Resumo: O trabalho artesanal é abordado nos estudos organizacionais de maneira ampla, refletindo uma problemática: um trabalho artesanal que não segue a lógica capitalista de produção e o trabalho artesanal "empreendedor". Questionamos o empreendedorismo sendo vinculado ao fazer artesanato relacionando um trabalho muitas vezes marginalizado a uma ideia de espírito artesão ou ao movimento hipster – masculinizado, feito de maneira sequencial e seguindo linha de produção ao qual o trabalho artesanal por definição se opõe. Abordamos nessa tese-renda o trabalho artesanal tradicional, muitas vezes feminino, feito às margens da sociedade e que resiste ao longo do tempo em condições adversas. Apesar disso, não partimos de uma definição única sobre o que é artesanato, mas o entendemos como uma prática social situada: não é imutável, mas transformado enquanto é desenvolvido e que transforma quem o faz. Além disso, a ideia de situacionalidade parte de contextualizar o artesanato às condições sociais, econômicas e históricas de quem o faz, não podendo ser tratado de maneira generalista na nossa perspectiva, e utilizamos Michel de Certeau como teórico da prática cultural para analisar o trabalho artesanal tradicional objeto desta pesquisa: a renda irlandesa de Divina Pastora, em Sergipe. Para tanto, utilizamos uma abordagem metodológica situada próxima às artesãs-artistas: qualitativa e com inspirações etnográficas. Entendemos a necessidade de uma pesquisa próxima às rendeiras de Divina Pastora para conseguirmos atingir ao objetivo da pesquisa de alinhavar as práticas sociais que perfazem o saber-fazer renda irlandesa situada em Divina Pastora (SE). Para tanto, partimos da etnografia para selecionar as formas de coletar os dados, por meio de observações participantes no cotidiano das rendeiras participantes – na casa ou na Associação – e entrevistas narrativas. Selecionamos a Mestra Rendeira como centro da nossa pesquisa e as demais participantes foram laços dela: Maria Divina. As práticas sociais percebidas revelaram os ditos e não-ditos que perfazem a renda irlandesa: as dores e os alívios de rendar. Percebemos como nós da renda a falta de assinatura nas obras, que passa a ser propriedade da Associação e não das rendeiras; a ausência de obras próprias em suas casas; a necessidade econômica de rendar; a falta de reconhecimento dos saberes; o vínculo à casa de um trabalho feminino; e os reflexos da renda no corpo. Os alívios apreendidos foram: a ocupação que a renda possibilita às mulheres; o espaço da Associação como um lugar praticado em que as relações se mantêm; o reconhecimento público e homenagens; a valorização dos saberes e o reconhecimento de suas assinaturasAbstract: Craftwork is approached in organizational studies broadly, reflecting a problem: artisanal work that does not follow the capitalist logic of production and "entrepreneurial" artisanal work. We question whether entrepreneurship is linked to handicraft making, relating work that is often marginalized to an idea of the artisan spirit or to the hipster movement - masculinized, made in a sequential manner and following a production line, to which handicraft work is by definition opposed. In this thesis-surrender, we look at traditional craft work, often done by women, on the margins of society and which has endured over time in adverse conditions. Despite this, we don't start from a single definition of what craftsmanship is but understand it as a situated social practice: it is not immutable but transformed as it is developed and which transforms those who make it. We also use Michel de Certeau as a theorist of cultural practice to analyze the traditional craftwork that is the subject of this research: the Irish lace of Divina Pastora, in Sergipe. To do this, we used a methodological approach that is close to the craft artists: qualitative and with ethnographic inspirations. We understand the need for research close to the lace makers of Divina Pastora in order to achieve the research objective of aligning the social practices that make up the Irish lace know-how located in Divina Pastora (SE). To do this, we used ethnography to select the ways of collecting data, through participant observations in the daily lives of the participating lace-makers - at home or in the Association - and narrative interviews. We selected Lacemaker Master as the center of our research and the other participants were her ties: Maria Divina. The perceived social practices revealed the sayings and unsaid that make up Irish lace: the pains and reliefs of lacemaking. The knots in the lace were the lack of signatures on the pieces, which become the property of the Association and not the lace makers; the absence of their own pieces in their homes; the economic need to lace; the lack of recognition of knowledge; the attachment to the home of a female job; and the effects of lace on the body. The reliefs learned were the occupation that lace makes possible for women; the space of the Association as a practiced place where relationships are maintained; public recognition and tributes; the appreciation of knowledge and the recognition of their signatures