A arquitetura da impunidade das empresas transnacionais de mineração no Brasil : expropriação, dependência e violação dos direitos humanos
Resumo
Resumo: A presente tese analisa os obstáculos encontrados pelas comunidades atingidas pela mineração, no Brasil, na busca pela responsabilização das empresas transnacionais pelas violações aos direitos humanos. Tal pesquisa se realiza através da escala local-global, com foco nas mudanças na organização do poder corporativo dos anos 1990-2023, e enfatiza as alternativas ao poder corporativo advindas da resistência popular. Especificamente, objetiva-se identificar os obstáculos e os padrões de repetição das violações aos direitos humanos nos conflitos socioambientais de mineração e sua relação com as práticas corporativas expropriatórias nos territórios; detectar as narrativas corporativas de apropriação e dominação na mineração difundidas no cenário global; analisar, no campo jurídico, a disputa das empresas pela agenda dos direitos humanos e suas consequências; e apresentar as resistência ao poder corporativo das empresas transnacionais enquadradas na agenda de direitos humanos e empresas. O método utilizado foi a pesquisa-militante, tendo como metodologia de levantamento de dados a assessoria jurídica popular realizada entre os anos de 2015-2022, no Coletivo de Direitos Humanos do Movimento dos Atingidos e Atingidas por Barragem, combinada com pesquisa documental, análise das políticas empresariais por meio dos think tanks do setor e revisão bibliográfica. Essa última, concentrou-se em referências críticas no campo jurídico no diálogo com a antropologia e a sociologia. Entre os resultados apresentados se destaca a constituição de uma arquitetura jurídica da impunidade, na qual a autorregulação empresarial se sobrepõe ao cumprimento dos direitos humanos em dois níveis. O primeiro, nas situações dos conflitos socioambientais, quando as empresas buscam ampliar seu controle sobre as comunidades do entorno e recorrem a um padrão de respostas da indústria da mineração às contestações sociais e ambientais, implementando práticas corporativas expropriadoras de direitos. No segundo nível, durante ou após o conflito, as corporações negociam a pressão local e a demanda dos acionistas por meio de um alinhamento discursivo que situa a empresa como responsável pela solução e não parte do conflito, compondo as narrativas de dominação, reprodutoras da dependência. Por fim, no campo jurídico, identificamos a agenda de empresas e direitos humanos, como reprodutora das políticas neoliberais, na qual mantem-se os obstáculos para responsabilização do poder corporativo, ao assegurar uma lógica de voluntariedade mantenedora da impunidade corporativa (ou, em outras palavras, da violação de direitos), ao passo que as empresas, por meio de estratégias como a responsabilidade social corporativa e as soluções negociadas, atuam em um cenário de não responsabilização em relação aos danos sociais e ambientais que causam, reproduzindo a expropriação, a dependência e as violações aos direitos humanos. E em oposição a isso, movimentos populares e organizações constroem a agenda de direitos humanos e empresas, como alternativa, centrada na busca por um novo horizonte de direitos humanos ligado à libertação dos povos. Abstract: This thesis analyzes the obstacles encountered by mining-affected communities in Brazil in their quest to hold transnational corporations accountable for human rights violations. This research is carried out on a local-global scale, focusing on the changes in the organization of corporate power in the years 1990-2023, and emphasizes the alternatives to corporate power arising from popular resistance. Specifically, the aim is to identify the obstacles and patterns of repetition of human rights violations in socio-environmental mining conflicts and their relationship with expropriatory corporate practices in the territories; to detect the corporate narratives of appropriation and domination in mining that are widespread on the global stage; to analyze, in the field of law, the dispute between companies over the human rights agenda and its consequences; and to present resistance to the corporate power of transnational companies framed in the human rights and business agenda. The method used was militant research, the methodology used to gather data was popular legal advice provided between 2015 and 2022 by the Human Rights Collective of the Movement of People Affected by Dams, combined with documentary research, analysis of business policies through the sector's think tanks and a literature review. The latter focused on critical references in the field of law in dialog with anthropology and sociology. Among the results presented is the constitution of a legal architecture of impunity, in which corporate