Das comunidades intelectuais ao marxismo brasileiro : um estudo empírico sobre a interlocução de Marx em periódicos de economia

Abstract

Resumo: Este trabalho consiste em um estudo empírico sobre a utilização de Marx em periódicos brasileiros especializados em economia. Nossa pesquisa se motivou pela ausência de estudos sobre o assunto, até mesmo na literatura de ponta sobre história do pensamento econômico brasileiro. Desta forma, nossa investigação se desenvolveu em duas frentes. A primeira delas foi a utilização de critérios bibliométricos para o desenvolvimento de um banco de dados, com o intuito de delimitarmos o uso de Marx nos periódicos brasileiros de economia. Isto se deu através da realização de uma bibliometria manual de títulos em 7556 artigos de 17 periódicos especializados em economia no período de 1990 a 201 O. Isso nos forneceu a informação de que 112 artigos faziam uso explicito de Marx em seu conteúdo, de modo que foi possível coleta-los e construir um banco de dados. Como forma de avaliar o conteúdo encontrado, aliamos critérios bibliométricos à abordagem das comunidades científicas, um novo aparato analítico em história do pensamento econômico consolidado recentemente em âmbito internacional. Isso nos possibilitou selecionar os trabalhos de teor mais pertinente. Disto, partiu-se para a leitura de 33 artigos com o intuito de investigar a existência de uma criatividade coletiva atrelada ao uso de Marx nos periódicos de economia. Constatou-se, todavia, que esta se fazia inexistente pela falta de componentes básicos, como a figura de um líder e de um mote intelectual, evidentes pelo caráter difuso do conteúdo analisado. Nestes trabalhos entre os integrantes do núcleo autoral (conjunto de analistas com o maior número de trabalhos que Marx era usado de forma explícita), a falta de uma criatividade coletiva está ligada à inexistência de citações diretas e colaborativas, no sentido deque se faz uso do trabalho de outro analista para propulsionar seu próprio. Por fim, fizemos uso de uma comparação histórica com a inserção do marxismo no pensamento econômico do pós guerra, como forma de enriquecer nossa apreciação dos resultados obtidos. Isto é, uma ilustração do que era identificado, pela literatura de história do pensamento econômico, como uma das primeiras contribuições de marxistas, em alguma medida, aos debates econômicos do pós-guerra em âmbito nacional. A motivação deste estudo reside, justamente, em uma inexistência de uma literatura especializada e atualizada em história do pensamento econômico sobre o pensamento marxista no Brasil após os anos setenta. Por conseqüência, gera-se a impressão errônea de que não existem analistas especialistas em Marx com contribuições consistentes sobre o tema. Nesse panorama, demonstramos, com esse trabalho, que há evidências de um ativismo acadêmico relacionado à Marx na economia, porém ele não é fruto, tampouco subsidia, um esforço coletivo.