As mulheres na revista

Abstract

Resumo: Essa pesquisa buscou analisar os discursos sobre e para as mulheres na revista Correio dos Ferroviários, a fim de compreender de que forma a revista se posicionava em relação à questão feminina entre 1933 e 1946. A referida revista era um órgão da Rede de Viação Paraná Santa Catarina (RVPSC) e sua trajetória estendeu-se de 1933 a 1973, com produção, edição, direção e distribuição organizadas por trabalhadores da empresa. O recorte temporal da pesquisa foi determinado por questões inerentes à produção da revista, com destaque para a mudança na forma de financiamento durante sua trajetória. O surgimento e a circulação da revista ocorreram durante um contexto nacional marcado por importantes transformações. No período em análise, o Brasil vivia a Era Vargas (1930-1945), um período de significativas repercussões na esfera do trabalho e nas políticas sociais do governo Vargas, que via a família como a base da sociedade. Durante esse tempo, a discussão sobre os papéis femininos tornou-se proeminente. As mudanças trazidas pela industrialização, urbanização e a Primeira Guerra Mundial, bem como a pressão dos movimentos feministas para a inclusão das mulheres na esfera pública e no mercado de trabalho, trouxeram à tona a "questão feminina". Na Era Vargas, as mulheres foram colocadas em um papel central como responsáveis pelos cuidados com as crianças e o lar, contribuindo para a estabilidade social. Nesse cenário de disputas sobre os papéis femininos, a pesquisa analisou como uma revista de classe, alinhada aos interesses do governo Vargas, abordou as mulheres, com foco nas representações da maternidade e do casamento. A revista, como um veículo de representações sociais, produziu e circulou ideias e desejos, influenciando a construção de sentidos e identidades. O trabalho foi dividido em cinco capítulos. Após o capítulo introdutório, o segundo capítulo analisa aspectos da formação do movimento de trabalhadores entre o final do século XIX e meados da década de 1930, destacando a categoria dos ferroviários como uma das mais atuantes nas mobilizações e ações em prol de direitos para os trabalhadores. Também são abordadas as mudanças nas relações entre governo e trabalhadores com o início da Era Vargas. O surgimento da revista nesse período foi percebido em nossa análise como um elemento de mobilização dos ferroviários da RVPSC e de articulação dos ferroviários da RVPSC no diálogo com os governos local e nacional. Também se evidenciou o uso político da revista a nível institucional pelo grupo de ferroviários que integrava a equipe editorial. No terceiro capítulo, analisamos aspectos gráficos e editoriais da revista, mapeando suas principais seções e colaboradores na primeira fase. No quarto capítulo são analisadas as representações das mulheres na revista. O referencial teórico abarca autores como Michelle Perrot, Margareth Rago, Rachel Sohiet, Joan Scott e Roger Chartier, entre outros.

Abstract: This research sought to analyze the discourses about and for women in the magazine Correio dos Ferroviários, in order to understand how the magazine positioned itself in relation to women's issues between 1933 and 1946. The magazine was a body of the Rede de Viação Paraná Santa Catarina (RVPSC) and its trajectory extended from 1933 to 1973, with production, editing, management and distribution organized by employees of the company. The time frame of the research was determined by issues inherent to the production of the magazine, with emphasis on the change in the form of financing during its trajectory. The emergence and circulation of the magazine occurred during a national context marked by important transformations. During the period under analysis, Brazil was experiencing the Vargas Era (1930-1945), a period of significant repercussions in the sphere of work and in the social policies of the Vargas government, which saw the family as the basis of society. During this time, the discussion about women's roles became prominent. The changes brought about by industrialization, urbanization, and the First World War, as well as the pressure from feminist movements for the inclusion of women in the public sphere and the labor market, brought the "women’s question" to the fore. During the Vargas Era, women were placed in a central role as those responsible for caring for children and the home, contributing to social stability. In this scenario of disputes over women’s roles, the research analyzed how a class magazine, aligned with the interests of the Vargas government, approached women, focusing on representations of motherhood and marriage. As a vehicle for social representations, the magazine produced and circulated ideas and desires, influencing the construction of meanings and identities. The work was divided into five chapters. After the introductory chapter, the second chapter analyzes aspects of the formation of the workers’ movement between the end of the 19th century and the mid-1930s, highlighting the category of railroad workers as one of the most active in mobilizations and actions in favor of workers’ rights. The changes in relations between the government and workers with the beginning of the Vargas Era are also addressed. The emergence of the magazine during this period was seen in our analysis as an element of mobilization of the railway workers of the RVPSC and of articulation of the railway workers of the RVPSC in the dialogue with the local and national governments. The political use of the magazine at an institutional level by the group of railway workers who were part of the editorial team was also evident. In the third chapter, we analyze the graphic and editorial aspects of the magazine, mapping its main sections and contributors in the first phase. The fourth chapter analyzes the representations of women in the magazine. The theoretical framework includes authors such as Michelle Perrot, Margareth Rago, Rachel Sohiet, Joan Scott and Roger Chartier, among others.