Análise de negociações de identidades sociais em discursos de formação continuada para a educação das relações étnico-raciais na equipe multidisciplinar

Abstract

Resumo: Esta pesquisa, cujo tema é a formação docente para as relações étnico-raciais, objetiva investigar quais são e como são negociadas identidades sociais nesse processo de formação docente em serviço, como também analisar como a formação é compreendida pelos interlocutores da pesquisa. Entendemos a necessidade de pensar aspectos da implementação de políticas afirmativas dos últimos anos, principalmente as ações afirmativas legais, como as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação das Relações Étnico-Raciais e para o Ensino de História e Cultura Afro-Brasileira e Africana e as Diretrizes para Educação Escolar Indígena, como também as Leis N° 10.639/03 e N° 11.645/08. A Equipe Multidisciplinar (EM), criada no Paraná em 2010 (COQUEIRO et al., 2013), visa a implementar essas políticas, construindo um contexto contínuo de discussão étnico-racial nas escolas públicas paranaenses. A partir de uma Análise Dialógica, fundamentada nas discussões do Círculo de Bakhtin (BAKHTIN, 2010, 2003, 2002; BAKHTIN/VOLOCHINOV, 2006), as análises das negociações de identidades, nos discursos docentes, propiciaram novas perspectivas formativas, de modo a partir da realidade e das questões docentes, contemplando suas demandas e contradições específicas da formação antirracista. Dentre os embasamentos para discussão, estão os conceitos de identidades (HALL, 1996, 2003, 2005, 2012; CANCLINI, 2003; QUIJANO, 1992); Educação para as Relações Étnico-raciais (QUIJANO, 1992; GONÇALVES e SILVA, 2007, 2005; MUNANGA, 2005; MUNDURUKU, 2012; BANIWA, 2006); Formação docente e saberes docentes (TARDIF, 2014; FREIRE, 2002; SCHON, 1992, 2000; GIMENEZ, 2005). No campo da Linguística Aplicada, esta pesquisa qualitativa etnográfica gerou dados em reuniões no processo anual da equipe. Algumas conclusões foram apontadas: a EM é reforçada como contexto de formação antirracista na escola, sendo compreendida pelos interlocutores como lugar de construção de relatos subjetivos sobre discriminação racial, bem como lugar de ressignificação das identidades étnico-raciais; dentre as identidades raciais mais representadas nos trechos de enunciados, estão a identidade do homem/povo negro e da mulher negra, sendo os discursos sobre a identidade indígena ora silenciados ora imersos em visões essencialistas. As identidades docentes formadoras mostraram-se engajadas em uma luta pessoal, como resistência e construção de conhecimentos de sua cultura na busca por autoestima e empoderamento. Por fim, observamos que a identidade racial branca precisa ser problematizada, como também a identidade indígena precisa ser constitutiva da centralidade nas discussões da EM.

Abstract: Current research on teachers' formation in ethnic and racial relationships investigates which social identities are negotiated within the process of teachers' formation, and analyzes how formation is perceived by the interlocutors of the research. Aspects for the implementation of positive policies should be discussed, mainly legal affirmative actions, such as the National Curricular Guidelines for Education in Ethnic-Racial Relationships, for the teaching of African-Brazilian History and Culture, for Guidelines in Indian Education and Schooling, coupled to Laws 10,639/03 and 11,645/08. The Multidisciplinary Team (MT), established in the state of Paraná in 2010 (COQUEIRO et al., 2013), implements such policies and constructs a continuous context for ethnic and racial discussions in the government-run schools of the state of Paraná. A Dialogical Analysis, foregrounded on discussions by the Bakhtin Circle (BAKHTIN, 2010, 2002, 2003; BAKHTIN/VOLOCHINOV, 2006), the analyses of identity negotiations in teachers' discourses provided novel formation perspectives from teachers' reality and issues, debating their demands and specific contradictions of antiracial formation. The bases of discussion comprise identity concepts (HALL, 1996, 2003, 2005, 2012; CANCLINI, 2003; QUIJANO, 1992); education for ethnic-racial relationships (QUIJANO, 1992; GONÇALVES e SILVA, 2007; MUNANGA, 2005; MUNDURUKU, 2012; BANIWA, 2006); teachers' formation and knowledge (TARDIF, 2014; FREIRE, 2002; SCHÖN, 1992, 2000; GIMENEZ, 2005). Current qualitative and ethnographic research provided data in discussions within the team's annual process. Several conclusions were indicated: MT is underscored as a context for antiracial formation in the school, understood by interlocutors as the construction site of subjective reports on racial discrimination and as a re-significance site of ethnic-racial identities; the identity of the Negro population and of Negro males and females are among the most represented racial identities in the enunciations. Discourses on indigene identities are sometimes erased and sometimes immersed in essentialist bases. Forming teachers' identities proved to be committed in a personal struggle such as resistance and knowledge construction of their culture for self-esteem and empowerment. White racial identity should be problematized and indigene identity should be at the center of MT discussions.