Influência da pandemia de Covid-19 na dispensação de medicamentos para pessoas vivendo com HIV no Paraná

Abstract

Resumo: Desde o primeiro caso de HIV/Aids no Brasil, há aproximadamente 40 anos, diversas crises de saúde pública exigiram do Sistema Único de Saúde (SUS) respostas robustas. Contudo, nenhuma alcançou a magnitude da pandemia de COVID-19, que impôs medidas de restrição e confinamento, trazendo repercussões sanitárias, econômicas e sociais significativas. O objetivo do presente estudo foi analisar a influência da pandemia de COVID-19 sobre as dispensações de tratamento antirretroviral (TARV) para pessoas vivendo com HIV (PVHA), no período de 2013 a 2022, nas 22 Regionais de Saúde (RS) no Paraná. Ainda, estimou-se o número de pacientes novos para início da terapia no mesmo período. A metodologia aplicada foi análise de Série Temporal Interrompida (STI), através do Software RStudio. As análises referentes aos números absolutos de dispensação de TARV e ao número de pacientes novos foram conduzidas no Microsoft Excel. Os dados coletados incluíram o número de retiradas de medicamentos registrado mensalmente no Sistema de Controle Logístico de Medicamentos (SICLOM), além dos registros de início de tratamento. Os relatórios foram fornecidos pelo Centro de Medicamentos do Paraná (CEMEPAR). De forma geral, a pandemia de COVID-19 contribuiu para a redução nas dispensações de TARV para PVHA no estado do Paraná no período de 2020 até 2022, o que também foi observado em 17 RS na análise individual. Para quatro RS (União da Vitória, Foz do Iguaçu, Paranavaí e Toledo) as análises foram indeterminadas, não sendo possível excluir a possibilidade de que o impacto da pandemia tenha sido nulo sobre as dispensações de TARV. Na RS de Francisco Beltrão houve aumento da taxa de dispensação de TARV para o mesmo período. Quanto ao número de pacientes em início de tratamento, houve cadastro em todos os anos do período estudado, com tendência de queda em 19 RS. As RS de Paranavaí e Ivaiporã obtiveram aumento de pacientes novos cadastrados no início da pandemia, enquanto a RS de Guarapuava permaneceu estável. Notou-se redução nos números absolutos de retiradas de TARV após 2018 em oito RS e após 2019 em nove RS. As RS de Ponta Grossa, União da Vitória, Foz do Iguaçu, Cascavel, Paranavaí, Londrina e Toledo apresentaram aumento das dispensações a partir de 2020 e a RS de Francisco Beltrão exibiu aumento progressivo das dispensações de TARV ao longo de todo o período. Em 2022, a RS Metropolitana apresentou o maior número de dispensação de TARV (83.050) e 1.297 pacientes novos, enquanto a RS de Ivaiporã exibiu o menor número de dispensações (875) e 17 pacientes novos. Em suma, houve tendência de queda nas dispensações de TARV durante a pandemia, o que pode prejudicar a adesão ao tratamento farmacológico e elevar a carga viral, culminando no aparecimento de infecções oportunistas e Aids. A chegada de novos pacientes aos serviços de saúde pode ter sido inibida pelas demandas impostas pela pandemia de COVID-19 aos serviços, somadas ao medo da contaminação e ao estigma da infecção pelo HIV, que também podem ter contribuído para a queda das dispensações de TARV.

Abstract: Since the first HIV/AIDS case in Brazil, approximately 40 years ago, various public health crises have demanded robust responses from the Unified Health System (SUS). However, none reached the magnitude of the COVID-19 pandemic, which imposed restrictions and lockdowns, bringing significant health, economic, and social repercussions. The aim of the present study was to analyze the influence of the COVID-19 pandemic on the dispensing of antiretroviral treatment (ART) for people living with HIV (PLWH) from 2013 to 2022 across the 22 Health Regions (HRs) in Paraná. Additionally, the number of new patients starting therapy in the same period was estimated. The methodology applied was Interrupted Time Series (ITS) analysis using RStudio Software. Analyses related to the absolute numbers of ART dispensation and the number of new patients were conducted using Microsoft Excel. The collected data included the number of medication withdrawals recorded monthly in the Medication Logistic Control System (SICLOM), as well as treatment initiation records. The reports were provided by the Paraná Medication Center (CEMEPAR). Overall, the COVID-19 pandemic contributed to a reduction in ART dispensation for PLWH in Paraná between 2020 and 2022, which was also observed in 17 HRs in the individual analysis. For four HRs (União da Vitória, Foz do Iguaçu, Paranavaí, and Toledo), the analyses were inconclusive, and it was not possible to rule out the possibility that the pandemic had no impact on ART dispensation. In the HR of Francisco Beltrão, there was an increase in ART dispensation during the same period. Regarding the number of new patients starting treatment, new registrations occurred in all years of the study period, with a declining trend in 19 HRs. The HRs of Paranavaí and Ivaiporã presented an increase in new patient registrations at the beginning of the pandemic, while the HR of Guarapuava remained stable. A reduction in the absolute numbers of ART withdrawals was noted after 2018 in eight HRs and after 2019 in nine HRs. The HRs of Ponta Grossa, União da Vitória, Foz do Iguaçu, Cascavel, Paranavaí, Londrina, and Toledo showed an increase in ART dispensations starting in 2020, and the HR of Francisco Beltrão exhibited a progressive increase in ART dispensation throughout the entire period. In 2022, the Metropolitan HR presented the highest number of ART dispensations (83,050) and 1,297 new patients, while the HR of Ivaiporã had the lowest number of dispensations (875) and 17 new patients. In summary, there was a downward trend in ART dispensations during the pandemic, which may compromise adherence to pharmacological treatment and increase viral load, leading to the emergence of opportunistic infections and AIDS. The arrival of new patients to health services may have been hindered by the demands imposed by the COVID-19 pandemic on these services, combined with the fear of contamination and the stigma of HIV infection, which may have also contributed to the decline in ART dispensation.