Aquisição de microrganismos com potencial cariogênico nos primeiros meses de vida e fatores associados : estudo de coorte com crianças prematuras e nascidas a termo

Abstract

Resumo: O objetivo deste estudo foi avaliar a aquisição de microrganismos com potencial cariogênico aos 15, 30 e 90 dias de vida e correlacionar com variáveis perinatais, ambientais, alimentares e uso de antibiótico e glicose. Nove participantes foram selecionados, sendo seis bebês com nascimento prematuro e três com nascimento a termo. O estudo envolveu três fases: T0 (avaliação inicial - aos 15 dias de vida), T1 (30 dias de vida) e T2 (90 dias de vida). Dados de variáveis perinatais, ambientais, alimentares e de uso de antibiótico e glicose foram coletados por meio de formulários elaborados especialmente para este estudo. Amostras de saliva não estimulada foram obtidas em cada tempo de acompanhamento e analisadas quanto ao conteúdo microbiano pela técnica de sequenciamento genético 16S rRNA. Testes t de Student para amostras independentes e ANOVA de um critério foram utilizados para a análise das médias de percentual de abundância relativa (%mAR) dos microrganismos e as variáveis de interesse (??=0,05). A análise por sequenciamento genético revelou 6.905 variantes únicas da sequência de amplicon (ASVs). Destas, 84 gêneros bacterianos foram identificados, sendo 14 potencialmente cariogênicos. Destes, seis compuseram 90% do total dos gêneros nos três tempos de avaliação: Streptococcus, Corynebacterium, Lactobacillus, Bifidobacterium, Fusobacterium e Rothia. Considerando a amostra total e daquelas de crianças prematuras, não houve relação entre %mAR e variáveis perinatais, ambientais, alimentares ou de uso de antibiótico ou glicose para nenhum microrganismo em T0. Maiores %mAR foram observados para Streptococcus (T1) em amostras de crianças extremo/ muito prematuros e prematuros tardios em comparação às nascidas a termo. Corynebacterium (T1) apresentou maiores %mAR em amostras de crianças extremo/muito prematuros em comparação às nascidas a termo. Streptococcus (T1) apresentou maiores %mAR em amostras de crianças com baixo peso ao nascer. Considerando o total de amostra e as variáveis em T0 foram observadas as seguintes relações: estar em UTI neonatal (UTIN), utilizar sonda gástrica, necessidade de incubadora e uso de antibiótico com maiores %mAR para Streptococcus (T1); uso de antibiótico com maiores %mAR para Bifidobacterium (T1); uso de mamadeira com maiores %mAR para Lactobacillus (T2); amamentar no seio logo após o nascimento com menores %mAR para Streptococcus, Rothia e Bifidobacterium (T1) e Bifidobacterium (T2); receber colostro a maiores %mAR ???? para Fusobacterium (T1) e menores %mAR para Bifidobacterium (T1 e T2); aleitamento materno exclusivo com menores %mAR de Streptococcus, Rothia e Bifidobacterium (T1) e Bifidobacterium e Lactobacillus (T2); uso de fórmula infantil com maiores %mAR para Lactobacillus (T2). Considerando a amostra de prematuros e as variáveis em T0 foram observadas as seguintes relações: UTIN, sonda gástrica e uso de antibiótico com maiores %mAR para Streptococcus (T1); utilizar antibiótico com maiores %mAR para Bifidobacterium (T1); aleitamento somente no seio com menores %mAR para Streptococcus, Corynebacterium e Bifidobacterium (T1) e Bifidobacterium (T2); receber colostro com menores %mAR de Bifidobacterium (T1 e T2). Considerando o total de amostra e as variáveis em T1 foram observadas as seguintes relações: UTIN e sonda gástrica com maiores %mAR para Streptococcus e Bifidobacterium (T1); uso de glicose a maiores %mAR para Lactobacillus (T2); aleitamento exclusivo no seio com menores %mAR para Streptococcus, Rothia e Bifidobacterium (T1) e, Bifidobacterium e Lactobacillus (T2); uso de fórmula infantil com maiores %mAR para estes mesmos gêneros. Considerando o grupo de prematuros e as variáveis em T1 foram observadas as seguintes relações: uso de sonda gástrica com maiores %mAR para Streptococcus (T1); UTIN e sonda gástrica com maiores %mAR para Bifidobacterium (T2); uso de glicose a maiores %mAR para Lactobacillus (T2). Considerando o total de amostra e as variáveis em T2 foram observadas as seguintes relações: uso de mamadeira com maiores %mAR para Lactobacillus e Bifidobacterium (T2); amamentação exclusiva no seio a menores %mAR para Bifidobacterium e Lactobacillus (T2); uso de fórmula infantil com maiores %mAR para estes mesmos gêneros. Com base nos resultados, podese concluir que a relação dos fatores analisados e a aquisição de microrganismos com potencial cariogênico foi observada com maior frequência aos 30 dias de vida, sendo a idade gestacional, o baixo peso ao nascimento, estar em UTIN, utilizar incubadora e sonda gástrica, além de alimentar-se por fórmula infantil como fatores de risco à esta aquisição. Por outro lado, amamentar logo após o nascimento e por colostro, além de estar em amamentação exclusiva no seio foram associados a menores percentuais destes microrganismos.

