Resumo: Blumenau, em Santa Catarina, destaca-se nacional pela difusão da cultura alemã e por seu relevante papel no cenário esportivo, tanto amador quanto profissional. Este estudo teve como objetivo analisar os diferentes modus operandi pelos quais clubes ligas e comissões esportivas, em meio as tensões políticas e identitárias, moldaram o habitus esportivo da cidade, no período compreendido entre os anos de 1919 e 1989. Realizou-se uma pesquisa histórico-documental com base em fontes variadas, como jornais, legislações e estatutos sociais, com análise dos dados empíricos sob a perspectiva da sociologia configuracional de Norbert Elias. A hipótese sugere que o habitus esportivo de Blumenau pode ser explicado a partir da concorrência e demarcação de fronteiras identitárias dos teuto-brasileiros. Esse fenômeno se manifesta no associativismo clubístico e na política nacionalista de ocupação do território da era Vargas, caracterizado pelo tensionamento entre as noções de kultur e zivilisation, um processo de longa duração consolidado com o desenvolvimento das políticas públicas esportivas municipais. O estudo revela que as rivalidades locais não se limitavam à origem étnica dos clubes, mas também refletiam disputas entre bairros e influências políticas. Durante as décadas de 1920 e 1940, as guerras mundiais e a ascensão do nazifascismo europeu influenciaram o ambiente político e esportivo. Nesse contexto, o esporte era visto como instrumento modernizador da sociedade e de assimilação dos imigrantes, momento em que as instituições germânicas ficaram marcadas por mudanças que incluíam as fusões entre clubes, ou o fechamento, indicando a presença de conflitos e consensos que caracterizavam polaridades interdependentes. A partir da criação da Liga Blumenauense de Desportos, em 1941, com o ingresso de novas modalidades em um cenário de competições mais regulares e sistematizadas, aumentaram-se as interdependências entre Estado, clubes, dirigentes e ligas esportivas, resultando em melhorias no cenário esportivo da cidade. Apesar do destaque do futebol profissional em 1964, a década de 1960 foi marcada pelo aumento do investimento em modalidades amadoras, a partir do advento dos Jogos Abertos de Santa Catarina e a criação da Comissão Municipal de Esportes. Os anos de 1970 testemunharam uma intensificação das parcerias entre o Estado, os clubes e as instituições de educação, momento caracterizado por uma democratização funcional na configuração política esportiva de Blumenau. Na década de 1980, as tentativas de políticos e empresários locais para inserir o futebol profissional no cenário esportivo nacional foram malsucedidas. A análise dos clubes indica que, embora os luso-brasileiros tenham sido mais beneficiados por recursos estatais, foram os teuto-brasileiros que mais influenciaram o habitus esportivo da cidade, com predominância de um ethos amador. A análise das ligas e comissões esportivas revela uma tendência de centralização da gestão esportiva no Estado, acompanhando políticas nacionais. O monopólio estatal dos impostos permitiu ao Estado exercer maior controle sobre as práticas esportivas organizadas pelas ligas. A criação da Comissão Municipal de Esportes em 1962 fortaleceu o papel do Estado na gestão esportiva local. Em conclusão, o estudo sugere que o habitus esportivo de Blumenau foi moldado por uma complexa interação entre competição identitária, influências políticas e desenvolvimento institucional.Abstract: Blumenau, a city located in the northeast of Santa Catarina, stands out nationally and regionally for the diffusion of German culture and for its significant role in the sports scene, both amateur and professional. This study aimed to analyze the different modus operandi by which clubs, leagues and sports commissions, amid political and identity tensions, shaped the city’s sporting habitus, in the period between 1919 and 1989. A historical-documentary research was conducted based on various sources, such as newspapers, legislation, and social statutes, with the analysis of empirical data from the perspective of Norbert Elias’s configurational sociology. The hypothesis suggests that Blumenau’s sporting habitus can be explained by the competition and demarcation of identity boundaries by the Teuto-Brazilians. This phenomenon manifests itself in club associativism and the nationalist policy of territorial occupation of the Vargas era, characterized by the tension between the notions of kultur and zivilisation, a longlasting process consolidated with the development of municipal public sports policies. The study reveals that local rivalries were not limited to the ethnic origin of the clubs but also reflected disputes between neighborhoods and political influences. During the 1920s and 1940s, world wars and the rise of European Nazifascism influenced the political and sports environment. In this context, sport was seen as a modernizing instrument of society and assimilation of immigrants, a time when German institutions were marked by changes that included mergers between clubs or closures, indicating the presence of conflicts and consensus that characterized interdependent polarities. Since the creation of the Blumenauense Sports League in 1941, with the introduction of new modalities in a scenario of more regular and systematized competitions, the interdependencies between the State, clubs, directors, and sports leagues increased, resulting in improvements in the city’s sports scene. Despite the prominence of professional football in 1964, the 1960s were marked by increased investment in amateur modalities, starting with the advent of the Santa Catarina Open Games and the creation of the Municipal Sports Commission. The 1970s witnessed an intensification of partnerships between the State, clubs, and educational institutions, a time characterized by functional democratization in Blumenau’s sports political configuration. In the 1980s, attempts by local politicians and businessmen to insert professional football into the national sports scene were unsuccessful. The analysis of the clubs indicates that although the Luso-Brazilians were more benefited by state resources, it was the Teuto-Brazilians who most influenced the city’s sporting habitus, with a predominance of an amateur ethos. The analysis of the leagues and sports commissions reveals a trend of centralization of sports management in the State, following national policies. The state monopoly on taxes allowed the State to exercise greater control over the sports practices organized by the leagues. The creation of the Municipal Sports Commission in 1962 strengthened the State’s role in local sports management. In conclusion, the study suggests that Blumenau’s habitus was shaped by a complex interaction between identity competition, political influences, and institutional development.