Substituta, subterrânea, clandestina : vilania e orientalismo na construção da personagem Dalila, de

Abstract

Resumo : Em paralelo à progressiva intensificação da guerra síria em 2019, a Rede Globo exibia Órfãos da Terra, uma telenovela cuja missão era sensibilizar o público para a situação vivida por refugiados em todo o planeta. Contudo, a história possuía uma vilã, Dalila (Alice Wegmann), que era árabe e carregava consigo diversos estereótipos relativos à "maldade", como é característico do gênero melodramático (MARTINBARBERO, 2003; THOMASSEAU, 2005). Neste artigo, pretendemos verificar como e se, mesmo em uma narrativa positiva quanto à população do Oriente Médio, a ascendência de Dalila acaba despontando como um fator de maximização de sua vilania. Adotando as proposições metodológicas de Bardin (1977) e Rose (2002), selecionamos capítulos específicos de Órfãos da Terra para análise, partindo da observação do figurino, das falas e das atitudes da vilã para identificar possíveis aspectos de vilania (OROZ, 1992) e de orientalismo (SAID, 2007) neles sinalizados. Para tanto, apoiamo-nos também nos conceitos auxiliares de "representação", como definido por Hall (2016), e de "interseccionalidade", como exposto por Crenshaw (2002). Durante a pesquisa, observamos que, de fato, os signos do Oriente são frequentemente utilizados para intensificar a correlação entre Dalila e o "Mal". Contudo, pudemos perceber que isso acontece mais por conta da religião islâmica a ela atribuída do que, necessariamente, devido à sua origem árabe