self-regulation overrides compliance with human rights on two levels. The first is in situations of socio-environmental conflict, when companies seek to increase their control over the surrounding communities and resort to a pattern of responses by the mining industry to social and environmental protests, implementing corporate practices that expropriate rights. At the second level, during or after the conflict, corporations negotiate local pressure and shareholder demands through a discursive alignment that places the company as responsible for the solution and not part of the conflict, composing narratives of domination that reproduce dependency. Finally, in the legal field, we identified the agenda of companies and human rights as a reproducer of neoliberal policies, in which the obstacles to holding corporate power accountable are maintained, by ensuring a logic of voluntariness that maintains corporate impunity (or, in other words, the violation of rights), while companies, through strategies such as corporate social responsibility and negotiated solutions, act in a scenario of non-accountability in relation to the social and environmental damage they cause, reproducing expropriation, dependence and human rights violations. And in opposition to this, popular movements and organizations are building the human rights and business agenda as an alternative, centered on the search for a new horizon of human rights linked to the liberation of peoples. RESUMEN: Esta tesis analiza los obstáculos encontrados por las comunidades afectadas por la minería en Brasil en su intento de responsabilizar a las empresas transnacionales de las violaciones de los derechos humanos. Esta investigación se realiza a escala local-global, centrándose en los cambios en la organización del poder corporativo en los años 1990-2023, y hace hincapié en las alternativas al poder corporativo que surgen de la resistencia popular. Específicamente, se busca identificar los obstáculos y patrones de repetición de las violaciones a los derechos humanos en los conflictos socioambientales mineros y su relación con las prácticas corporativas expropiatorias en los territorios; detectar las narrativas corporativas de apropiación y dominación en minería que se extienden en el escenario global; analizar, en el campo del derecho, la disputa entre empresas por la agenda de derechos humanos y sus consecuencias; y presentar resistencias al poder corporativo de las empresas transnacionales enmarcadas en la agenda de derechos humanos y negocios. El método utilizado fue la investigación militante. utilizada para la recolección de datos fue la asesoría jurídica popular prestada entre 2015 y 2022 por el Colectivo de Derechos Humanos del Movimiento de Afectados por Represas, combinada con la investigación documental, el análisis de las políticas corporativas a través de los think tanks del sector y la revisión bibliográfica. Este último se centró en referencias críticas en el ámbito del derecho en diálogo con la antropología y la sociología. Entre los resultados presentados se encuentra la constitución de una arquitectura jurídica de la impunidad, en la que la autorregulación empresarial anula el cumplimiento de los derechos humanos en dos niveles. En primer lugar, en situaciones de conflictos socioambientales, cuando las empresas buscan aumentar su control sobre las comunidades circundantes y recurren a un patrón de respuestas de la industria minera a las protestas sociales y ambientales, implementando prácticas corporativas que expropian derechos. En el segundo nivel, durante o después del conflicto, las corporaciones negocian la presión local y las demandas de los accionistas a través de un alineamiento discursivo que coloca a la empresa como responsable de la solución y no como parte del conflicto, conformando narrativas de dominación que reproducen la dependencia. Finalmente, en el campo jurídico, identificamos la agenda de empresas y derechos humanos como reproductora de las políticas neoliberales, en la que los obstáculos para responsabilizar al poder corporativo se mantienen asegurando una lógica de voluntariedad que mantiene la impunidad corporativa (o, lo que es lo mismo, la violación de derechos), mientras que las empresas, a través de estrategias como la responsabilidad social corporativa y las soluciones negociadas, actúan en un escenario de no rendición de cuentas en relación con los daños sociales y ambientales que causan, reproduciendo la expropiación, la dependencia y las violaciones de derechos humanos. Y frente a ello, movimientos y organizaciones de base construyen la agenda de derechos humanos y empresas como alternativa, centrada en la búsqueda de un nuevo horizonte de derechos humanos vinculado a la liberación de los pueblos.
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