A orquestra lírica francesa, de suas origens ao ocaso de Armide
Resumo
Resumo: O objetivo da presente tese é o de investigar as práticas orquestrais na Ópera de Paris no período balizado pelo surgimento do estilo operístico francês e o declínio da tragédie en musique. A pesquisa foi restringida a dois tópicos, complementares, a partir dos quais este trabalho foi seccionado. O primeiro deles é o delineamento dos conjuntos instrumentais franceses, institucionalizados, baseados nos arcos, objetivando identificar, delimitar e sistematizar seus elementos identitários, bem como o processo de sua transformação em ambientes distintos, suas particularidades e confluências. O segundo ponto de interesse, concentra-se no comportamento da orquestra da Ópera de Paris frente ao repertório. Para tanto, centramos nossa atenção em Armide, tragédie en musique de Jean-Baptiste Lully e Philippe Quinault, mantida na programação ao longo desse período e continuamente adaptada aos novos modelos orquestrais. Para a discussão sobre o processo de constituição da orquestra na França, diante da vastidão de conjuntos e organizações que os mantiveram, optamos por focar naqueles filiados à confraria de menestréis de Saint-Julien e à corte francesa, além da própria orquestra da Ópera de Paris, que guardavam fortes laços históricos entre si. Entre as questões que nortearam as discussões, estão o instrumentário e o equilíbrio dos conjuntos instrumentais, sua categorização e transformação, o funcionamento institucional e as condições de trabalho, bem como os usos práticos, especialmente no campo dos espetáculos cênico-musicais. Partindo da premissa da indissociabilidade entre a orquestra da Ópera de Paris e seus repertórios, a segunda parte da pesquisa é dedicada ao estudo de caso de Armide. Programada na Ópera de Paris de 1686 a 1766, o seu declínio coincide com o ocaso da orquestra ligada aos moldes lullistas, fornecendo um importante retrato do processo de sua transformação. Tendo como referência o trabalho de Lois Rosow (1981) acerca da história performática da obra, adotamos como material de referência a revisão de François Francreur, produzida em 1781 (BnF, Cons.Rés.F.564). Culminando em um distanciamento do modelo original por volta dos anos 1740, a orquestra do teatro adquiriu uma nova constituição física, abandonando parte do instrumentário associado à tradição seiscentista de música de espetáculo francesa. Com uma formação mais alinhada às tendências internacionais, ainda que mantendo a memória de práticas enraizadas no imaginário musical parisiense, recebeu diferentes instrumentos, criando ferramentas inauditas para os compositores e um distinto universo sonoro para o público das tragédies en musique. A partir da análise, constatamos que havia, dentre os revisores de obras do passado, uma tentativa de rememoração das práticas orquestrais seiscentistas, perpetuando a influência de Lully na Ópera de Paris até os últimos anos do Antigo Regime Abstract: The aim of this thesis is to investigate orchestral practices at the Paris Opera during the period marked by the emergence of the French operatic style and the decline of the tragédie en musique. The research was limited to two complementary topics, from which this work was divided. The first topic is the delineation of institutionalized French instrumental ensembles based on strings, with the objective of identifying, delimiting, and systematizing their identity elements, as well as the process of their transformation in different environments, their particularities, and convergences. The second point of interest focuses on the behavior of the Paris Opera orchestra in relation to the repertoire. To this end, we centered our attention on Armide, a tragédie en musique by Jean-Baptiste Lully and Philippe Quinault, which was maintained in the program throughout this period and continuously adapted to new orchestral models. For the discussion on the process of constituting the orchestra in France, given the vast number of ensembles and organizations that supported them, we chose to focus on those affiliated with the confraternity of minstrels of Saint-Julien and the French court, in addition to the Paris Opera orchestra itself, which had strong historical ties among them. The issues that guided the discussions include the instrumental composition and balance of the ensembles, their categorization and transformation, institutional functioning and working conditions, as well as practical uses, especially in the field of scenic-musical performances. Based on the premise of the inseparability between the Paris Opera orchestra and its repertoires, the second part of the research is dedicated to the case study of Armide. Programmed at the Paris Opera from 1686 to 1766, its decline coincides with the waning of the orchestra linked to Lully's models, providing an important portrayal of its transformation process. Taking Loïs Rosow's (1981) work on the performance history of the piece as a reference, we adopted François Francoeur's 1781 revision as reference material (BnF, Cons.Rés.F.564). Culminating in a departure from the original model around the 1740s, the theater's orchestra acquired a new physical constitution, abandoning part of the instrumentation associated with the 17th-century French musical theater tradition. With a formation more aligned with international trends, while still retaining the memory of practices rooted in the Parisian musical imagination, it incorporated different instruments, creating unprecedented tools for composers and a distinct sound universe for the audience of the tragédies en musique. From the analysis, we found that among the revisers of past works, there was an attempt to recall 17th-century orchestral practices, perpetuating Lully's influence at the Paris Opera until the last years of the Ancien Régime
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