O pensamento antifeminista brasileiro e seus impactos na educação
Resumo
Resumo: Esta tese tem como tema principal a análise do pensamento antifeminista que se desenvolveu no Brasil a partir de 2019, assim como as relações e impactos de tais narrativas no campo da educação. Partindo do campo teórico dos estudos feministas e pós-estruturalistas, são analisadas duas publicações antifeministas, os livros Feminismo: perversão e subversão, publicado em 2019, e Guia de bolso contra mentiras feministas, publicado em 2021, sendo o primeiro escrito e o segundo organizado por Ana Caroline Campagnolo. No primeiro capítulo esta pesquisa é apresentada, assim como são tecidas considerações sobre o campo de estudos em que ela se insere e sobre o contexto político brasileiro em que as fontes analisadas foram produzidas. O segundo capítulo é dedicado à análise das bases teóricas nas quais o antifeminismo se apoia. Em um primeiro momento, são exploradas as principais características da ideologia antifeminista e sua configuração ao longo da história. Em seguida, os conceitos de backlash da jornalista Susan Faludi e de pânico moral da antropóloga Gayle Rubin são apresentados com intuito de provocar uma reflexão sobre a centralidade do medo no pensamento antifeminista. O segundo capítulo se encerra com uma discussão sobre centralidade da "verdade" nas narrativas antifeministas, seja em seu alinhamento com um pensamento conspiratório, ou seja, no esforço em comprovar uma "verdade" que é baseada em características ditas naturais em homens e mulheres. O terceiro capítulo tem como fio condutor o problema da igualdade no pensamento antifeminista. As reivindicações das iluministas por igualdade de oportunidades educacionais são compreendidas pela narrativa antifeminista como uma afronta à ideologia cristã. A luta pela igualdade política é discutida através do alinhamento do pensamento antifeminista com os valores liberais. Antifeministas se preocupam em afastar ideologicamente feminismo e liberalismo, ressaltando que homens alinhados politicamente ao liberalismo teriam apoiado e obtido maior sucesso na conquista do sufrágio feminino do que feministas. Ainda no mesmo capítulo, o suposto projeto feminista de uma igualdade "totalitária" é apresentado no pensamento antifeminista relacionado ao comunismo. O capítulo quatro aborda a centralidade que a ideia de natureza ocupa no pensamento antifeminista. A forma como as fontes apresentam o conceito de "gênero" é analisada na primeira parte, como base para compreensão de que existiriam tendências naturais que influem nas áreas da educação e do trabalho. Este tema se desdobra com as narrativas sobre a entrada das mulheres no mercado de trabalho e na escola e sobre a naturalidade com que antifeministas enxergam as desigualdades de gênero nestas áreas. Por fim, o capítulo se encerra com os ataques antifeministas contra a escola, especialmente a pública, laica e mista, e com as propostas para uma educação mais adequada à "verdade" do gênero, a saber, o homeschooling e a educação single-sex. Enfatizo ao longo desta tese que os ideais antifeministas contribuem para o desgaste da democracia no Brasil, na medida em que, dentre outros pontos, alimentam o pânico moral em torno do gênero; pregam o reestabelecimento uma "ordem", em que mulheres e homens têm suas funções delimitadas de acordo com o seu gênero; e consideram que a diversidade sexual e de gênero são desvios. Nos últimos anos, reconhecemos que a educação tem sido objeto de disputas e, nesse sentido, esta tese pretende contribuir para uma reflexão sobre o papel da educação em um projeto de sociedade democrática. Abstract: The main theme of this thesis is the analysis of the antifeminist thinking that has developed in Brazil since 2019, and the relations and impacts of such narratives in the field of education. Starting from the theoretical field of feminist and post-structuralist studies, two anti-feminist publications are analyzed, the books Feminismo: perversão e subversão, published in 2019, and Guia de bolso contra mentiras feministas, published in 2021, the first being written and the second organized by Ana Caroline Campagnolo. In the first chapter this research is presented, as well as considerations are made about the field of studies in which it is inserted and about the Brazilian political context in which the analyzed sources were produced. The second chapter develops the analysis of the theoretical bases on which antifeminism rests. At first, the main characteristics of the antifeminist ideology and its configuration throughout history are explored. Then, the concepts of "backlash", developed by the journalist Susan Faludi, and, "moral panic", developed by the anthropologist Gayle Rubin, are presented with the aim of provoking a reflection on the centrality of fear in antifeminist thought. The second chapter ends with a discussion about the centrality of the "truth" in antifeminist narratives, either in its alignment with conspiratorial thinking or in the effort to prove a "truth" that is based on socalled natural characteristics in men and women. The third chapter has as its guiding thread the problem of equality in anti-feminist thinking. The claims of the women enlighteners for equal educational opportunities are understood by the anti-feminist narrative as an affront to Christian ideology. The struggle for political equality is discussed through the alignment of anti-feminist thought with liberal