Tecnologia e inclusão na formação continuada em ciências : podcast como artefato para a apropriação docente das tecnologias digitais

Abstract

Resumo: A presente tese teve como objetivo analisar o uso de podcasts, em um processo formativo-tecnológico-inclusivo e suas implicações para os professores de Ciências em relação às percepções, utilização e apropriação desses recursos. O estudo foi desenvolvido a partir de um curso formativo que integrou atividades síncronas e assíncronas, com a produção, análise e utilização de podcasts como recurso pedagógico central. A investigação baseou-se em planos de aula esperados e realizados, bem como nos relatos de experiência e questionários dos participantes, utilizando como aporte metodológico a análise de conteúdo de Bardin e o método construtivo-interpretativo de González Rey, que possibilitaram a compreensão da complexidade dos processos formativos e das práticas docentes mediadas por tecnologias. Os resultados da pesquisa evidenciam que, embora o curso tenha alcançado uma expressiva procura inicial, contabilizando 237 inscrições, a participação efetiva nas atividades formativas foi parcial. Apenas uma parcela minoritária, composta por 21 professores cursistas, manteve envolvimento contínuo, participando dos encontros síncronos e cumprindo integralmente as tarefas propostas. Esse dado revela um descompasso entre o interesse inicial e a efetiva permanência no curso, o que pode estar relacionado a fatores como limitações de tempo, dificuldades de acesso às tecnologias digitais ou à própria dinâmica da formação a distância. Contudo, a análise qualitativa revelou que a participação restrita não significou ausência de aprendizagem ou de engajamento crítico. Ao contrário, os planos de aula e os relatos produzidos demonstraram apropriação significativa dos conteúdos, integração de artefatos tecnológicos e reflexões consistentes sobre práticas pedagógicas inclusivas. Isso indica que a efetividade da formação não se restringe ao número de participantes ativos, mas à profundidade da apropriação conceitual e ao potencial de transformação da prática docente. O uso dos podcasts destacou-se como estratégia pedagógica central, por proporcionar flexibilidade temporal, acessibilidade e autonomia no processo de aprendizagem. A possibilidade de acesso assíncrono favoreceu a adaptação às condições reais dos professores cursistas, permitindo uma experiência formativa inclusiva e reflexiva. Além disso, a preocupação com a acessibilidade, como no caso da validação dos recursos para pessoas surdas, reforçou o caráter democratizador do conhecimento, confirmando a relevância dos podcasts enquanto artefatos tecnológicos de inclusão pedagógica e digital. No que se refere aos objetivos específicos, a pesquisa alcançou três importantes resultados: (i) a produção de podcasts pelos cursistas promoveu narrativas integradoras, articulando conteúdos pedagógicos e tecnológicos de forma crítica e reflexiva; (ii) a apropriação das TDIC foi evidenciada na inserção de artefatos digitais nos planos de aula e relatos, demonstrando inovação e adaptação nas práticas docentes; e, (iii) os podcasts consolidaram-se como recursos formativos e inclusivos, permitindo aprendizagens autônomas e promovendo práticas de ensino mais equitativas. Apesar dos avanços, a pesquisa apresentou limitações: a adesão parcial dos docentes reduziu a amplitude da análise quantitativa e restringiu a generalização dos resultados; o recorte específico em professores de Ciências limitou a extrapolação para outras áreas; e, a ausência de acompanhamento longitudinal impossibilitou a avaliação do impacto direto das mudanças nas práticas pedagógicas em sala de aula. Para futuras pesquisas, recomenda-se ampliar o número de participantes e diversificar os contextos de aplicação, contemplando diferentes disciplinas e níveis de ensino, além de realizar pesquisas longitudinais e comparativas com outros recursos digitais, 8 de modo a avaliar a sustentabilidade das práticas inclusivas e o impacto direto nos estudantes

Abstract: The present thesis aimed to analyze whether and how the use of podcasts, within a formative-technological-inclusive process, modifies Science teachers’ perceptions regarding the appropriation and use of Digital Information and Communication Technologies (DICT). The study was developed through a training course that integrated synchronous and asynchronous activities, with the production, analysis, and use of podcasts as the central pedagogical resource. The investigation was based on both expected and carried-out lesson plans, as well as participants’ experience reports and questionnaires, employing Bardin’s content analysis and González Rey’s constructive-interpretative method as methodological approaches. These allowed for an understanding of the complexity of formative processes and teaching practices mediated by technologies. The results show that, although the course registered high initial demand, actual engagement in the activities was partial. Only a minority of participants attended synchronous sessions and fully completed the proposed tasks. However, qualitative analysis revealed that restricted participation did not mean a lack of learning or critical engagement. On the contrary, the lesson plans and reports produced demonstrated significant appropriation of content, integration of technological artifacts, and consistent reflections on inclusive pedagogical practices. This indicates that the effectiveness of the training is not limited to the number of active participants, but rather to the depth of conceptual appropriation and the potential for transforming teaching practice. The use of podcasts stood out as a central pedagogical strategy, as it provided temporal flexibility, accessibility, and autonomy in the learning process. The possibility of asynchronous access favored adaptation to the real conditions of the participating teachers, allowing for an inclusive and reflective formative experience. Furthermore, the concern with accessibility—such as validating resources for deaf participants—reinforced the democratizing character of knowledge, confirming the relevance of podcasts as technological artifacts for pedagogical and digital inclusion. With regard to the specific objectives, the research achieved three important results: (i) the production of podcasts by the participants fostered integrative narratives, critically and reflectively articulating pedagogical and technological content; (ii) the appropriation of DICT was evidenced by the inclusion of digital artifacts in lesson plans and reports, demonstrating innovation and adaptation in teaching practices; and (iii) podcasts were consolidated as formative and inclusive resources, enabling autonomous learning and promoting more equitable teaching practices. Despite these advances, the research presented some limitations: the partial adherence of teachers reduced the scope of quantitative analysis and limited the generalization of results; the specific focus on Science teachers constrained extrapolation to other fields; and the absence of longitudinal monitoring made it impossible to evaluate the direct impact of the changes on classroom pedagogical practices. For future research, it is recommended to expand the number of participants and diversify the contexts of application, encompassing different subjects and levels of education, as well as to conduct longitudinal and comparative studies with other digital resources, in order to assess the sustainability of inclusive practices and their direct impact on students