Saúde mental e economia solidária : a experiência da rede LIBERSOL na construção de um empreendimento econômico
Resumo
Resumo: A Luta Antimanicomial no Brasil resultou em avanços para as políticas públicas de saúde mental. Uma das conquistas foram as iniciativas de geração de trabalho e renda constituídas por pessoas em sofrimento mental e, em geral, ligadas à serviços de saúde mental inspiradas na experiência das cooperativas sociais italianas e/ou pautadas a partir dos princípios e valores da Economia Solidária (ECOSOL). A presente pesquisa se insere no contexto da experiência da Rede de Saúde Mental e Economia Solidária de Curitiba e Região Metropolitana (LIBERSOL) na construção de um Empreendimento Econômico Solidário (EES) em busca de contribuir para a efetivação e composição de reflexões que conduzam ao aperfeiçoamento de políticas públicas de interface entre os campos da Saúde Mental e da Economia Solidária (ECOSOL). O percurso metodológico elencado foi o da pesquisa qualitativa, do tipo pesquisa-ação, de caráter descritivo e compreensivo, por possibilitar imersividade e construções comunitárias de conhecimento conjuradas à delimitação de objetivos a serem alcançados junto à comunidade pesquisada. Para coleta de dados foi utilizado o Diário de Campo e a análise de dados a que se recorre é a abordagem hermenêutico-dialética, congregando interpretação e crítica social. Apresenta-se breve histórico da ECOSOL, passando por algumas reflexões sobre as legislações e os bancos de dados nacionais sobre a temática para então apresentar suas concepções teóricas, até finalmente abordar a interface entre Saúde Mental e ECOSOL com a discussão de questões históricas, mobilizações sociais, agenciamentos governamentais para, após, realizar discussão sobre o conceito de Reabilitação Psicossocial. Seguem-se capítulos narrativo-descritivos que retomam algumas memórias para então apresentar a construção do EES Cozinha Maluco Beleza, que se constituiu em um espaço público da universidade destinado à inclusão social pelo trabalho. O processo de construção do EES foi resultado de iniciativas de diversos atores sociais, congregando políticas públicas, especificamente a Rede de Atenção Psicossocial (RAPS), usuários da saúde mental, universidade e associações comunitários. Com a participação do Grupo de Ensino, Pesquisa e Extensão Loucura em Liberdade (GEPEL), apoio e suporte da Rede LIBERSOL e participação ativa de diversos atores, os usuários dos serviços de saúde mental puderam se apropriar de possibilidades de desenvolvimento de seu próprio empreendimento, conquistando ganhos materiais e imateriais, sobretudo vivenciando trocas afetivas, sociais e laborais em um processo de produção de vida, a despeito dos estigmas presentes na ideia da loucura. Outros sujeitos importantes foram as/os profissionais de saúde mental, agentes de políticas públicas, que se encontram entre modos emblemáticas de cuidar dos usuários e a delicada afetação própria à relação com as agências de gestão, gerenciamento e implementação aos quais estão submetidas/os. Nas discussões e considerações finais, abordam-se reflexões sobre a autogestão em relação às experiências em campo, bem como as dinâmicas entre autonomia e heteronomia vivenciadas não somente pelos usuários, mas também pelas/os profissionais dos serviços. Após breve discussão sobre cogestão, gestão da clínica e clínica ampliada, parte-se paras as considerações finais com uma reflexão cuidadosa sobre os componentes afetivos do trabalho em saúde mental e a solidão dos sujeitos envolvidos. Abstract: The Antipsychiatric Movement in Brazil resulted in advances for mental health public policies. One of its achievements includes the work and income-generating initiatives made up by individuals experiencing mental distress and generally associated with mental health services inspired by the experiences of Italian social cooperatives and/or guided by the values and principles of Solidarity Economy (ECOSOL). This research is part of the context of the Mental Health and Solidarity Economy Network of Curitiba and the Metropolitan Region (LIBERSOL) in the development of a Solidarity Economy Enterprise (EES) seeking to contribute to the implementation and composition of reflections that lead to the improvement of public policies at the intersection of Mental Health and Solidarity Economy (ECOSOL). The methodological approach chosen was qualitative research, of the action-research type, with a descriptive and comprehensive nature, as it allows for immersion and community constructions of knowledge combined with the delimitation of objectives to be achieved with the researched community. For data collection, a field diary was used and for data analysis, the hermeneutic-dialectic approach, bringing together interpretation and social critique. The study begins with a brief historical overview of ECOSOL, followed by some reflections on the legislation and national databases on the subject, then delving into theoretical concepts, ultimately addressing the interface between Mental Health and ECOSOL with the discussion of historical issues, social mobilization, and government agencies and from there, discussing the concept of Psychosocial Rehabilitation. This is followed by narrative-descriptive chapters that revisit some memories in order to present the construction of the Solidarity Economic Enterprise (EES) "Cozinha Maluco Beleza" which was established in a public space within a university, aiming to promote social inclusion through work. The process of creating the EES was the result of initiatives by various social actors, bringing together public policies, specifically the Psychosocial Attention Network (RAPS), including mental health service users, the university, and community associations. With the participation from the Loucura em Liberdade (GEPEL) Teaching, Research, and Extension Group, as well as support from the LIBERSOL Network and the active participartion of diverse social actors, mental health service users were able to take advantage of the possibilities of developing their own enterprise, achieving material and immaterial gains, above all experiencing affective, social and labor exchanges in a process of life production, despite the stigmas present in the idea of madness. Other ignificant actors also included mental health professionals, agents of public policies, who navigated between emblematic care approaches for users and the delicate dynamics of their relationships with management and implementation agencies to which they are subjected. In the discussion and final considerations, reflections on self-management based on field experiences are addressed, as well as the dynamics between autonomy and heteronomy experienced not only by users, but also by service professionals. After a brief discussion on co-management, clinical management and expanded clinic, the final remarks include a careful reflection on the affective components of mental health work and the loneliness of the subjects involved.
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