COTIDIANO, SAÚDE MENTAL E PROCESSOS DE TRABALHO NA VISÃO DE EQUIPES DE UNIDADES SOCIOEDUCATIVAS DO ESTADO DO PARANÁ
Data
2020-07-31Autor
CASSIANO ROBERT
PROF. DR. RAFAEL GOMES DITTERICH
ANA PAULA A. ROCHA OHATA
ALLANA MARINA BUENO
PROFª DRª SABRINA STEFANELLO
PROF. DR. DEIVISSON VIANNA DANTAS DOS SANTOS
Metadata
Mostrar registro completoResumo
INTRODUÇÃO: A privação da liberdade de adolescentes que cometem atos infracionais é necessária para o alcance de objetivos jurídicos e pedagógicos, embora possa gerar inúmeros fenômenos por seu caráter institucionalizante, tais como a perda da autonomia e de identidade. Na privação de liberdade, a constrição da escolha e da oportunidade de se envolver em ocupações pode influenciar negativamente a saúde e o bem-estar, resultado de um estado de difícil, senão impossível, engajamento em ocupações significativas e com relevância social, cultural e pessoal. OBJETIVOS: Descrever as percepções dos(as) trabalhadores(as) quanto o cotidiano dos CENSE e as atividades que o compõe e suas possíveis correlações com os fatores que geram sofrimento e crises de saúde mental no público atendido nos CENSE do Estado do Paraná. MATERIAL E MÉTODOS: Pesquisa avaliativa de cunho exploratório-descritivo com preceitos da Triangulação de Métodos. Foram realizadas seis entrevistas semiestruturadas, sete observações participantes e sete grupos focais com as equipes de sete CENSE do Estado do Paraná. Após a leitura extensiva do material foram construídos núcleos argumentais, agrupados em seis categorias por meio da abordagem hermenêutica. RESULTADOS: Os resultados foram baseados na análise das narrativas das equipes. A inadequação da estrutura física das unidades, o déficit de recursos humanos e o tamanho das unidades pareceu influenciar no atendimento prestado aos(às) adolescentes. A privação de liberdade e o não engajamento em ocupações foi apontado como gerador de efeitos negativos na saúde mental dos(as) adolescentes internados(as). Certas atividades foram apontadas como ausentes de significado ou superficiais devido à aparente inexistência de espaços para escuta dos interesses do público atendido, sendo aquelas de cunho expressivos e corporais como possivelmente benéficas à saúde mental. As equipes apontaram que, assim como os(as) adolescentes, sentiam-se também, de certa maneira, institucionalizadas. As tentativas de suicídio de adolescentes e a culminação de seu ato se apresentaram como um aspecto impactante na saúde mental das equipes e inerentes àqueles locais de trabalho, assim como a falta de estrutura e o sentimento de desamparo pelo Estado. Por serem as unidades instituições totais, uma dicotomia foi aparentemente observada: ora as equipes discorreram sobre posturas ressocializadoras, ora sobre posturas repressoras. CONCLUSÃO: O processo de trabalho das unidades socioeducativas é definitivo na construção de um cotidiano institucional. Por meio de suas próprias vivências institucionalizantes as equipes pareceram replicar e normalizar formas de autoritarismo no cotidiano das unidades. Ademais, o cotidiano não parece considerar as reais necessidades dos(as) adolescentes, uma vez que as necessidades das próprias equipes não parecem estarem sendo levadas em consideração.