"No somos fachas, somos españoles" : o nome franco no discurso do Vox
Resumo
Resumo: Buscamos examinar, à luz da Análise de Discurso (AD) materialista, o funcionamento discursivo do nome Franco (Francisco Franco Bahamonde, ditador espanhol) nos dizeres do VOX (partido político espanhol dito de extrema-direita). A partir do arquivo que construímos e montamos para o tema, isto é, vídeos do canal do YouTube VOX España, notamos no exercício de escuta-trituração que nos mais de 950 vídeos examinados (2014-2018), que totalizam 80 horas de gravações, uma regularidade funcionava em relação ao nome Franco: a ausência do significante e de sentidos de dictadura nas mais diferentes formulações em que o nome do ditador aparecia in praesentia. Além disso, outras designações como franquismo e franquista (mais abundantes e comuns no espanhol peninsular para designar dictadura de Franco) também materializavam o efeito de ausência de sentidos de dictadura. Por isso, propomos nessa tese a compreender: I. como são produzidos sentidos em torno ao significante dictadura no discurso do VOX; II. as configurações discursivas quando esse significante e os sentidos em torno a ele se materializam em ausência em relação a Franco, franquismo e franquista; III. o funcionamento do nome próprio Franco nos dizeres dos membros do partido. Assim sendo, o gesto de leitura apontou, no discurso do VOX, para a discrepância no domínio de significação de dictadura, que consagra a referentes como Cuba, Venezuela, Castro, Maduro, Chávez, esquerda, as reminiscências de práticas opressoras, autoritárias e de constante assédio aos direitos humanos; por outro lado, esses sentidos não se inscrevem nem em franquismo, franquista e são brecados sintática e discursivamente quando há a menção a Franco, posto que esse nome se associa na materialidade linguística a formulações genéricas como tiempo de, época de, régimen de, cuando murió, cuando gobernaba… Franco. Com base nesses fatos significantes, demonstramos nas análises que para fazer funcionar a ausência do significante e dos sentidos de dictadura os dizeres do VOX são marcados pelo discurso autoritário (ORLANDI, 1996) e também pelo antagonismo nosotros/ellos, marcas de regularidade que configuram e regulam a formação discursiva do VOX. A contraparte, o nome Franco funciona tensionado no confronto antagônico entre os efeitos de conotação (atribuição imaginária de significação ao outro) e de denotação (tentativa ilusória de imposição do puro valor lexical do significante), que nada mais fazem ver que o nome Franco, apesar das múltiplas tentativas dos membros do partido em silenciar o político, funcione como articulador simbólico que divide, organiza, regra, regulamenta e disciplina o regime do presente (apoteose irrestrita do descalabro/esquerda) e o passado (apogeu idílico/franquismo). A ausência do significante e dos sentidos de dictadura é, portanto, fato significante que sustenta a resistência no discurso do VOX em suas práticas equívocas e contraditórias Abstract: The present study examines the discursive use of the name Franco (Francisco Franco Bahamonde, Spanish dictator) in the discourse of VOX (the far-right Spanish political party). From the archive that we built and assembled for the theme, that is, videos from the YouTube channel VOX España, we noticed in the listening-triturating exercise that in the more than 950 videos examined (2014-2018), totaling 80 hours of recordings, a regularity operated in relation to the name Franco: the absence of the signifier and senses of dictatorship in the most different formulations in which the dictator's name appeared in praesentia. In addition, other designations such as Francoism and Francoist (more abundant and common in peninsular Spanish to designate Franco's dictatorship) also materialized the sense absence effect of dictatorship. Therefore, in this thesis, we propose to understand: I. how meanings are produced around the signifier dictatorship in VOX discourse; II. the discursive configurations when this signifier and the meanings around it materializes in absence in relation to Franco, Francoism and Francoist; III. the use of the name Franco in the speech of the party members. Therefore, the reading gesture pointed to the discrepancy in the domain of meaning of dictatorship in VOX discourse, which dedicates to referents such as Cuba, Venezuela, Castro, Maduro, Chávez, left, the reminiscences of oppression and authoritarianism; on the other hand, these meanings are not inscribed in neither Francoism or Francoist and are syntactically and discursively stopped when Franco is mentioned, since this name is associated in linguistic materiality with generic formulations such as regime of [Franco], when [Franco] died, when [Franco] ruled, time of [Franco]. Based on these significant facts, we demonstrate in the analyzes that in order to make the absence of the signifier and the senses of dictatorship to work, the speeches of VOX are marked by an authoritarian discourse (ORLANDI, 1996) and also by the antagonism we/they, marks of regularity that configures and regulates the discursive formation of VOX. On the other hand, the name Franco works tensioned in the antagonistic confrontation between the effects of connotation (imaginary attribution of meaning to the other/they) and denotation (illusory attempt to impose the pure lexical value of the signifier), which nothing else shows than the name Franco, despite the multiple attempts by party members to silence the ideology, it functions as a symbolic articulator that divides, organizes, rules, regulates and disciplines the regime of the present (unrestricted apotheosis of the debacle) and the past (idyllic apogee). The absence of the signifier and the senses of dictatorship is, therefore, a significant fact that sustains resistance in the VOX discourse in its equivocal and contradictory practices.
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