Avaliação ecotoxicológica de conservantes aplicados à indústria de cosméticos

Abstract

Resumo : A ecotoxicologia exerce um papel imprescindível em prol da proteção dos ecossistemas terrestres e aquáticos. Nesse sentido, ingredientes de produtos cosméticos, como conservantes contra microrganismos, podem contaminar esses ambientes e causar efeitos a organismos não-alvos. Por isso, foi realizada uma avaliação ecotoxicológica dos conservantes álcool benzílico (AB) e etilhexilglicerina (EEG) em diversos sistemas-teste, representativos de cada ecossistema e de diferentes níveis tróficos. O levantamento de dados e as predições in silico mostraram que AB não é persistente em solo nem em água, e que ambos os conservantes apresentam baixos potenciais de bioacumulação. O teste de toxicidade com o vegetal superior Allium cepa demonstrou o impacto de AB e EEG à germinação e crescimento de raízes de vegetais em estágios iniciais de desenvolvimento, entretanto, no teste de cito-/genotoxicidade não foram encontrados efeitos significativos de ambas as substâncias. Na avaliação com a microalga clorófita Desmodesmus subspicatus, foi constatada uma inibição no crescimento pelos dois conservantes. Em ambos os sistemas-teste vegetais, AB apresentou um maior potencial de toxicidade em relação à EEG. Contrariamente aos resultados em sistemas vegetais, nos ensaios de citotoxicidade (resazurina, CFDA AM e vermelho neutro) com as linhagens celulares de peixe RTgill-W1 e ZFL, foi observado de forma preliminar um maior potencial de toxicidade de EEG, porém será necessário ajustar a faixa de concentrações utilizadas no teste. Tais resultados podem indicar uma diferença na sensibilidade das membranas celulares vegetais e animais aos conservantes testados, e para isso são sugeridas mais pesquisas acerca do modo de ação de AB e EEG. Destaca-se que o escopo deste trabalho não considera a exposição real a concentrações ambientalmente relevantes dos conservantes testados, portanto, avaliações de risco devem ser conduzidas para compreender possíveis efeitos danosos dessas substâncias à biota terrestre e aquática

Abstract : Ecotoxicology plays an essential role in protecting terrestrial and aquatic ecosystems. In this sense, ingredients of cosmetic products, such as preservatives against microorganisms, can contaminate these environments and cause effects to non-target organisms. Therefore, an ecotoxicological evaluation of the preservatives benzyl alcohol (AB) and ethylhexylglycerin (EEG) was carried out in several test systems, representative of each ecosystem and different trophic levels. Data collection and in silico predictions showed that AB is not persistent in soil or water, and that both preservatives have low bioaccumulation potentials. The toxicity test with the superior plant Allium cepa demonstrated the impact of AB and EEG on germination and root growth of plant systems in early stages of development, however, in the cyto-/genotoxicity test, no significant effects were found for both substances. In the evaluation with the chlorophyte microalgae Desmodesmus subspicatus, growth inhibition was verified for both preservatives. In both plant test systems, AB showed greater toxicity potential compared with EEG. Contrary to results in plant systems, in the cytotoxicity assays (resazurin, CFDA-AM and neutral red) with the RTgill-W1 and ZFL fish cell lines, a greater potential for EEG toxicity was preliminarily observed, but it will be necessary to adjust the range of concentrations used in the test. Such results may indicate a difference in the sensitivity of plant and animal cell membranes to the preservatives tested, and for that, further research on the mode of action of AB and EEG is suggested. It is noteworthy that the scope of this work does not consider actual exposure to environmentally relevant concentrations of the tested preservatives, therefore, risk assessments must be conducted to understand possible harmful effects of these substances on terrestrial and aquatic biota