PELAS CORDAS DA VIOLA: REGIMES DE CONHECIMENTO E APRENDIZADO NO FANDANGO CAIÇARA
Resumo
Neste trabalho proponho pensar a
partir de notas etnográficas a potência da viola
na constituição do universo fandangueiro. O esforço
está em demonstrar como, para além de
expressar, representar ou revelar algo, a viola
do fandango, em si mesma é eficaz, já que em
virtude de sua construção e execução musical
toda uma socialidade se ativa e atualiza. Nesse
sentido, devemos levar a sério, tal como o fazem
os tocadores e dançadores de fandango, o poder
dos instrumentos, versos, cantos, afinações, timbres
e performances que se constituem na relação
viola e violeiro. O som, a música e o próprio
instrumento produzidos pelos violeiros e construtores
são forças fundadoras de experiências,
geradas em um processo contínuo de interação
entre homem e ambiente. Nesse cenário, imerso
mas relações mar e mato, permeados pela Mata
Atlântica, habilidades técnicas se desenvolvem
em um processo de “fazer/experimentar”. É no
experimento que se produz a viola e o violeiro,
trata-se portanto, de regimes deconhecimento
mediados pelo mundo da experiência. Experimentar-
fazendo, também significa potencializar
múltiplas sensorialidades, chamando atenção
para gestos técnicos derivados de sinergia das
ações humanas em diferentes redes de movimentos
que constituem múltiplos agenciamentos
(Simondon, 2005). O objetivo aqui, deste
modo, é compreender como um sistema de
atividades propiciados pelo “fazer fandango” -
construção de artefatos, habilidades e técnicas
- pode gerar capacidades corporais constituindo
sujeitos singulares. Será, portanto, a partir destas
inspirações conceituais que lançarei minhas
reflexões sobre o fandango caiçara, tratando de
olhar para estas violas em suas propriedades,
fluxos e agencias, integradas aos seus modos de
produção e circulação específicos.