and relocation. In 2019, failure due to attendance appears at a percentage of 51.5%, in 2021 66.6% and in 2022 the percentage was 20.9%. It is noted that during the ERT period there was an increase in abandonment. In failure due to grade in 2019 with 55.2%; 2021 non-existent and in 2022 the percentage was 2.3%, with the decrease in the last two years being produced by the change in evaluation criteria. Another condition analyzed was having learning difficulties: in 2019 it was reported by 40.2% of students, in 2021 by 33.3% of students and in 2022 by 48.8%. This condition of school failure shows that before the dropout there was no learning. We also point out that the pandemic did not produce a different profile among the students, but there were some shifts in reasons, especially with regard to lack of interest. Despite this, the data presented here show that student dropout is a phenomenon produced by school failure and the absence of policies and actions that consider gender and race. Therefore, we reaffirm that the trajectory of school failure shows that these students do not drop out but are expelled from the right to Education.