Infâncias aqui e lá : configurações sociais de crianças reassentadas na periferia de Curitib
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Data
2019Autor
Fonseca, Avelaine do Rocio Mielniczki, 1968-
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Resumo: Nesta pesquisa, objetivou-se analisar as mudanças que ocorrem nas redes de interdependência de crianças em processo de remoção-reassentamento quando mudam de bairro. Buscou-se compreender as aproximações e diferenças em relação à moradia, lazer, cultura, família, amizades, espaços de brincadeira e vizinhança nos bairros de origem e atual, a partir do olhar das próprias crianças. Os referenciais teóricos que contribuíram para a pesquisa foram: Elias (sociologia), Sarmento, Qvortrup e outros (sociologia da infância), Rolnik (arquitetura e urbanismo), entre outros. A pesquisa foi realizada em um conjunto habitacional na periferia de Curitiba a partir de metodologia qualitativa. Aconteceu em dois momentos, o primeiro, chamado de "INFÂNCIAS AQUI", foi realizado com dezenove crianças, que falaram sobre suas relações com os espaços do bairro. E, na sequência, mais especificamente com seis crianças, que mostram tanto o bairro atual quanto, em um segundo momento, denominado na pesquisa de "INFÂNCIAS LÁ", os bairros antigos de moradia. Ao analisar as redes de interdependência das crianças reassentadas, constata-se que elas são influenciadas não apenas pelas políticas de habitação popular, mas também por suas condições econômicas, espaciais e culturais. O avanço do complexo financeiro-imobiliário impacta diretamente no direito à cidade, sendo as crianças as mais prejudicadas. A construção de conjuntos habitacionais populares, nas periferias é marcada pela exclusão e distribuição de capital social e cultural. As crianças trazem aspectos significativos sobre as relações sociais nos diferentes espaços dos bairros. Suas redes são permeadas por relações de poder (pessoas e instituições) nas figuras da Companhia de Habitação Popular (COHAB), da Prefeitura de Curitiba, do político, do líder comunitário, da síndica, da mãe e do pai. Com o reassentamento, elas sofreram interferência em suas relações afetivas, ruptura e conquista de novos laços de amizade. A relação com a família ampliada é, em alguns casos alterada, e, na divisão do trabalho doméstico, as meninas dedicam mais tempo que os meninos. São elas também que têm mais responsabilidade com os cuidados dos irmãos, sobrinhos e de pessoas mais velhas. O medo está presente em diferentes situações: dormir no chão com ratos, de pessoas gritando, medo de policiais, armas e de traficantes. A situação de moradia, que já não era adequada, com a mudança, não melhorou. Elas foram prejudicadas em suas redes de interdependência, pois estão em uma região onde não há comércios, espaços de lazer (praças e parques) nem escola próxima. Em relação a espaços de cultura (teatro, museu e cinema), elas não tiveram acesso em nenhum dos bairros por onde andaram desde o nascimento. Conclui-se que a configuração social das crianças da pesquisa é a de completa negação de seus direitos. Palavras-chave: Infância. Reassentamento. Habitação popular. Configurações. Redes de interdependência. Abstract: This research aimed to analyze the changes that occur in children interdependence networks when they change neighborhood due to removalrelocation. It also aimed to comprehend similarities and differences regarding culture, living, leisure, family, friendship, playing spaces and neighborhood between the neighborhood of origin and the current one through children's point of view. The theoretical framework that contributed to this research were: Elias (sociology), Sarmento, Qvortrup et al. (sociology of childhood), Rolnik (architecture e urban planning), among others. The research was carried out in a housing development in the periphery of the city of Curitiba, State of Paraná, Brazil, based on a qualitative methodology. The research was divided in two moments: the first, called "CHILDHOODS HERE", was carried out with nineteen children, they shared about their relationship with the spaces of the neighborhood; and the second, denominated "CHILDHOODS THERE", in which six children showed the current neighborhood as well as the previous ones. Throughout the analysis of the interdependence networks of relocated children, it can be perceived that they are influenced not only by lowincome housing policies but also by their economic, spatial, and cultural conditions. The increasing of real estate and financial complex impacts directly in the right to the city, being the children the most harmed ones. The construction of low-income housing development in the peripheries is marked by exclusion and distribution of social and cultural capital. Children bring significant aspects regarding social relations in different spaces of the neighborhoods. Their networks are pervaded by power relations (people and institutions) in the figures of the low-income housing development company (COHAB), of the City Hall, of the politician, of the community leader, of the syndic, of the mother and the father. Children, due to relocation, suffered interference in their affective relations as well as rupture and achievement of new friendships. Extended family relationship is, in some cases, altered and the girls expend more time than the boys within the domestic labor division. They are also responsible for the care of the siblings, nephews and elderly people. The fear is present in different situation, such as: sleeping in the floor with rats, people yelling, fear of cops, guns and drug dealers. The living situation that was inadequate, after they move it was not improved. The children were harmed in their interdependence networks because they are in a region where there is no commerce, leisure spaces (squares and parks) nor a close school. Regarding culture spaces (theatre, museum and cinema), they did not have access in any of the neighborhoods they lived since they were born. It is possible to conclude that social configuration of the researched children is one of complete denial of their rights. Keywords: Childhood. Relocation. Low-income housing development. Configurations. Interdependence networks.
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