Vivências religiosas e concepções de gênero na socialização profissional das professoras de educação infantil

Abstract

Resumo: A presente pesquisa tem como tema principal as crenças e vivências religiosas das professoras como parte da socialização profissional docente, dentro do campo da formação de professores. O objetivo geral foi investigar e compreender as disposições do habitus, em relação aos aspectos da vivência religiosa, que se relacionam e interferem nas concepções das professoras de Educação Infantil frente às demandas pedagógicas sobre gênero. As vivências religiosas das professoras são parte da socialização profissional, em um conceito que entende as relações indissociáveis entre indivíduo e sociedade e as disposições de cultura incorporadas pelo indivíduo em sua vida. O problema da tese consistiu em compreender como se relaciona a vivência religiosa com as concepções docentes: Quais as relações entre as vivências religiosas das professoras de Educação Infantil e suas concepções no entendimento de gênero? Os dados foram produzidos em um Centro Municipal de Educação Infantil da Rede Municipal de Educação de Curitiba, cidade capital do estado do Paraná, Brasil e teve com principal foco seis professoras com vivência religiosa cristã institucionalizada, sendo três católicas e três evangélicas. Tendo em vista a amplitude do problema e os aspectos bastante subjetivos envolvidos na questão, a articulação de diferentes procedimentos metodológicos foi necessária tais como: questionário, observação no CMEI com registro em diário de campo, visita aos locais de fé das professoras e entrevistas semiestruturadas, seguindo orientações da abordagem qualitativa para pesquisas em educação. A análise foi feita a partir do referencial teórico de Pierre Bourdieu, principalmente com o conceito de habitus, e estudos sobre socialização profissional e docência (Gimeno Sacristán; Marcelo Garcia; Setton), gênero e educação (Louro; Vianna; Finco) a partir de teorias feministas e autores de sociologia da religião. Os principais resultados indicam que, na categoria "ser feminino", a relação entre ser uma mulher cristã e professora de crianças pequenas está relacionada com uma concepção conservadora de gênero, na qual destaca-se a mulher "guerreira" e sofredora. A categoria "família" foi reforçada nos discursos das igrejas das professoras e em suas próprias falas em uma perspectiva idealizada, nuclear, conservadora e binária, reforçando os papeis hegemônicos de gênero. Já em relação aos documentos norteadores da etapa da educação infantil e suas práticas diárias persistiu também essa concepção conservadora de gênero, porém com aspectos mais "aceitáveis", outros não compreendidos e ainda os considerados como "exagero". Portanto, concluiu-se que o habitus religioso das professoras prevalece nas suas concepções de gênero

Abstract: The main theme of this research is the religious beliefs and experiences of teachers as part of teaching professional socialization, within the field of teacher training. The general objective was to investigate and understand the dispositions of habitus, in relation to aspects of religious experience, which relate to and interfere with the conceptions of Early Childhood Education teachers in the face of pedagogical demands on gender. The religious experiences of teachers are part of professional socialization, in a concept that understands the inseparable relationships between the individual and society and the cultural dispositions incorporated by the individual in their life. The problem of the thesis consisted of understanding how religious experience is related to teaching conceptions: What are the relationships between the religious experiences of Early Childhood Education teachers and their conceptions of understanding gender? The data were collected in a Municipal Early Childhood Education Center of the Municipal Education Network of Curitiba, capital city of the state of Paraná, Brazil and had the main focus on six agents, teachers with an institutionalized christian religious experience, three of whom were catholic and three evangelicals. Considering the scope of the problem and the very subjective aspects involved in the issue, the articulation of different methodological procedures was necessary, such as: questionnaire, observation at the CMEI with recording in a field diary, visits to the teachers' places of faith and semi-structured interviews, following guidelines from the qualitative approach to research in education. The analysis was carried out based on Pierre Bourdieu's theoretical framework, mainly with the concept of habitus, and studies on professional socialization and teaching (Gimeno Sacristán; Marcelo Garcia; Setton), gender and education (Louro; Vianna; Finco) based on feminist theories and authors on the sociology of religion. The main results indicate that, in the "being feminine" category, the relationship between being a christian woman and a teacher of young children is related to a conservative conception of gender, in which the "warrior" and suffering woman stands out. The category "family" was reinforced in the teachers’ church speeches and in their own speeches in an idealized, nuclear, conservative and binary perspective, reinforcing hegemonic gender roles. In relation to the documents guiding the early childhood education stage and its daily practices, this conservative conception of gender also persisted, but with more "acceptable" aspects, others not understood and still considered "exaggeration". Therefore, it was concluded that the religious habitus of teachers prevails in their conceptions of gender