Uso de Artemia sp. em testes de toxicidade com cultivos da microalga nociva Heterosigma akashiwo
Resumo
Resumo : Nas últimas décadas, o aumento na frequência, magnitude e distribuição geográfica de microalgas nocivas tem chamado a atenção para as particularidades fisiológicas, ecológicas e toxicológicas das espécies envolvidas. Apesar disso, pouco ainda se sabe sobre as interações entre microalgas nocivas e seus principais consumidores, o zooplâncton. Heterosigma akashiwo é uma rafidofícea marinha reportada mundialmente como formadora de florações nocivas, geralmente associadas a eventos de mortalidade massiva de peixes, principalmente aqueles cultivados em tanques-rede. Fatores que propiciam a dominância desta espécie, assim como o modo de ação de sua toxina ainda não foram totalmente elucidados. O objetivo deste trabalho foi investigar os possíveis efeitos nocivos de H.akashiwo sobre o microcrustásceo Artemia sp. Para tanto, foram realizados diferentes testes em laboratório a fim de se verificar possíveis efeitos deletérios, letais ou subletais, decorrentes de exposição de metanáuplios de Artemia sp. às células de H. akashiwo em fase estacionária de crescimento e/ou ao seu conteúdo interno (extrato hidrossolúvel). Os testes tiveram duração de 96 horas, durante as quais foram avaliados o crescimento, a taxa de ingestão e a sobrevivência dos metanáuplios expostos a diferentes densidades da microalga ou concentrações de seu extrato, obtido a partir do rompimento celular com uma sonda de ultrassom (n = 5-6 frascos com ~60 indivíduos cada). A exposição às células de H. akashiwo causou uma redução significativa no crescimento dos metanáuplios (comprimento inicial: 550 µm e comprimento final: 700-800 µm), associada a menores taxas de ingestão (10-170 células.mL-1), quando comparadas ao tratamento controle com 3.200 células.mL-1 de Rhodomonas sp (1000-1150 µm; 480-640 células.mL-1). Além disso, o contato com células de H. akashiwo foi letal para Artemia sp., provocando a morte de 99 a 100% dos indivíduos expostos às maiores densidades celulares(16,000 a 160,000 células.mL-1.) após 96 horas de exposição (CL50= 3785 células.mL-1.). A morte dos metanáuplios foi precedida de sua imobilização por adesão a uma massa mucilaginosa formada pela microalga, tanto em frascos estáticos como na presença de agitação mecânica. Os indivíduos mortos que haviam sido expostos às maiores densidades celulares de H. akashiwo apresentaram uma dilatação significativa do trato digestivo quando comparados com aqueles expostos à dieta controle de Rhoodomonas sp.,por vezes acompanhada de anomalias como constipação intestinal e/ou prolapso retal. A exposição ao extrato hidrossolúvel de H. akashiwo, contudo, não se mostrou prejudicial nem mesmo na mais alta concentração testada, correspondente ao conteúdo de 180,000 células.mL-1, que registrou um efeito máximo de 7% de mortalidade, além de não ter provocado alterações significativas no comprimento e na taxa de ingestão dos metanáuplios em relação aos indivíduos expostos ao tratamento controle.Foi observada uma elevada incidência de indivíduos de Artemia sp presos à mucilagem quando expostos em densidade =16.000 células.mL-1 e diferenças significativas na taxa de ingestão e comprimento de metanáuplio, quando submetidas a uma dieta com H. akashiwo em comparação com criptoficeas.