values. Antifeminists are concerned with ideologically distancing feminism and liberalism, pointing out that men politically aligned with liberalism would have supported and been more successful in winning women's suffrage than feminists. Still in the same chapter, the supposed feminist project of a "totalitarian" equality is presented in the antifeminist thought related to communism. Chapter four addresses the centrality that the idea of nature occupies in antifeminist thought. The way in which the sources present the concept of "gender" is analyzed in the first part, as a basis for understanding that there would be natural trends that influence the areas of education and work. This theme unfolds with the narratives about the entry of women into the labor market and at school and about the naturalness with which anti-feminists see gender inequalities in these areas. Finally, the chapter ends with the anti-feminist attacks against schools, especially the public, secular and mixed ones, and with the proposals for an education that is more adequate to the "truth" of gender, namely, homeschooling and single-sex education. I emphasize throughout this thesis that anti-feminist ideals contribute to the erosion of democracy in Brazil, insofar as, among other points, they feed the moral panic around gender; they preach the reestablishment of an "order", in which women and men have their functions delimited according to their gender; and consider sexual and gender diversity to be deviant. In recent years, we recognize that education has been the object of disputes and, in this sense, this thesis intends to contribute to a reflection on the role of education in a democratic society project. Resumen: Esta tesis tiene como tema principal el análisis del pensamiento antifeminista que se desarrolló en Brasil a partir de 2019, así como las relaciones e impactos de dichas narrativas en el campo de la educación. Desde el campo teórico de los estudios feministas y posestructuralistas, se analizan dos publicaciones antifeministas, los libros Feminismo: perversão e subversão, publicado en 2019, e Guia de bolso contra mentiras feministas, publicado en 2021, siendo el primero escrito y el segundo organizado por Ana Caroline Campagnolo. En el primer capítulo, se presenta esta investigación y se tejen consideraciones sobre el campo de estudios en el que se inscribe, así como sobre el contexto político brasileño en el que se produjeron las fuentes analizadas. El segundo capítulo se dedica al análisis de las bases teóricas en las que se apoya el antifeminismo. En un primer momento, se exploran las principales características de la ideología antifeminista y su configuración a lo largo de la historia. Luego, se presentan los conceptos de backlash de la periodista Susan Faludi y de pánico moral de la antropóloga Gayle Rubin con el fin de provocar una reflexión sobre la centralidad del miedo en el pensamiento antifeminista. El segundo capítulo concluye con una discusión sobre la centralidad de la "verdad" en las narrativas antifeministas, ya sea en su alineación con un pensamiento conspirativo o en el esfuerzo por demostrar una "verdad" basada en características supuestamente naturales en hombres y mujeres. El tercer capítulo tiene como hilo conductor el problema de la igualdad en el pensamiento antifeminista. Las reivindicaciones de las iluministas por la igualdad de oportunidades educativas son comprendidas por la narrativa antifeminista como una afrenta a la ideología cristiana. La lucha por la igualdad política se discute a través del alineamiento del pensamiento antifeminista con los valores liberales. Los antifeministas se preocupan por distanciar ideológicamente el feminismo y el liberalismo, resaltando que los hombres alineados políticamente con el liberalismo habrían apoyado y tenido mayor éxito en la conquista del sufragio femenino que las feministas. En este mismo capítulo, se presenta el supuesto proyecto feminista de una igualdad "totalitaria" relacionada con el comunismo en el pensamiento antifeminista. El capítulo cuatro aborda la centralidad que la idea de naturaleza ocupa en el pensamiento antifeminista. Se analiza cómo las fuentes presentan el concepto de "género" como base para comprender que existirían tendencias naturales que influyen en las áreas de la educación y el trabajo. Este tema se desarrolla con las narrativas sobre la entrada de las mujeres en el mercado laboral y en la escuela, y sobre la naturalidad con la que los antifeministas perciben las desigualdades de género en estas áreas. Por último, el capítulo concluye con los ataques antifeministas contra la escuela, especialmente la pública, laica y mixta, y con las propuestas para una educación más adecuada a la "verdad" de género, a saber, la educación homeschooling y la educación single-sex. Enfatizo a lo largo de esta tesis que los ideales antifeministas contribuyen al desgaste de la democracia en Brasil, en la medida en que, entre otros puntos, alimentan el pánico moral en torno al género; abogan por el restablecimiento de un "orden" en el que las mujeres y los hombres tienen funciones delimitadas según su género; y consideran que la diversidad sexual y de género son desviaciones. En los últimos años, hemos reconocido que la educación ha sido objeto de disputas y, en ese sentido, esta tesis pretende contribuir a una reflexión sobre el papel de la educación en un proyecto de sociedad democrática.
Collections
- Teses [464]