Marcados pelo triângulo rosa : a discursivização do sujeito homossexual no Museu do Holocausto de Curitiba
Resumo
Resumo: A tese tem como referencial teórico a Análise de Discurso de orientação francesa, a qual, de acordo com as considerações realizadas por Michel Pêcheux ([1975] 2009), se sustenta numa perspectiva discursiva materialista e, portanto, centra seus estudos nas condições de produção do discurso para, a partir delas, compreender a prática de sujeitos que pensam o que pode ser e o que não pode ser pensado, por estarem inseridos num conjunto de possibilidades sócio históricas. O objetivo geral da tese é analisar discursivamente como se dá a construção da representação imaginária e identitária do sujeito homossexual nas condições sócio-históricas e discursivas da Segunda Guerra Mundial que ressoam na contemporaneidade, em especial no Museu do Holocausto de Curitiba (MHC). Para isso consideramos a língua na história, instaurando efeitos de sentidos, e o arquivo, que contempla objetos em exposição dispostos no espaço físico e na página da internet do museu. Compreendemos que as materialidades discursivas funcionam, no trabalho de mediação simbólica entre sujeito e formação social, a história do cotidiano, da contemporaneidade. Para dar visibilidade aos objetos expográficos, o MHC utiliza-se de estratégias discursivas que conferem aos seus textos valores de unidade e de coerência. A ancoragem da nossa pesquisa advém de pesquisadores-teóricos como Pêcheux ([1975] 2009; [1969], 2019), Orlandi (2007, 2011, 2012), Venturini (2024), Mariani (2021), dentre outros. Os resultados dão visibilidade ao triângulo rosa – símbolo da perseguição nazista – sendo ressignificado a partir dos discursos que ressoam no/do Museu como sinal de resistência, deslocando-se de uma marca de opressão para um objeto de luta pela visibilidade. Contudo, persistem tensões discursivas: enquanto o MHC busca romper com o apagamento histórico, a homossexualidade ainda é discursivizada em quadros de vulnerabilidade (como vítima do ódio), o que pode reforçar pré construídos em torno do sujeito homossexual. Os resultados da pesquisa demonstram que o museu opera um discurso de duplo movimento: denuncia o extermínio passado e interpela o presente, questionando a naturalização da violência contra corpos LGBTQIA+. Essa abordagem contribui para os estudos da AD ao mostrar como museus, enquanto lugares de memória, podem reativar sentidos subjugados, mas também desafia a curadoria museal a ampliar representações que transcendam o lugar da vítima, destacando resistência Abstract: The thesis is based on the theoretical reference of French Discourse Analysis, which, according to the considerations of Michel Pêcheux ([1975] 2009), is based on a materialist discursive perspective and therefore centers its studies on the conditions of production of discourse in order to understand the practice of subjects who think about what can and cannot be thought, as they are inserted in a set of socio-historical possibilities. The general objective of the thesis is to discursively analyze how the imaginary and identity representation of the homosexual subject is constructed in the socio-historical and discursive conditions of the Second World War that resonate in contemporary times, especially in the Curitiba Holocaust Museum (CHM). To do this, we considered language in history, establishing effects of meaning and the archive that includes objects on display in the museum's physical space and on its website. We understand that the discursive materialities function in the symbolic mediation between subject and social formation, the history of everyday life, of contemporaneity. In order to give visibility to its exhibits, the MHC uses discursive strategies that give its texts values of unity and coherence. Our research is anchored in theoretical researchers such as Pêcheux ([1975] 2009; [1969], 2019), Orlandi (2007, 2011, 2012), Venturini (2024), Mariani (2021), among others. The results give visibility to the pink triangle - a symbol of Nazi persecution - being re-signified from the discourses that resonate from the museum as a sign of resistance, shifting from a mark of oppression to an object of struggle for visibility. However, discursive tensions persist: while the MHC seeks to break with historical erasure, homosexuality is still discursively framed in terms of vulnerability (as a victim of hatred), which can reinforce preconstructions surrounding this subject. The research concludes that the museum operates in a double discourse: it denounces past extermination and challenges the present, questioning the naturalization of violence against LGBTQIA+ bodies. This approach contributes to DA studies by showing how museums, as a place of memory, can reactivate subjugated meanings, but also challenges museum curators to expand representations that transcend the place of the victim, highlighting agency and resistance
Collections
- Teses [247]