Ensino jurídico metodologicamente equilibrado : investigando a paridade de gênero nas leituras obrigatórias da Faculdade de Direito da Universidade Federal do Paraná

Abstract

Resumo: Os ideais de ensino e conhecimento são comumente associados a um modelo considerado universal, em que reproduzimos métodos e conceitos pensados para um mundo antigo, incluindo os preconceitos sobre o que as mulheres podem ser ou fazer. O mundo só era mundo, e o conhecimento só era conhecimento, pois ali os homens viviam e ensinavam. Por certo, este ideal conserva e propaga a hegemonia masculina, branca, heteronormativa e, é claro, europeia ou norteamericana. Nesse sentido, o seguinte artigo se propõe a explorar o funcionamento das engrenagens do conhecimento e suas relações com a questão de gênero, sobretudo no caso fático escolhido: a disparidade de gênero em relação as leituras obrigatórias das matérias ordinárias da Faculdade de Direito da Universidade Federal do Paraná. Portanto, pudemos compreender a atual situação de uma das facetas do ensino jurídico nesta Universidade, assim como desvendar os avanços e dificuldades da mulher na vida acadêmica. Durante a realização da pesquisa, foram utilizadas as abordagens metodológicas de revisão bibliográfica e a coleta e análise de dados, com especial enfoque às análises quantitativas e qualitativas. Por fim, os resultados demonstraram que 93% das bibliografias de leitura obrigatória foram escritas por homens no primeiro ano de graduação, situação que se repete nos próximos quatro anos de formação: 81% no segundo ano de graduação, 87% no terceiro ano de graduação, 77% no quarto ano de graduação, e, por fim, 66% no quinto e último ano de graduação. Cumpre ressaltar que, durante a análise das oito disciplinas pertencentes ao Departamento de Prática Jurídica, observamos que 71% dos textos de leitura obrigatória foram escritos por homens, sendo que três disciplinas sequer possuem bibliografia escrita por mulheres. Dessa forma, verifica-se que a Faculdade de Direito da Universidade Federal do Paraná possui uma grande disparidade de gênero em relação às suas referências. Conclui-se, portanto, que das leituras obrigatórias do curso, 79% foram escritas por homens, enquanto 21% por mulheres. Em números reais, são 174 textos em relação a outros 45, uma diferença quase 4 vezes maior. Para que possamos pensar em uma transformação do status quo do ensino jurídico, devemos repensar nossas referências de ensino e conhecimento

Abstract: The ideals of teaching and knowledge are commonly associated with a model considered universal, in which we reproduce methods and concepts designed for an ancient world, including prejudices about what women can be or do. The world was only the world, and knowledge was only knowledge, because there men lived and taught. Certainly, this ideal preserves and propagates male, white, heteronormative and, of course, European or North American hegemony. In this sense, the following article proposes to explore the functioning of the gears of knowledge and its relations with the issue of gender, especially in the chosen factual case: the gender disparity in relation to the mandatory readings of ordinary subjects at the Faculdade de Direito of the Universidade Federal do Paraná. Therefore, we were able to understand the current situation of one of the facets of legal education at this University, as well as uncover the advances and difficulties of women in academic life. During the research, the methodological approaches of bibliographic review and data collection and analysis were used, with a special focus on quantitative and qualitative analyses. Finally, the results demonstrated that 93% of mandatory reading bibliographies were written by men in the first year of graduation, a situation that was repeated in the next four years of the course: 81% in the second year of graduation, 87% in the third year of graduation, 77% in the fourth year of graduation, and, finally, 66% in the fifth and final year of graduation. It is worth noting that, during the analysis of the eight subjects belonging to the Department of Legal Practice, we observed that 71% of the mandatory reading texts were written by men, with three subjects not even having a single text written by a woman in it’s bibliography. Thus, it appears that the Faculdade de Direito of the Universidade Federal do Paraná has a large gender disparity in relation to its references. It is concluded, therefore, that of the course's mandatory readings, 79% were written by men, while 21% by women. In real numbers, there are 174 texts compared to another 45, a difference almost 4 times greater. In order for us to think about transforming the status quo of legal education, we must rethink our teaching and knowledge references