"A criança aprende através da literatura" : materialidades e representações de infância na coleção O Mundo da Criança
Abstract
Resumo: Esta dissertação tem como finalidade identificar e examinar as materialidades e representações de infância na Coleção O Mundo da Criança, publicada nas décadas de 1950 e 1960. Sendo essa Coleção, fonte e objeto deste trabalho, o problema de pesquisa proposto está em compreender como se configura, materialmente, essa Coletânea e quais representações de infância se fazem presentes, tendo como interseção as relações entre brincadeiras, família e escola. Os objetivos se voltam para apreender e analisar as configurações materiais e estéticas (textuais, imagéticas e tipográficas) que organizam e conformam os volumes, bem como identificar e examinar temas presentes que expressem representações sobre infância e sua educabilidade. A obra em questão se trata da tradução e adaptação da Coleção estadunidense Childcraft, que chega ao Brasil na década de 1950, pela Editora Delta. O referencial teórico se ancora em conceitos e perspectivas do campo da história da infância e da educação, da história cultural e da cultura visual. Dialoga-se com Roger Chartier sobre o conceito de representação e materialidade dos impressos; à abordagem da cultura material, recorre-se também a Agustín Escolano Benito, Inés Dussel, Gizele de Souza, entre outros. Autores como Fernando Hernandez, Paulo Knauss e Peter Burke auxiliam na análise imagética e estética da Coleção. Sobre o uso de imagens em livros infantis, se apoia em Lúcia Santaella, Maria Nikolajeva e Carole Scott. No tocante à historiografia da infância são fundamentais os estudos de Egle Becchi, Michel Manson, Susana Sosenski, Cynthia Veiga e Juarez dos Anjos. Na perspectiva da historiografia educacional brasileira, autores como Diana Vidal e Marta Carvalho foram centrais. Organizada em capítulos, a primeira parte desta dissertação trata de discussões acerca da origem e trajetória da Coleção, até sua publicação no Brasil na década de 1950, abordando assuntos referentes ao mercado editorial brasileiro de coleções e o contexto educacional da década de 1950. Em um segundo momento, é discutido sobre as configurações materiais e estéticas da Coleção. Por fim, são realizadas reflexões sobre representações de infância presentes em O Mundo da Criança, por meio dos temas das brincadeiras e brinquedos, família e escola. Do ponto de vista das considerações finais, a pesquisa permitiu compreender a origem e trajetória da Coleção, sendo possível identificar que este impresso dialogou com os debates sobre a infância no início do século XX. Constatou-se que se trata de uma coletânea de luxo, devido a suas condições estéticas e materiais, chegando a custar mais do que o valor de um salário mínimo na década de 1950. No entanto, a Editora Delta, responsável pela publicação brasileira da Coleção, era especializada em vendas de livros a prestação, o que possibilitou que famílias de diferentes classes sociais pudessem adquirir os volumes. Também foi possível identificar modos de representações de infância baseados na moral, na disciplina, na higiene e, em alguns casos, em papeis de gênero, expressos por meio de sugestões para o brincar, bem como modelos de família e de escola. Abstract: This thesis focuses on identifying and examining the materialities and childhood representations in the O Mundo da Criança Collection, published in the 1950s and 1960s. Once this Collection is the source and object of this study, the proposed research problem is to figure out how it is materially configured, and which childhood representations are present, having as intersection the relations between games, family, and school. The objectives are aimed at apprehending and analyzing the material and aesthetic configurations (texts, images, and typographies) that organize and shape the volumes, as well as identifying and examining present themes which express representations about childhood and its educability. The work in question is the translation and adaptation of the American Collection: Childcraft, which arrived in Brazil in the 50s by Editora Delta. The theoretical framework is based on concepts and perspectives from childhood history and education, cultural history, and visual culture. Roger Chartier is consulted upon the concept of representation and materiality of printed materials; Agustín Escolano Benito, Inés Dussel, Gizele de Souza, among others are used in relation to material culture approach. Authors such as Fernando Hernandez, Paulo Knauss and Peter Burke help on image and aesthetic analyses of the Collection. The use of images in children’s books is relied on Lúcia Santaella, Maria Nikolajeva and Carole Scott. In relation to childhood historiography, the studies of Egle Becchi, Michel Manson, Susana Sosenski, Cynthia Veiga and Juarez dos Anjos are fundamental. From the perspective of Brazilian educational historiography, authors such as Diana Vidal and Marta Carvalho were crucial. Organized in chapters, the first part of this thesis deals with discussions about the origin and history of Collection, until its publication in Brazil in 1950s, covering issues related to the Brazilian publishing market for collections and the educational context of the 1950s. In its second part, material and aesthetic configurations of Collection are discussed. Finally, reflections upon childhood representations present in O Mundo da Criança are carried out, through games and toys, family, and school themes. As final considerations, the research enabled to understand the origin and history of Collection, making it possible to identify that this printed material dialogued with the debates about childhood in the beginning of the 20th Century. It was found that this is a luxury collection due to its aesthetic and material conditions, costing more than the minimum wage in the 1950s. However, Editora Delta, responsible for the Brazilian publication of Collection, was specialized in book sales in installments, which enabled families from different social classes to purchase the volumes. It was also possible to identify forms of childhood representations based on moral, discipline, hygiene and, in some cases, gender roles, expressed through suggestions for playing, as well as family and school patterns.
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