O mar que fala (e silencia) : uma análise discursiva acerca do espaço urbano e do patrimônio cultural de São Francisco do Sul/SC
Resumo
Resumo: O Patrimônio Cultural estrutura-se pela cultura de uma formação social, tanto no que tange à arquitetura, quanto às manifestações culturais, ao Espaço Urbano, aos modos de fazer, entre outros. É o lugar de encontros e de desencontros, de manifestação ideológica e política, em que a sombra colonizadora e burguesa insiste em pairar. Através da metáfora do mar, que constitui efeitos de movimento, de chegada e de partida, retornam memórias e discursos do "descobrimento", da "colonização" e do "desenvolvimento" vemos o mar "que fala e silencia". Por essa tomada de posição, propomos a análise do Espaço Urbano de São Francisco do Sul/SC e do Patrimônio Cultural que o constitui, como sendo o objeto discursivo desta tese. Para analisá-lo como artefato de leitura, buscamos responder à seguinte questão de pesquisa: Como o discurso que circula sobre o espaço urbano de São Francisco do Sul constitui efeitos de legitimação da cidade, sustentando-a como Patrimônio Cultural do Brasil? A Análise de Discurso francesa, cunhada por Michel Pêcheux, desenvolvida no Brasil Eni Orlandi, em relação com a história, a cultura e outros domínios do conhecimento sustentam nossas tomadas de posição, tendo em vista a produção do conhecimento a partir de sujeitos interpelados pela ideologia e atravessados pelo inconsciente, mobilizando a língua na história, em atenção às demandas em torno das condições de produção e do Espaço Urbano em sua ordem e organização. As narratividades que significam/ressignificam a cidade se constituem a partir de redes de memória, pelas quais retornam dizeres e saberes que circularam antes em outros tempos e lugares e sinalizam para efeitos de colonização. O arquivo do qual resultam os recortes analíticos considera a história da cidade, a sua formação, enquanto espaço urbano, levando em conta o Conjunto Urbano e Paisagístico, os documentos diretores, as manifestações culturais, os lugares de memória. São Francisco do Sul foi tombada como Patrimônio Histórico em 1987 e, sendo patrimônio, ela segue diretrizes próprias do funcionamento de um centro histórico, priorizando a preservação tanto material quanto imaterial. No entanto, os sentidos em torno da cidade não são homogêneos e fechados, tendo em vista a tensão entre o que é demandado da preservação do patrimônio histórico e ambiental pela ideologia capitalista que busca o desenvolvimento econômico em detrimento do avanço das políticas sociais. Com isso, o discurso urbano em circulação constitui evidências de que os sujeitos e a cidade devem ser indissociáveis, formando um só corpo, apagando desse modo as diferenças e a luta de classes. O dispositivo teórico-metodológico mobilizado atende à questão de pesquisa, que orienta também os recortes analíticos, priorizando as condições de produção do discurso sobre a cidade e o Patrimônio Cultural no contexto mundial. O corpus de análise estrutura-se pelo Termo de Tombamento, pelo Plano Diretor da cidade, pelos lugares que "guardam as memórias" desse espaço, tais como igrejas, museus, memoriais, monumentos, placas, campanhas publicitárias, entre outros, que se caracterizam como discursos de/sobre a cidade. A filiação à teoria materialista do discurso direciona o gesto interpretativo sobre o Espaço Urbano e sobre o Patrimônio Cultural de São Francisco do Sul, encaminhando para uma leitura que sempre pode ser outra, tomando como prioridade as práticas sociais e os sujeitos, que possibilitam a compreensão dos mecanismos de significação dos bens patrimoniais, ressignificando-os. Os efeitos de sentido de antagonismo e de coexistência entre a preservação/gestão do Patrimônio Cultural e as outras práticas socioeconômicas desenvolvidas no Espaço Urbano atravessam as análises e dão visibilidade à heterogeneidade desse discurso Abstract: The Cultural Heritage is structured by the culture of a social formation, both in terms of architecture and cultural manifestations, urban space, ways of doing, among others. It is a place of matches and mismatches, of ideological and political manifestation, where the colonizing and bourgeois shadow insists on hovering. Through the sea metaphor, which constitutes effects of movement, arrival and departure, memories and discourses of "discovery", "colonization" and "development" return, we see the sea "that speaks and silences ". Due to this position, we propose the analysis of the Urban Space of São Francisco do Sul/SC and the Cultural Heritage that constitutes it, as the discursive object of this thesis.To analyze it as a reading artifact, we sought to answer the following research question: How does the discourse that circulates about the urban space of São Francisco do Sul constitute effects of legitimizing the city, sustaining it as a Cultural Heritage of Brazil? The French Discourse Analysis, coined by Michel Pêcheux, developed in Brazil by Eni Orlandi, in relation to history culture and other fields of knowledge underpin our positions, considering the production of knowledge from subjects interpellated by ideology and traversed by the unconscious, mobilizing language in history, in attention to the demands around the conditions of production and the Urban Space in its order and organization. The narratives that signify/resignify the city are constituted from memory networks, through which sayings and knowledge that circulated before in other times and places return and signal colonization effects.The archive from which the analytical excerpts result considers the city's history, its formation, as an urban space, taking into account the Urban and Landscape Complex, the guiding documents, the cultural manifestations, the places of memory. São Francisco do Sul was listed as a Historical Heritage in 1987 and, being heritage, it follows its own guidelines for the functioning of a historic center, prioritizing the preservation of both material and immaterial aspects.However, the meanings around the city are not homogeneous and closed, considering the tension between what is demanded from the preservation of historical and environmental heritage by the capitalist ideology that seeks economic development to the detriment of the advancement of social policies. With this, the urban discourse in circulation constitutes evidence that the subjects and the city must be indistinguishable, forming a single body, thus erasing the differences and the class struggle. The theoretical-methodological device mobilized addresses the research question, which also guides the analytical excerpts, prioritizing the conditions of production of the discourse on the city and Cultural Heritage in the world context. The analysis corpus is structured by the Listing Term, the City Master Plan, the places that "keep the memories" of this space, such as churches, museums, memorials, monuments, plaques, advertising campaigns, among others, which are characterized as discourses of/about the city.The affiliation to the materialist theory of discourse directs the interpretive gesture on Urban Space and Cultural Heritage of São Francisco do Sul, leading to a reading that can always be another, taking as priority the social practices and the subjects, which allow the understanding of the mechanisms of signification of the patrimonial goods, resignifying them. The effects of meaning of antagonism and coexistence between the preservation/management of Cultural Heritage and the other socioeconomic practices developed in the Urban Space run through the analyses and give visibility to the heterogeneity of this discourse
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