Lesbianidades juvenis em filmes coming-of-age : espaços de formação e tempos de amadurecimento entre o cinema e a educação

Abstract

Resumo: Assumindo a m em ória com o eixo de articulação entre o cinem a, a educação e os estudos lésbicos, lanço-m e, nesta pesquisa, em u m m ovim ento de contra-arquivam ento, no qual a autobiografia, m ediada pelas relações com o cinem a e com a escola, funciona com o ferram enta m etodológica disparadora da investigação. A partir da com posição de um program a de filmes m ais ou m enos vinculados aos códigos do com ingof agee, em algum a m edida, pertencentes a u m a cultura audiovisual lésbica, discuto os m odos com o regim es espaciais e tem porais (escolares, mas n ão só) são acionados e articulados nas narrativas cinem atográficas de am adurecim ento e form ação de jovens lésbicas. Em diálogo com autorias dos cam pos das teorizações feministas e pós-estruturalistas, as principais apostas do trabalho se distribuem em quatro argum entos. O prim eiro deles é de que a noção de juventude se constitui com o u m problem a de gênero e de que, mais do que um risco, a potência queer de desviar das norm as cis-heterossexuais com põe tam bém parte im portante do que o estabelecim ento da juventude com o um a etapa específica e provisória da vida parece ten tar conter e controlar. O segundo é de que a aproxim ação entre o currículo - ao m odo com o pensado no cam po educacional - e a curadoria - com o praticada nas artes e no audiovisual - pode nos ajudar a reform ular as ideias de form ação operadas tanto pela educação q u anto pelo cinem a, propondo cam inhos mais abertos e m enos apriorísticos na produção de subjetividades. O terceiro é de que determ inados regim es espaciais, conlorm e observados em filmes com o Olivia, Qiiebramar e Uma paciência selvagem me trouxe até aqui, viabilizam experiências de corpo nas quais o prazer com partilhado, a sensualidade e a am pliação dos sentidos são capazes de levar jovens lésbicas ao encontro consigo e ao encanto pelas coisas do m undo, constituindo espaços de form ação a partir da construção de heterotopias eróticas. O quarto, por fim, desenvolvido a partir de filmes com o Você nem imagina, Pária, M osquita e M ari e As M il e Uma, é de que se, p o r um lado, os m arcadores de gênero, raça, classe e sexualidade se im bricam na constituição de tem pos e sequencialidades de vida que dão contorno à experiência juvenil, instituindo condições específicas para o desfecho "feliz" dos processos de am adurecim ento de jovens lésbicas, p o r outro, o abandono da im posição de futuros já preestabelecidos, produzidos e conform ados p o r ideais regulatórios, talvez possa apontar para práticas afetivas que distorçam a tem poralidade norm ativa, inaugurando futuridades que ten h am a coletividade com o cam inho, direção e destino.

Abstract: A ssum ing m em ory as an alloy betw een cinem a, education, and lesbian studies, this research delves into a counter-archiving m ovem ent by em ploying autobiography as a m ethodological tool to trigger investigation. T hrough a curated film program associated w ith com ing-of-age them es and lesbian audiovisual culture, I exam ine how spatial and tem poral structures (in school, b u t n o t exclusively) m anifest and interw eave in cinem atic narratives portraying th e m aturation and form ation o f young lesbians. In dialogue w ith fem inist and post-structuralist theorists, this w ork presents four m ain argum ents. T h e first one is th at th e n otion o f yo u th constitutes a gender problem and that, further to a risk, the queer p o ten cy o f deviating from cis-heterosexual norm s also form s an im portant part of w hat the establishm ent o f youth as a specific and provisional stage o f life apparently aims to contain and control. T h e second argum ent explores the convergence o f curriculum (as u n d ersto o d in the educational realm ) and curation (as practiced in the scope o f arts and audiovisual), offering new perspectives on the shaping of subjectivities and encouraging open and less predeterm ined paths of form ation. T h e third argum ent examines specific spatial conjunctures observed in films like Olivia, Breakwater, and A wild patience has taken me here, w hich enable bodily experiences w here shared pleasure, sensuality, and heightened senses are capable o f leading young lesbians to encounter them selves and be enchanted by the things o f the w orld, constituting spaces o f form ation th rough th e construction o f erotic heterotopias. Lastly, draw ing on films such as The H a lf o f It, Pariah, M o squitay M ari, and One in a thousand, th e fourth argum ent highlights th e intertw ining o f gender, race, social class, and sexuality m arkers in shaping th e tem poral sequences and experiences o f youth. W hile these m arkers often lay dow n specific conditions for th e "happy ending" o f young lesbians m aturation processes, the refuse to th e im position o f preset, regulated futures m ay indicate the potential for affective practices th at disru p t norm ative tem porality, paving the way for collective-oriented, transform ative futures.