Como funciona um texto de não ficção
Resumo
Resumo: Este estudo analisa e traduz a obra de Joseph Mitchell (1908–1996), que fez carreira publicando textos na revista New Yorker entre as décadas de 1930 e 1960. O escritor e jornalista estabeleceu alguns fundamentos para o que mais tarde seria o novo jornalismo, ou jornalismo literário. A carreira de Mitchell compreende cinco livros. Dois deles, inéditos em português, foram traduzidos como parte integral deste trabalho e serviram como instrumento de análise de sua obra: O fabuloso bar do McSorley, com vinte e sete textos publicados pela New Yorker; e Estou no papo, com sua produção para jornal. Para investigar os mecanismos de um texto jornalísticoliterário, recorremos às ideias do britânico Gregory Currie sobre a natureza da ficção e às do francês Philippe Lejeune sobre o pacto referencial. Abordamos também as dificuldades de se representar a verdade objetiva (aquela passível de verificação), a falibilidade da memória e os artifícios dos textos literários para levar o leitor a fazer de conta (no caso da ficção) e a acreditar (no caso da não ficção). Partimos das pesquisas do biógrafo Thomas Kunkel e da historiadora Jill Lepore para argumentar que, hoje, os perfis escritos por Mitchell seriam, ao fim e ao cabo, vistos como ficção. E concluímos que, no jornalismo literário, um escritor acolhe os problemas que surgem ao sobrepor fatos e ficção. Na realidade, é o trânsito complicado entre esses dois mundos que faz funcionar um texto de não ficção. Abstract: This study comprehends an analysis and the translation of two books by Joseph Mitchell (1908–1996), an american writer who made his name working for The New Yorker magazine between the 1930s and the 1960s. He laid the foundations for the so-called new journalism, or literary journalism. Mitchell published five books. Two of these, unpublished in Brazil, were translated to Portuguese as an essential part of our research: McSorley’s Wonderful Saloon, which comprises twenty-seven stories published in the New Yorker, and My Ears Are Bent, which assembles his newspaper articles. To understand how the new journalism genre works, using tools of fiction to produce nonfiction, we employed Gregory Currie’s ideas on the nature of fiction and Philippe Lejeune’s ideas on the referential pact. We also address the difficulties in depicting the objective truth in nonfictional pieces, the fallibility of memory, and the differences between believe and make-believe. We use the researches from biographer Thomas Kunkel and historian Jill Lepore to recognize that, today, Mitchell’s literary journalism would be seen as fiction. As a conclusion, we argue that a writer of literary journalism welcomes the complications caused by overlapping fiction and nonfiction. This is how nonfiction works.
Collections
- Teses [234]