Narrativas de professores negros na educação infantil do sul do Brasil : um estudo autobiográfico

Abstract

Resumo: Esta pesquisa tem como objetivo investigar a inserção e permanência de homens negros na Educação Infantil, a partir das experiências de três professores negros que atuam no Sul do Brasil, analisando os impactos do racismo e sexismo nas interações nesse ambiente. O conceito de interseccionalidade desenvolvido por Kimberlé Crenshaw em 1989 será utilizado como ferramenta analítica por sua capacidade de possibilitar compreender como a discriminação racial e de gênero se entrelaçam, produzindo e/ou potencializando exclusões. Ainda que a interseccionalidade tenha sido desenvolvida para analisar as inúmeras situações de exclusão e violência que operam sobre mulheres negras cisgêneras, entendo, a partir das problematizações feitas por Megg Rayara Gomes de Oliveira (2017), que essa ferramenta pode ser utilizada para analisar múltiplos marcadores sociais e assim produzir uma compreensão mais completa dos sujeitos. O método (auto)biográfico desenvolvido pelo pesquisador Márcio Caetano (2016) foi adotado por possibilitar uma análise mais ampla do indivíduo, considerando a formação da identidade como um processo relacional, conectando biografias a outras histórias de vida que exploram a construção e reconstrução de redes sociais, bem como a criação de identidades individuais e coletivas. As (auto)biografias são utilizadas para atingir os seguintes objetivos: I) Analisar o trajeto educacional de professores negros, procurando entender como se deu sua capacitação para atuar na Educação Infantil. II) Investigar os desafios e oportunidades enfrentados durante a formação para atuar na Educação Infantil. III) Compreender o impacto da presença e identidade racial desses homens negros na dinâmica da equipe e no desenvolvimento das crianças na Educação Infantil. As narrativas desses professores revelam o conceito de "fracasso" como uma oportunidade para desafiar o racismo e sexismo, contribuindo para uma compreensão mais profunda das complexidades dessas questões na sociedade.

Abstract: This research aims to investigate the insertion and retention of black men in Early Childhood Education, with a special focus on the experiences of three black teachers from the South of Brazil, analyzing the impacts of racism and sexism on interactions in this environment. Intersectionality, a crucial concept developed by Kimberlé Crenshaw, is highlighted for its ability to understand how racial and gender discrimination intertwine, especially affecting women of color. This tool is fundamental for this research, allowing the analysis of multiple social markers and a more complete understanding of the subjects (Megg Rayara Gomes de Oliveira, 2019). The methodology of autobiography is adopted, going beyond the central protagonist of the (auto)biographical narratives. This enables a broader representation of the individual, considering identity formation as a relational process, connecting biographies to other life stories that explore the construction and reconstruction of social networks, as well as the creation of individual and collective identities. Autobiographies are used to achieve the following objectives: I) Analyze basic education and the previous educational experiences of black teachers, training them to work in Early Childhood Education. II) Investigate the challenges and opportunities faced during training to work in Early Childhood Education. III) Understand the impact of the presence and racial identity of these black men on team dynamics and children's development in Early Childhood Education. The teachers' narratives reveal the concept of "failure" as an opportunity to challenge racism and sexism, contributing to a deeper understanding of the complexities of these issues in society. Thus, this research stands out through an extensive bibliographical research on the presence of black teachers in Early Childhood Education.