A experiência de ser gestora : poder e ambivalência emocional na identidade de mulheres na alta gestão em instituições federais de ensino
Resumo
Resumo: No Brasil, em 2024, apenas 20 (29%) dos 69 cargos de reitoria nas universidades federais são ocupados por mulheres (Andifes, 2024); já nos institutos federais, dos 41 cargos de reitoria, apenas 14 (34%) (Conif, 2024) – o que evidencia uma sub-representação feminina. Diante do gap teórico acerca da articulação entre o poder e a ambivalência emocional na constituição identitária da mulher em cargos de alta gestão, o objetivo deste estudo foi compreender como as relações de poder e a ambivalência emocional articulam-se na experiência das mulheres que se constituem identitariamente em cargos de alta gestão em instituições federais de ensino (Ifes) no Brasil. Para alcançar esse objetivo, o estudo consistiu em três etapas: a descrição do contexto institucional, social, político e pessoal; a investigação dos elementos que podem afastar e/ou aproximar as mulheres da constituição de sua identidade em cargos de alta gestão; e a análise da articulação entre relações de poder e ambivalência emocional na identidade das gestoras. No referencial teórico, discutiu-se a ambivalência emocional como a coexistência de fortes emoções positivas e negativas em relação a algo; o poder como uma estrutura relacional e dinâmica, constituída por questões de gênero e políticas organizacionais; e a identidade como um processo contínuo de construção e interpretação do self em interação com o ambiente. Por meio de 16 entrevistas com reitoras e diretoras de universidades e institutos federais, utilizando a análise fenomenológica interpretativa (AFI), identificou-se que as gestoras enfrentam ambivalência emocional diante das relações de poder na alta gestão. Elementos como articulação política, diálogo, desenvolvimento pessoal e sororidade podem aproximar as mulheres de sua constituição identitária na alta gestão, enquanto microagressões de gênero, exposição da vida pessoal e falta de apoio político podem afastá-las. Descobriu-se que a articulação entre as relações de poder e a ambivalência emocional na identidade da gestora ocorre de forma que as dinâmicas de poder se tornam fontes de emoções ambivalentes, as quais permeiam, mobilizam e impulsionam a capacidade de ação das gestoras, levando-as a alterar as dinâmicas de poder em sua experiência na alta gestão. Esta tese contribui ao evidenciar que: as mulheres entrevistadas lidam com as ambivalências emocionais geradas por meio da prática do poder compartilhado; ao experimentarem emoções ambivalentes, elas se constituem identitariamente na alta gestão, respondendo às adversidades e aproximando-se dos cargos de gestão; a identidade, as emoções ambivalentes e o poder interagem devido à sua natureza relacional; e uma rede de apoio político engajada é relevante para a constituição da identidade da mulher na alta gestão. Como recomendações práticas, sugere-se a implementação de políticas e práticas que promovam o diálogo, a inclusão e a conscientização sobre as dinâmicas da desigualdade de gênero na gestão institucional das Ifes. Para o desenvolvimento individual e profissional das mulheres na gestão, esta pesquisa elucida os elementos que tensionam e/ou colaboram com a constituição da sua identidade na alta gestão e pode contribuir para o seu empoderamento e a preparação para tais cargos. Abstract: In Brazil, at federal universities in 2024, only 20 (29%) out of 69 rector positions are held by women (Andifes, 2024), and in federal institutes out of 41 rector positions, only 14 (34%) (Conif, 2024), highlighting a female underrepresentation. Given the theoretical gap regarding the articulation between power relations and emotional ambivalence in the identity constitution of women in high management positions, the aim of this study was to comprehend how power relations and emotional ambivalence intertwine in the experience of women who form their identities in high management positions in federal educational institutions (Ifes) in Brazil. To achieve this objective, the study consisted of three stages: describing the institutional, social, political, and personal context; investigating the elements influencing the approach and/or distancing of women’s identity constitution in high management positions; and analyzing the articulation between power relations and emotional ambivalence in managers’ identities. In the theoretical framework, emotional ambivalence was discussed as the coexistence of positive and negative emotions towards something, power as a relational and dynamic structure, constituted by gender issues and organizational policies, and identity as a continuous process of selfconstruction and interpretation in interaction with the environment. Through 16 interviews with female rectors of universities and federal institutes, as well as campus directors, using interpretative phenomenological analysis (IPA), it was identified that managers face emotional ambivalence in the face of power relations in high management. However, elements such as political articulation, dialogue, personal development, and sisterhood can bring women closer to identity constitution in high management, while gender microaggressions, exposure of personal life, and lack of political support can push them away. It was found that the articulation of power relations and emotional ambivalence in the manager’s identity occurs in a way that power dynamics become sources of ambivalent emotions, which permeate, mobilize, and drive the managers’ capacity to act, leading them to alter power dynamics in their high management experience. This thesis contributes by highlighting that: the interviewed women deal with emotional ambivalences generated through shared power practice; by experiencing ambivalent emotions, they constitute themselves identitarily in high-level management, responding to adversities, and approaching management positions; identity, ambivalent emotions, and power interact due to their relational nature; an engaged political support network is relevant for the constitution of women’s identity in high-level management. As practical recommendations, the implementation of policies and practices promoting dialogue, inclusion, and awareness about gender inequality dynamics in institutional management of Ifes is suggested. For the individual and professional development of women in management, this research elucidates the elements that tension and/or contribute to the constitution of their identity in high management, potentially contributing to their empowerment and preparation for such positions.
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