Formação inicial sobre as relações de gênero e sexualidade durante o curso de pedagogia da Universidade Estadual do Paraná - Campus Paranaguá : uma análise interseccional

Abstract

Resumo: A presente pesquisa tem como finalidade analisar as percepções e implicações relacionadas aos discursos acerca das categorias e marcadores sociais da diferença de raça, sexualidade e gênero pela perspectiva de docentes universitárias/os do curso de Pedagogia da Universidade Estadual do Paranaguá – campus de Paranaguá. Esta/es profissionais desempenham um papel crucial ao formar futuros/as docentes, destinados/as principalmente atuarem em escolas públicas em Paranaguá município paranaense, tanto no potencial de questionar e tensionar quanto na possibilidade de reforçar ou negligenciar as questões aqui pontuadas e problematizadas pela lente da interseccionalidade. Não se trata de atribuir o peso ou responsabilidade exclusivamente à essas/es profissionais, mas sim de interpretar analiticamente utilizando a ferramenta do dispositivo da sexualidade de Michel Foucault e as argumentações de intelectuais negras/negros porque eles/elas (docentes universitárias/os) atuam e pensam de determinada forma e não de outra. Sendo assim, esta pesquisa, é situada a partir de chaves teóricas de intelectuais que consideram a categoria raça em suas discussões de forma interseccional como: Tanya Saunders (2017), Patricia Hill Collins (2018), Sueli Carneiro (2023), Nilma Lino Gomes (2005), Kimberlé Crenshaw (2002), entre outras. Por conseguinte, a metodologia adotada consiste em uma abordagem qualitativa e documental, pois é empregado esses dois procedimentos para coleta e discussão de dados. O primeiro refere-se, a uma análise do Projeto Político-Pedagógico (PPC) do curso em questão, o que proporcionou a compreensão de que a base epistemológica reflete concepções do dispositivo de racialidade e de sexualidade uma vez que as ementas analisadas evidenciam a reprodução da cisgeneridade heterossexual padrão, do "eu (branco) hegemônico" como norma não questionada ou categorizada. E em outro momento, a produção de dados apresentada é com base nas entrevistas semiestruturadas realizadas com três professoras e um professor responsáveis pela formação inicial de discentes do curso de Pedagogia da UNESPAR - campus de Paranaguá. As entrevistas analisadas contribuem para confirmar que as pessoas de um modo geral não estão isentas dos dispositivos de poder e que nenhum indivíduo está desvinculado das relações de poder que são alimentadas tanto pelo silêncio quanto pelos discursos, pelas práticas e pela resistência. As implicações disso no curso de Pedagogia da UNESPAR – Campus Paranaguá são constantes e concretas por ser um espaço enviesado no quesito de raça, gênero e sexualidade, categorias aqui delimitadas. Todas/os as/os interlocutoras/es docentes partem de percepções que delineiam modos de pensamento e de subjetividades cuja relação de poder/saber é intrínseca, e por sua vez, influenciam aquelas/es que as/os escutam reverberando na produção de subjetividades ocasionando por ora deslocamentos das relações de poder ou reforço da mesma no ambiente escolar e durante o processo formativo.

Abstract: The present research aims to analyze the perceptions and implications related to discourses about the social categories and markers of race, sexuality, and gender from the perspective of university professors in the Pedagogy program at the State University of Paranaguá - Paranaguá campus. These professionals play a crucial role in shaping future educators, primarily destined to work in public schools in Paranaguá, a municipality in the state of Paraná, both in their potential to question and challenge as well as in the possibility of reinforcing or neglecting the issues outlined and problematized here through the lens of intersectionality. It is not a matter of assigning the weight or responsibility exclusively to these professionals, but rather of analytically interpreting using Michel Foucault's concept of the sexuality apparatus and the arguments of black intellectuals because they (university professors) act and think in a certain way and not in another. Thus, this research is situated from theoretical frameworks of intellectuals who consider the race category in their discussions in an intersectional manner such as: Tanya Saunders (2017), Patricia Hill Collins (2018), Sueli Carneiro (2023), Nilma Lino Gomes (2005), Kimberlé Crenshaw (2002), among others. Consequently, the adopted methodology consists of a qualitative and documentary approach, as these two procedures are employed for data collection and discussion. The first involves an analysis of the Pedagogical Political Project (PPP) of the course in question, which provided an understanding that the epistemological basis reflects conceptions of the raciality and sexuality apparatus since the analyzed syllabi evidence the reproduction of standard heterosexual cisgender hegemony, of the "hegemonic (white) self" as an unquestioned or categorized norm. At another moment, the presented data production is based on semi-structured interviews conducted with three female professors and one male professor responsible for the initial training of students in the Pedagogy program at UNESPAR - Paranaguá campus. The analyzed interviews contribute to confirming that people in general are not exempt from power devices and that no individual is detached from power relations that are fueled both by silence and by discourses, practices, and resistance. The implications of this in the Pedagogy program at UNESPAR - Paranaguá Campus are constant and concrete as it is a biased space in terms of race, gender, and sexuality, categories delimited here. All the interviewed professors start from perceptions that outline modes of thought and subjectivities whose power/knowledge relation is intrinsic, and in turn, influence those who listen to them, reverberating in the production of subjectivities, causing either displacements of power relations or reinforcement of the same in the school environment and during the formative process.