dc.description.abstract | Este trabalho é um recorte da pesquisa de Mestrado que buscou analisar as narrativas de mães de autistas, produzidas e compartilhadas por elas por meio de vídeos no YouTube, sobre suas experiências com seus filhos. Vemos na contemporaneidade a importância cada vez maior da Internet, atravessando desde as relações interpessoais até setores econômicos. Assim, há grande relevância em analisar o que essas mães têm produzido on-line, uma vez que as redes sociais digitais têm uma grande importância para a construção do sentido público sobre saúde. A Internet reconfigurou a amplitude do alcance dos conteúdos produzidos por pessoas “comuns” e a plataforma YouTube é uma ferramenta de compartilhamento bastante relevante para pensarmos este novo contexto. Ao tornar pública uma experiência que é, a princípio, privada, pode-se contribuir para a construção de um novo lugar social, tal como reflete Veena Das (2008) com seu conceito de testemunho. Realizamos uma análise das narrativas construídas nos vídeos compartilhados no YouTube seguindo um método com inspiração etnográfica (HINE,2015). Identificamos que estas produtoras de conteúdo digital se reconheciam como “mães de autistas” e que, aparentemente, isto lhes dava um senso de unidade. Ser mãe de autista coloca o sujeito sob determinados olhares, criam-se expectativas sociais que são direcionadas a ela e que geram efeitos psíquicos próprios. Ademais, ter um filho autista desloca mães e pais do ideal de parentalidade, pois essas crianças não vivem o mundo conforme as expectativas sociais hegemônicas e tradicionais. Concluímos que nos vídeos analisados há uma dimensão autobiográfica própria do testemunho capaz de produzir um valor moral sobre ser mãe de autista, possibilitando a construção de sentidos sobre tal experiência. Vemos que as mães entendem a dor pela qual passaram e passam como uma dor vivida também por outras mães, o que é ratificado nos comentários. A produção de vídeos sobre cotidianos atípicos pode ser uma ferramenta que transforma a dor em sofrimento, como proposto por Birman (2012). Ao tornar públicas experiências dolorosas, é possível construir uma nova narrativa para si e, assim, vislumbrar um novo lugar social, sobretudo entre os pares. Escutar as narrativas das mães de crianças com autismo nos auxilia, enquanto profissionais de saúde, a entender os entraves, as preferências e as críticas, possibilitando que o desenho da rede de assistência se paute em diferentes olhares e experiências. | |