Ensinar é colonizar? : por uma perspectiva decolonial no ensino de sustentabilidade
Resumo
Resumo: O mundo enfrenta profundas transformações, com agravamento de desastres ambientais, crises climáticas, pandemias globais e aumento das desigualdades sociais. Os mais ricos desfrutam de um bem-estar cada vez melhor, em contraste com o aumento da população pobre, que não consegue garantir sequer o alimento diário. O atual modelo econômico contribui para a manutenção desse estado de coisas e, ao mesmo tempo, agrava a degradação ambiental em nome do aumento da produção de bens e serviços que, paradoxalmente, não atendem às necessidades da grande maioria da população. Tal situação de desequilíbrio, de proporção global, incide de maneira especial no Estado de Rondônia, que historicamente foi colonizado com ações voltadas a exploração das suas riquezas naturais em benefício de uma pequena parcela operante de um capitalismo predatório. Neste cenário, servindo como ponto de partida dentro da atual geopolítica do conhecimento, analisar como o ensino de sustentabilidade é praticado em uma Instituição de Ensino Superior (IES) da Amazônia constitui um objeto de estudo relevante. Historicamente, o ensino de sustentabilidade tem sido orientado por epistemologias norte-euroamericanas, as quais se colocam na lógica da ciência moderna como superiores a outras formas de conhecimento. Contudo, essa lógica não tem conseguido encontrar soluções verdadeiramente sustentáveis para o ambiente natural até o momento. Tal análise é crucial, visto que a sustentabilidade representa um pilar fundamental para reorientar práticas educacionais e desenvolver uma consciência crítica acerca das interações entre ambiente, economia e sociedade. Com isso em mente, direcionamos nossa atenção para o ensino de sustentabilidade nos cursos de gestão e negócios do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Rondônia (IFRO), com o objetivo de analisar como as diferentes epistemologias do Sul e do Norte global estão sendo inseridas no currículo acadêmico, para então buscar por uma ressignificação do ensino de sustentabilidade. Teoricamente, este trabalho está alinhado com os estudos decoloniais, movimentos de lutas contra-hegemônicos que desafiam o colonialismo presente nos territórios do Sul global. Como suporte metodológico, utilizamos a Análise Crítica do Discurso (ACD), de Norman Fairclough, com ênfase no aspecto social das análises. Os dados foram coletados em documentos e por meio de entrevistas com os docentes especialistas em sustentabilidade da instituição pesquisada. Dentre os principais resultados da investigação, destaca-se a identificação de um ensino focado na educação ambiental que adota uma abordagem reducionista da sustentabilidade, concentrando-se primariamente na transmissão de conhecimentos sobre os problemas ambientais, sem considerar adequadamente as dimensões sociais, culturais e políticas envolvidas. Essa perspectiva fundamenta-se em modelos de comportamento ambientalmente correto e na divulgação de mensagens moralizadoras sobre a importância da conservação e proteção do meio ambiente. Além disso, constatou-se uma significativa resistência ao ensino de sustentabilidade no Estado de Rondônia, reflexo de sua formação social e econômica, marcada por uma longa história de colonização. Como principais conclusões, o estudo apresenta uma visão ampla, reflexiva e crítica da sustentabilidade em uma IES na Amazônia, focando em seu contexto social e na interpretação das práticas discursivas ali existentes Além disso, enfatiza-se a urgência de uma transformação curricular que incorpore pedagogias decoloniais, promovendo um entendimento de sustentabilidade que valorize saberes locais e indígenas e contribua para uma prática educativa verdadeiramente transformadora e ajustada às realidades socioambientais da Amazônia Abstract: The world is undergoing profound transformations, with the exacerbation of environmental disasters, climate crises, global pandemics, and increasing social inequalities. The wealthiest enjoy ever-improving well-being, in stark contrast to the growing poor population that struggles even to secure daily sustenance. The current economic model perpetuates this state of affairs while simultaneously exacerbating environmental degradation in the name of increasing the production of goods and services, which paradoxically do not meet the needs of the vast majority of the population. This situation of imbalance, of global proportion, particularly affects the State of Rondônia, which has historically been colonised with actions aimed at exploiting its natural riches for the benefit of a small operative segment of predatory capitalism. In this context, serving as a starting point within the current geopolitics of knowledge, analysing how sustainability education is practised in a Higher Education Institution (HEI) in the Amazon represents a relevant object of study. Historically, sustainability education has been guided by North-Euroamerican epistemologies, which position themselves within the logic of modern science as superior to other forms of knowledge. However, this logic has so far failed to find truly sustainable solutions for the natural environment. Such analysis is crucial, as sustainability represents a fundamental pillar in reorienting educational practices and developing a critical awareness of the interactions between environment, economy, and society. With this in mind, we direct our attention to the teaching of sustainability in management and business courses at the Federal Institute of Education, Science and Technology of Rondônia (IFRO), with the aim of analysing how different epistemologies from the Global South and North are being incorporated into the academic curriculum, to then seek a re-signification of sustainability education. Theoretically, this work aligns with decolonial studies, counter-hegemonic struggle movements that challenge the colonialism present in the territories of the Global South. As a methodological support, we use Norman Fairclough's Critical Discourse Analysis (CDA), with an emphasis on the social aspect of analyses. Data were collected from documents and through interviews with faculty experts in sustainability at the institution studied. Among the main findings of the investigation, there is the identification of an education focused on environmental education that adopts a reductionist approach to sustainability, primarily concentrating on the transmission of knowledge about environmental problems, without adequately considering the social, cultural, and political dimensions involved. This perspective is based on models of environmentally correct behaviour and on the dissemination of moralising messages about the importance of conservation and protection of the environment. Moreover, a significant resistance to the teaching of sustainability in the State of Rondônia was found, reflecting its social and economic formation, marked by a long history of colonisation. As main conclusions, the study presents a broad, reflective, and critical view of sustainability in an HEI in the Amazon, focusing on its social context and the interpretation of existing discursive practices. Additionally, the urgency of a curricular transformation that incorporates decolonial pedagogies is emphasised, promoting an understanding of sustainability that values local and indigenous knowledge and contributes to a truly transformative educational practice, adjusted to the socio-environmental realities of the Amazon
Collections
- Teses [119]