Trajetórias educacionais dos estudantes guineenses e quilombolas de zonas rurais : lutas por acesso e permanência

Abstract

Resumo: A presente tese analisa as trajetórias educacionais de estudantes guineenses (Guiné-Bissau) e quilombolas (Brasil), oriundos de comunidades rurais e estudantes de diferentes Programas de Pós-Graduação na Universidade Federal do Paraná (UFPR) (Programa de Pós-Graduação em Educação – PPGE, Programa de Pós-Graduação em Ciências Políticas – PPGCP e Programa de Pós-Graduação em História – PPGHIS). Para tanto, objetiva-se compreender como foram as jornadas educacionais desses estudantes e suas lutas por acesso e permanência nas escolas de educação básica e nos Programas de Pós-Graduação da UFPR. O trabalho justifica-se em buscar compreender as trajetórias educacionais dos estudantes oriundos de diferentes localidades, por meio de depoimentos sobre as suas vivências e as dificuldades enfrentadas para conseguir o acesso e a permanência nas escolas de educação básica. Abrange-se também as lutas contra a discriminação racial e os preconceitos contra pessoas provenientes de comunidades rurais e seus territórios, que, às vezes, são consideradas inferiores, vítimas de omissões do poder público e de ações de uma parcela da elite nacional, cuja mentalidade escravocrata sustenta privilégios atrelados à dominação e à exploração da mão de obra de pessoas pobres. No que se refere à abordagem, a pesquisa se classifica como qualitativa, tendo como objeto de análise as entrevistas realizadas com estudantes guineenses e quilombolas, participantes de diferentes Programas de Pós-Graduação da UFPR e oriundos de zonas rurais. O propósito é entender suas trajetórias na educação básica, as lutas pelo acesso às escolas, os desafios para a permanência e suas contribuições (diretas ou indiretas) em defesa da educação e das escolas públicas de zonas rurais. A realização dessas entrevistas tem como objetivo permitir que os(as) estudantes supracitados(as) falem de si mesmos, dos seus e das suas comunidades com liberdade e autonomia. Essa posição ajuda a compreender o lugar de fala dessas pessoas, respeitando sempre suas trajetórias históricas e posições sociais. Do ponto de vista epistemológico, a origem do conceito e/ou termo lugar de fala é imprecisa. A tese aqui apresentada é fruto de uma pesquisa teórica e científica, sustentada pelos depoimentos autorizados de estudantes quilombolas e guineenses de diferentes Programas de Pós-Graduação da Universidade Federal do Paraná. Suas trajetórias educacionais, marcadas por grandes desafios, retratam a realidade do Brasil e da Guiné-Bissau, assim como a dos cidadãos e cidadãs invisibilizados, que só são lembrados no período eleitoral para pedir seus votos ou para falar no momento em que acontecem atrocidades ou eventos naturais provocados pelo racismo ambiental. Uma das obrigações do Estado nos países supracitados é garantir a educação para todos, independentemente de classe ou origem social. Contudo, o que vemos na realidade, sobretudo na Guiné-Bissau, é o protagonismo das organizações de sociedade civil, nomeadamente as associações das comunidades rurais, construindo escolas nas comunidades/tabancas, fazendo o papel que, teoricamente, deveria ser feito pelo Estado, como demanda a Constituição da República de 1996. Os(as) estudantes guineenses e brasileiros(as) reconhecem que, durante suas trajetórias educacionais, além dos grandes desafios, houve estímulo dos familiares para seguirem estudando. Também destacaram o brilhante papel desempenhado pelas suas comunidades que, por meio das lutas, conseguiram diminuir a dificuldade do acesso à escola. No caso da Comunidade Quilombola João Surá, o protagonismo das mulheres foi fundamental na conquista da escola pela comunidade, pois foram elas que mobilizaram e exigiram do poder público estadual a construção do Colégio Estadual Quilombola Diogo Ramos como forma de minimizar as dificuldades dos(as) alunos e alunas da comunidade. Por fim, entende-se que as trajetórias educacionais desses(as) estudantes serviram de inspiração para muitas crianças, jovens e adultos de comunidades rurais (e não só) que sonham, um dia, ingressar em uma universidade pública para aprender, ensinar e compartilhar valores

Abstract: This thesis analyzes the educational trajectories of Guinean (Guinea-Bissau) and Quilombola (Brazil) students from rural communities and students from different Graduate Programs at the Federal University of Paraná (UFPR) (Graduate Program in Education - PPGE, Graduate Program in Political Sciences - PPGCP and Graduate Program in History - PPGHIS). To do so, the objective is to understand how were the educational journeys of these students and their struggles for access and permanence in basic education schools and Graduate Programs of UFPR. The work is justified in seeking to understand the educational trajectories of students from different locations, through testimonials about their experiences and the difficulties faced to obtain access and permanence in primary education schools. It also covers the struggles against racial discrimination and prejudices against people from rural communities and their territories, who are sometimes considered inferior, victims of omissions of public power and actions of a portion of the national elite, whose slave mentality supports privileges linked to the domination and exploitation of the labor force of poor people. Regarding the approach, the research is classified as qualitative, having as object of analysis the interviews with Guinean and quilombola students, participants of different Graduate Programs of UFPR and coming from rural areas. The purpose is to understand their trajectories in basic education, the struggles for access to schools, the challenges for permanence and their contributions (direct or indirect) in defense of education and public schools in rural areas.The purpose of these interviews is to allow the above-mentioned students(s) to speak about themselves, their own and their communities with freedom and autonomy. This position helps to understand the place of speech of these people, always respecting their historical trajectories and social positions. From the epistemological point of view, according to.The thesis presented here is the result of a theoretical and scientific research, supported by authorized testimonials of quilombola and guinean students from different Graduate Programs at the Federal University of Paraná. Its educational trajectories, marked by great challenges, portray the reality of Brazil and Guinea-Bissau, as well as those of invisible citizens, who are only remembered in the election period to ask for their votes or to speak at a time when atrocities or natural events caused by environmental racism occur. One of the obligations of the state in the above-mentioned countries is to guarantee education for all, regardless of class or social origin.However, what we see in reality, especially in Guinea-Bissau, is the protagonism of civil society organizations, namely the associations of rural communities, building schools in the communities/ tabancas, doing the role that, theoretically, should be done by the as a claim to the Constitution of the Republic of 1996. The(s) Guinean and Brazilian students(as) recognize that, during their educational trajectories, in addition to the great challenges, there was encouragement from family members to continue studying. They also highlighted the brilliant role played by their communities which, through the struggles, were able to reduce the difficulty of access to school. In the case of the Quilombola João Surá Community, the role of women was fundamental in the conquest of the school by the because they were the ones who mobilized and demanded from the state public power the construction of the Quilombola Diogo Ramos State College as a way to minimize the difficulties of the (s) students of the community. Finally, it is understood that the educational trajectories of these(s) students served as inspiration for many children, young people and adults from rural communities (and not only) who dream, one day, to join a public university to learn, teach and share values