As ruínas e o condor : breves escritos sobre alegoria, memória e ausência
Resumo
Resumo: Como tentativa de contribuir para os estudos da representação do trauma deixado pelas ditaduras do Condor no corpo social e cultural das coletividades do Cone Sul americano, este trabalho se concentra em quatro narrativas escritas na primeira década do século XXI na Argentina, Chile, Uruguai e Brasil. São elas, Dos veces junio, de Martin Kohan, Impuesto a la carne, de Diamela Eltit, Furgón de los locos, de Carlos Liscano e Não falei, de Beatriz Bracher. O estudo parte da ideia de que a violenta crise neoliberal argentina de 2001/2002 significou também uma quebra no contínuo econômico, social e cultural implantado pelas ditaduras e seguido pelos regimes conservadores ulteriores a elas. O que marcou também o declínio das táticas de esquecimento da terapia de choque neoliberal, abrindo espaço para um amplo movimento de revisão histórica e crítica do passado ditatorial. Como representações literárias desse processo, as obras elencadas neste estudo empreendem um retorno à perda imposta pelas ditaduras e recuperam o trabalho de luto sobre ela por meio de expedientes alegóricos ou mnemônicos. Ao representar a destruição ditatorial como imagem ruinosa do passado, e ao incidir sobre essa perda, tentando encontrar nela algum significado, pessoal, coletivo, estas narrativas contribuem para um processo dialético de releitura da experiência ditatorial e de recuperação da memória apropriada pelos regimes totalitários. As ruínas ditatoriais são assim expostas como representações literárias de uma falta fundamental que, no instante de cognoscibilidade do agora, se bifurca em dois sentidos históricos: como ausência e como ofensa. Palavras-chave: ruínas ditatoriais; alegoria; memória; ausência Abstract: As an attempt to contribute to the studies of the representation of the trauma left by the Condor Dictatorships in the social and cultural bodies of the American Southern Cone collectivities, this work concentrates on four narratives written in the first decade of the 21th century in Argentina, Chile, Uruguay and Brazil: Dos veces junio, by Martin Kohan, Impuesto a la carne, by Diamela Eltit, Furgón de los locos, by Carlos Liscano and Não falei, by Beatriz Bracher. The premise of the study is that the violent Argentinian neoliberal crisis of 2001/2002 also meant a rupture in the economic, social and cultural continuum implemented by the dictatorships and followed by the conservative regimes that came after them. It also marked the decline of the oblivion tactics of the neoliberal shock therapy, giving room for a broad movement of historical review and criticism of the dictatorial past. As literary representations of this process, the works featured in this study make a journey back to the loss imposed by these dictatorships and recover the mourning over it through allegorical and mnemonic expedients. When representing the dictatorial destruction as a ruinous image of the past and focusing on this loss, in an attempt to find meaning in it, these narratives contribute to a dialectic process of reinterpretation of the dictatorial experience and recovering of the memory expropriated by totalitarian regimes. The dictatorial ruins are thus exposed as literary representations of a fundamental deficiency, which, in the now of its recognizability, bifurcates in to two different historical meanings: as absence and as offense. Key words: dictatorial ruins; allegory; memory; absence.
Collections
- Teses [204]