"Sabia que eu sei falar crioulo?" : uma abordagem interseccional da agência de crianças migrantes, desde bebês, no contexto da educação infantil
Resumo
Resumo: A presente dissertação tem como objetivo analisar as intersecções que produzem a agência de crianças migrantes e/ou filhas/filhos de migrantes haitianas, nos espaços e tempos de uma creche da Rede Municipal de Educação de Florianópolis/SC. A temática desta pesquisa se insere nas discussões relativas à migração infantil e as infâncias do Sul a partir dos referenciais teóricos dos campos da Educação Infantil e da Sociologia da Infância, em diálogo com as epistemologias feministas, antirracistas e decoloniais. Reconhecemos a criança como sujeita histórica, política, produtora da cultura, da história, do conhecimento e a infância enquanto uma categoria geracional sócio-histórica. De abordagem metodológica qualitativa, realizamos levantamento bibliográfico, documental e um estudo de campo etnográfico, de abordagem interpretativo-crítica e interseccional. Participaram do estudo, 3 crianças haitianas e 6 crianças brasileiras-haitianas, ou seja, crianças migrantes de 1a geração e 2a geração. A pesquisadora se inseriu e participou do cotidiano das crianças brincando, observando e registrando suas relações com outras crianças, com as adultas e com os espaços e tempos da creche. Nos utilizamos da interseccionalidade enquanto conceito e método na geração e análise dos dados para analisar a produção interseccional das agências infantis migrantes sul-sul que atualmente vivem suas infâncias no Morro do Macaco (MMC), afetadas por relações desiguais de poder que historicamente reforçam estigmas e lugares subalternizados às infâncias negras do sul. Por fim, consideramos que a produção interseccional da agência de crianças haitianas e brasileiras-haitianas são negociadas e mediadas, no contexto estudado, pelos seguintes marcadores sociais da diferença: idade; geração; etnia; nacionalidade; e raça. Ressaltamos a importância da formação docente para a educação das relações étnico-raciais na interlocução com os estudos migratórios e sobre a presença de crianças migrantes nos contextos educacionais como elemento fulcral para a inclusão e participação das crianças negras e migrantes, desde bebês, e para a qualidade da oferta e do atendimento na Educação Infantil. Evidenciamos, ainda, que as pesquisas sobre migração infantil vêm denunciando a ausência das experiências das crianças migrantes nos estudos migratórios. Desvelamos alguns desafios da pesquisa e da geração de dados com/sobre as infâncias e, principalmente, os limites para visibilizar a agência e a participação das crianças na análise dos dados. Salientamos a interseccionalidade como ferramenta teórico-metodológica potente e relevante na construção da pesquisa e na análise crítica dos dados levantados junto às crianças migrantes, desde bebês, no contexto da Educação Infantil no Brasil Abstract: This dissertation aims to analyze the intersections that produce the agency of migrant children and/or daughters/ sons of Haitian migrants in the spaces and times of a nursery of the Municipal Education Network of Florianópolis/SC. The theme of this research is part of discussions on child migration and childhoods in the South, based on theoretical references from the fields of Early Childhood Education and the Sociology of Childhood, in dialogue with feminist, anti-racist and decolonial epistemologies. We recognize children as historical and political subjects, cultural, history, and knowledge producers, and childhood as a socio-historical generational category. Using a qualitative methodological approach, we conducted a bibliographical and documentary survey and an ethnographic field study with an interpretative-critical and intersectional approach. Three Haitian and six Brazilian-Haitian children participated in the study, i.e., first and second-generation migrant children. The researcher took part in the children's daily lives, playing, observing, and recording their relationships with other children and adults and the spaces and times of the nursery. We used intersectionality as a concept and method in the generation and analysis of the data to analyze the intersectional production of South-South migrant children's agencies who currently live their childhoods in Morro do Macaco (MMC), affected by unequal power relations that historically reinforce stigmas and subordinate places for black children from the South. Finally, we believe that the intersectional production of the agency of Haitian and Haitian-Brazilian children is negotiated and mediated in the context studied by the following social markers of difference: age, generation, ethnicity, nationality, and race. We emphasize the importance of teacher training in the education of ethnic-racial relations in interlocution with migratory studies and the presence of migrant children in educational contexts as a key element for the inclusion and participation of black and migrant children, from infancy and the quality of provision and care in Early Childhood Education. We also show that research into child migration has denounced the absence of migrant children's experiences in migration studies. We have uncovered some challenges of researching and generating data with/about children and the limits to making children's agency and participation visible in data analysis. We highlight intersectionality as a powerful and relevant theoretical-methodological tool in constructing the research and the critical analysis of the data collected from migrant children since they were babies in the context of Early Childhood Education in Brazil.
Collections
- Dissertações [1016]