Uso de espécies cultiváveis de moluscos bivalves em experimentos de acúmulo e depuração de toxinas algais
Abstract
As vantagens econômicas que um cultivo extensivo de moluscos bivalves apresenta perante os demais tipos de cultivos, em termos de disponibilidade de alimento natural, tornam-se menos atrativas diante da dificuldade do controle da qualidade do alimento disponível no ambiente marinho. Como o principal componente da dieta dos bivalves são as microalgas, microorganismos fitoplanctônicos, fotossintetizantes, que ajudam a compor a base da cadeia alimentar marinha, eles estão expostos a toda sorte de espécies, inclusive as tóxicas, como por exemplo, o dinoflagelado Dinophysis acuminata. Essa espécie de microalga nociva, que é encontrada com frequência no litoral paranaense, produz toxinas diarréicas do tipo ácido okadaico (AO) e dinofisistoxinas (DTXs). As espécies de bivalves utilizadas neste trabalho - as ostras Crassostrea gigas e C. brasiliana e o mexilhão Perna perna - fazem parte do grupo de moluscos bivalves mais cultivados e mais consumidos no Brasil, assim há uma maior preocupação em relação ao seu controle sanitário. Como os bivalves são eficientes filtradores e acumuladores de substâncias químicas, são considerados os principais agentes patogênicos transmissores do envenenamento diarréico por consumo de mariscos (DSP), um dos maiores problemas de saúde pública ligados ao consumo dos moluscos bivalves. Portanto, este trabalho propôs estabelecer bases metodológicas para a execução de estudos comparativos de acúmulo e depuração de toxinas algais por bivalves sob condições controladas em laboratório. Foi elaborado um protocolo de preparo de amostras, que poderá ser usado para vários tipos de toxinas algais e várias espécies de bivalves, apenas com algumas adaptações específicas de cada espécie. Avaliou-se a sobrevivência durante o período de manutenção em laboratório, que foi limitado pela baixa concentração alimentar oferecida. Contudo, a taxa de sobrevivência foi bastante satisfatória para as espécies de ostras C. gigas e C. brasiliana (82 % e 87 %, respectivamente), demonstrando uma boa resistência às restrições do ambiente artificial. Já os mexilhões tiveram uma taxa de sobrevivência de (59 %), revelando maior sensibilidade. Os níveis de amônia (< 0,25) e pH (6 – 7,4) permaneceram dentro do tolerável. A temperatura da água variou entre 20,5 e 23,2 °C e a salinidade oscilou entre 28 e 30 nesse período. Os parâmetros biométricos medidos durante o experimento demonstraram que em altura de concha, os valores médios foram de 29 mm para C. brasiliana (n = 100), 32 mm para P. perna (n = 50) e 34,3 mm para C. gigas (n = 100). Entretanto, C. brasiliana apresentou um peso desconchado (tecidos moles somados), em média quase duas vezes superior ao das demais espécies (0,94 g, contra 0,49 g de C. gigas e 0,57g de P. perna). A fração composta pela glândula digestiva representou, em média, 23,4% do peso dos mexilhões e entre 29,5 e 31,4% do peso das ostras. Os bivalves foram expostos simultaneamente a uma suspensão rica em células de Dinophysis acuminata (entre 1.350 e 13.750 células L-1 ), com total sobrevivência dos indivíduos durante os períodos de acúmulo e depuração de toxinas.