Ensinar e aprender um repertório de gestos manuais : a escola de aprendizes artífices do Paraná (1910-1926)

Abstract

Resumo: A presente tese tem o objetivo de analisar a natureza e as referências em que se basearam o Trabalho Manual praticado na Escola de Aprendizes Artífices do Paraná no período de 1910 a 1926. A Escola foi inaugurada em janeiro de 1910, em Curitiba, capital paranaense, no conjunto de uma política nacional de ensino profissional desencadeada pelo governo federal. Além da implantação da escola no Paraná, mais 18 estados da União promoveram, em conjunto com os governos estaduais, a implantação de escolas primárias profissionais. O art. 2º do Decreto nº 7.566/1909, assinado pelo então presidente da República Nilo Peçanha, mencionava que o ensino de ofícios deveria ser feito em "oficinas de trabalho manual ou mecânico que forem mais convenientes e necessários ao estado em que funcionar a escola, consultadas, quanto possível, as especificidades das indústrias locais". Deste modo, no caso do Paraná foram cinco oficinas, quais sejam: marceneiro, sapateiro, alfaiate, ferreiro e seleiro/tapeceiro. A prática adotada nessas oficinas para a produção de artefatos era essencialmente artesanal. A pesquisa realizada nos permitiu compreender a natureza e as referências em que se baseou o Trabalho Manual praticado na Escola de Aprendizes Artífices do Paraná no período de 1910 a 1926, pois identificamos que dois fatores contribuíram na escolha. O primeiro deles foi o intenso diálogo da direção da escola com o discurso republicano do início do século XX. O segundo fator preponderante decorreu da circulação de ideias sobre o Trabalho Manual em fins do século XIX e início do século XX. O Trabalho Manual foi adotado tanto na formação integral do aluno como para a formação do futuro operário, por isso obteve as classificações de Sloyd Educacional e Sloyd Profissional, em virtude das diferentes concepções em que estava baseado. A concepção de Trabalho Manual adotada na Escola foi o Sloyd Educacional, do sueco Otto Salomon, nas formulações de Aprigio Gonzaga, que atribuiu novos significados ao Sloyd Educacional ao elaborar o Sloyd Paulista. Aprigio Gonzaga foi um dos principais expoentes brasileiros na divulgação do Sloyd Educacional/Sloyd Paulista. A Escola de Aprendizes Artífices do Paraná privilegiou o Sloyd Educacional como concepção estruturante de formação dos artífices e consequentemente na organização do ensino profissional nos primeiros anos de seu funcionamento. Além do ensino dos ofícios foram implantados também o curso de Desenho e a Instrução Primária. Para analisar a natureza e as referências adotadas na Escola de Aprendizes do Paraná nos ancoramos nas contribuições da historiografia educacional brasileira, bem como nos pressupostos teórico-metodológicos da Nova História Cultural, a partir de autores como: Michel de Certeau (1998), Carlo Ginzburg (1989; 2007) e Ulpinano Meneses (1998); recorremos aos conceitos de "arte de fazer", "método onomástico", "paradigma indiciário", "cultura escolar", "cultura material escolar" e ao conceito de "experiência na cultura material", de Richard Sennett em o Artífice (2020)

Abstract: This thesis aims to analyze the nature and references on which the Manual Work practiced at the School of Apprentice Craftsmen of Paraná was based from 1910 to 1926. The School was opened in January 1910, in Curitiba, the capital of Paraná, as part of a national policy of professional education launched by the federal government. In addition to the implementation of the school in Paraná, 18 other states in the Union promoted, together with the state governments, the implementation of professional primary schools. Art. 2 of Decree No. 7,566/1909, signed by the then President of the Republic, Nilo Peçanha, mentioned what the teaching of trades it should to be done in "workshops of work manual or mechanic what were more convenient and necessary to the state in what to operate the school, consulting, as far as possible, the specificities of local industries". Thus, five workshops were implemented in Paraná, namely: carpentry, shoemaking, tailoring, blacksmithing and saddlery/upholstery. The practice adopted in the workshops for the production of artifacts was essentially artisanal. The research carried out allowed us to understand the nature and references that were the basis for the Manual Work practiced at the School of Apprentice Craftsmen of Paraná in the period from 1910 to 1926, as we identified that two factors contributed to this choice. The first of these was the intense dialogue between the school management and the republican discourse of the early 20th century. The second preponderant factor stems from the circulation of ideas about Manual Work in the late 19th and early 20th centuries. Manual Work was adopted both in the integral education of the student and for the training of future workers, which is why it received the classifications of Educational Sloyd and Professional Sloyd, due to the different concepts on which it was based. The concept of Manual Work adopted at the School was Educational Sloyd , by the Swede Otto Salomon, as well as in the formulations of Aprigio Gonzaga who attributed new meanings to Educational Sloyd , when developing the Paulista Sloyd . Aprigio Gonzaga was one of the main Brazilian exponents in the dissemination of Educational Sloyd / Paulista Sloyd . The School of Apprentice Craftsmen of Paraná favored Educational Sloyd as a structuring concept for the training of craftsmen and consequently in the organization of professional education in the first years of its operation. In addition to teaching trades, the Drawing and Primary Education courses were implemented. To analyze the nature and references adopted at the Escola de Aprendizes do Paraná, we based ourselves on the contributions of Brazilian educational historiography, as well as on the theoretical-methodological assumptions of the New Cultural History, such as: Michel de Certeau (1998), Carlo Ginzburg (1989; 2007) and Ulpinano Meneses (1998), as well as resorting to the concepts of "art of doing", "onomastic method", "evidential paradigm", "school culture", "school material culture" and the concept of " experience ". in the material culture" by Richard Sennett in the Craftsman (2020)