Projeto Cipó : diagnóstico de riscos em saúde única no PARNA Serra do Cipó, MG
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Data
2023Autor
Tolesano-Pascoli, Graziela Virginia
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Resumo: Unidades de Conservação (UCs) como o Parque Nacional da Serra do Cipó (PARNA Serra do Cipó), na região metropolitana de Belo Horizonte/MG, são áreas voltadas à conservação de ecossistemas naturais e biodiversidade. No Brasil, a criação de UCs segue uma proposta preservacionista, que opõe natureza e sociedade, resultando em conflitos socioambientais. Na prática da medicina da conservação, a Saúde Única é aplicada na prevenção e monitoramento de zoonoses, que podem surgir em ambientes com diversidade de animais domésticos próximos a áreas naturais com ocorrência de animais silvestres. O Projeto Cipó se propôs a analisar aspectos parasitológicos e epidemiológicos do parque, do seu entorno e em especial das comunidades tradicionais Retiro e Açude, visando subsidiar o poder público para a promoção de ações estratégicas de saúde coletiva. Apoiaram o projeto as instituições Departamento de Medicina Veterinária Preventiva e Saúde Animal/USP (material de coleta e submissão de licenças), Laboratório de Riquetsioses e Hantavirose da FUNED/MG (análises laboratoriais), IBAMA (alojamentos e logística) e LOG Nature (equipamentos de campo). Foram realizadas cinco viagens entre março/2021 e fevereiro/2022, para coleta de carrapatos e sangue de cães e cavalos (espécies sentinelas) com tutores conhecidos e que vivem dentro e no entorno do PARNA Cipó. Amostras de carrapatos foram armazenadas em recipiente plástico com álcool 70% e o sangue periférico foi centrifugado para separação do soro que foi enviado para análise. No total foram examinados 60 cães e 46 cavalos, com identificação de três espécies de carrapatos, sendo Dermacentor nitens, Amblyomma sculptum e A. aureolatum, as duas últimas vetores da Febre Maculosa Brasileira (FMB). Os achados sorológicos dos cães e cavalos não indicaram a circulação da Rickettsia rickettsii no momento da coleta das amostras (2021), mas o risco de surtos de FMB em humanos não pode ser descartado, pois a urbanização acelerada do entorno vem causando pressão antrópica nas áreas naturais. Ademais, dois cães foram positivos para leishmaniose visceral e apenas 5% dos cães examinados estavam castrados. Historicamente, animais domésticos errantes, principalmente cães e equinos, adentram o parque rotineiramente, potencialmente interferindo em relações ecológicas complexas e podendo atuar como hospedeiros carreadores de carrapatos infectados e introduzir as riquétsias causadoras da FMB no parque. Adicionalmente, a presença de cães e gatos em UCs causam impactos importantes para a fauna silvestre (caça, transmissão de sarna, cinomose e verminoses). Além disso, as comunidades locais, de características rurais, demonstraram desconhecimento e acesso restrito aos programas municipais de manejo ético populacional de cães e gatos e de prevenção da raiva e da leishmaniose. Os resultados do Projeto Cipó foram notificados às autoridades de saúde pública e indicam a necessidade de implementação de programas de gestão em saúde única no PARNA Serra do Cipó, na comunidade tradicional que este possui em seu interior e nos municípios que o albergam. Ressalta-se a importância de monitoramentos periódicos para compreender melhor as interações entre animais domésticos, ambiente natural, comunidades locais e os visitantes do parque. Há necessidade de implementação de novas ações preventivas e educativas adequadas à realidade local para limitar a circulação de zoonoses na região.