A redação escolar : processo e produto das classes de iniciação
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Data
1980Autor
Guimarães, Maria Ignez de Oliveira
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Resumo: Este trabalho tem como objetivo despertar a atenção dos educadores para o problema da redação, atividade peculiar no currículo do primeiro e segundo graus, com implicações mais profundas do que a simples tradução de um enunciado oral em grafias. Assim, busca verificar os princípios que orientam a ação pedagógica e se manifestam na escrita das séries iniciais, para refletir sobre as prováveis causas da atitude de desinteresse pelo trabalho escrito, revelada nas produções estereotipadas e de baixa qualidade das classes mais avançadas. Caracterizou-se a redação como um processo singular em que o emissor deve recriar linguisticamente, para um receptor a distância, os fatos, as emoções e sentimentos de uma situação cultural, efetivando os propósitos de sua comunicação. Como atividade típica de desempenho, cujo estudo ainda está por merecer atenção maior da Linguística, da Psicolinguística e da Sociolinguística, as produções escritas deverão apresentar extremas variações para os alunos de uma mesma turma, que se devem, não só ao caráter por excelência criativo de cada ato de fala, mas também às notáveis diferenças nos hábitos de linguagem das crianças, como produto das experiências a que estiveram expostas nas transações próprias de cada ambiente sociocultural. Tendo em vista que a produção escrita exige um comportamento verbal com formas linguisticamente explícitas, que se afasta dos padrões de comunicação oral das classes menos favorecidas, cuja representatividade é cada vez maior nas escolas públicas dos centros urbanos, a pesquisa procurou verificar a realidade do ensino atual da redação, que enfrenta o problema de levar todos os alunos à criação autônoma e singular de um texto efetivo para o leitor. Os resultados da análise do processo de ensino, expresso nos objetivos e conteúdos programáticos de uma unidade amostrai em Curitiba, bem como das produções escritas dos seus alunos nas duas primeiras séries, indicam muito claramente que a escola está pouco atenta às variações culturais da nova população escolar e desinformada a respeito das exigências atuais de eficiência nos instrumentos de comunicação a distância. Verificou-se que a escola mantêm uma posição anacrônica nas primeiras séries, que privilegia o caráter externo da apresentação gráfica dos trabalhos, contentando-se com a produção de textos alheios às experiências culturais de cada falante, desde que obedientes às normas ortográficas. Considerando a atividade de expressão escrita como um exercício de controle do domínio da grafia, a escola não estimula a criação de novos textos, que propiciariam a relação significativa da criança com o próprio enunciado, e reduz a redação à simples evocação de formas suficientemente treinadas nas aulas de alfabetização . A quantidade de enunciados repetitivos e a regressão no plano ideativo dos textos nas duas séries indicam que o processo tende a cercear a produção da criança, que prefere antes conformá-la aos padrões de correção valorizados pela escola, a expor-se ao risco de externar a diversidade de suas próprias experiências. Enfim, a pesquisa denuncia a deficiência dos processos escolares para desenvolver a produção independente e singular de um texto eficaz desde as primeiras séries, podendo causar a sedimentação da atitude de descomprometimento com a palavra escrita, que transforma a redação num desagradável exercício de rotina para os estudantes.
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