Abstract: The aim of this study was to evaluate the acquisition of microorganisms with cariogenic potential at 15, 30, and 90 days of life and correlate them with perinatal, environmental, dietary, antibiotic use, and glucose-related variables. Nine participants were selected, including six babies born prematurely and three born at term. The study involved three phases: T0 (initial evaluation - at 15 days of life), T1 (30 days of life), and T2 (90 days of life). Data on perinatal, environmental, dietary, antibiotic use, and glucose-related variables were collected through forms specially designed for this study. Unstimulated saliva samples were obtained at each follow-up time and analyzed for microbial content using the 16S rRNA genetic sequencing technique. Student's t-tests for independent samples and one-way ANOVA were used to analyze the means of the relative abundance percentage (%rAR) of microorganisms and variables of interest (a=0.05). Genetic sequencing analysis revealed 6,905 unique amplicon sequence variants (ASVs). Of these, 84 bacterial genera were identified, with 14 potentially cariogenic. Six of these comprised 90% of the total genera at all three evaluation times: Streptococcus, Corynebacterium, Lactobacillus, Bifidobacterium, Fusobacterium, and Rothia. Considering the total sample and premature infants, there was no relationship between %rAR and perinatal, environmental, dietary, or antibiotic or glucose-related variables for any microorganism at T0. Higher %rAR was observed for Streptococcus (T1) in samples from extremely/very premature and late preterm infants compared to full-term born infants. Corynebacterium (T1) showed higher %rAR in samples from extremely/very premature infants compared to full-term born infants. Streptococcus (T1) exhibited higher %rAR in samples from low birth weight infants. Considering the total sample and variables at T0, the following relationships were observed: being in the neonatal intensive care unit (NICU), using a gastric tube, needing an incubator, and antibiotic use with higher %rAR for Streptococcus (T1); antibiotic use with higher %rAR for Bifidobacterium (T1); bottle-feeding with higher %rAR for Lactobacillus (T2); breastfeeding immediately after birth with lower %rAR for Streptococcus, Rothia, and Bifidobacterium (T1), and Bifidobacterium (T2); receiving colostrum with higher %rAR for Fusobacterium (T1) and lower %rAR for Bifidobacterium (T1 and T2); exclusive breastfeeding with lower %rAR for Streptococcus, Rothia, and Bifidobacterium ???? (T1), and Bifidobacterium and Lactobacillus (T2); formula feeding with higher %rAR for Lactobacillus (T2). Considering premature infants and variables at T0, the following relationships were observed: NICU, gastric tube, and antibiotic use with higher %rAR for Streptococcus (T1); antibiotic use with higher %rAR for Bifidobacterium (T1); exclusive breastfeeding with lower %rAR for Streptococcus, Corynebacterium, and Bifidobacterium (T1), and Bifidobacterium (T2); receiving colostrum with lower %rAR for Bifidobacterium (T1 and T2). Considering the total sample and variables at T1, the following relationships were observed: NICU and gastric tube with higher %rAR for Streptococcus and Bifidobacterium (T1); glucose use with higher %rAR for Lactobacillus (T2); exclusive breastfeeding with lower %rAR for Streptococcus, Rothia, and Bifidobacterium (T1), and Bifidobacterium and Lactobacillus (T2); formula feeding with higher %rAR for these same genera. Considering premature infants and variables at T1, the following relationships were observed: gastric tube with higher %rAR for Streptococcus (T1); NICU and gastric tube with higher %rAR for Bifidobacterium (T2); glucose use with higher %rAR for Lactobacillus (T2). Considering the total sample and variables at T2, the following relationships were observed: bottlefeeding with higher %rAR for Lactobacillus and Bifidobacterium (T2); exclusive breastfeeding with lower %rAR for Bifidobacterium and Lactobacillus (T2); formula feeding with higher %rAR for these same genera. Based on the results, it can be concluded that the relationship between the analyzed factors and the acquisition of microorganisms with cariogenic potential was more frequently observed at 30 days of life, with gestational age, low birth weight, being in NICU, using an incubator and gastric tube, as well as formula feeding identified as risk factors for this acquisition. On the other hand, breastfeeding immediately after birth and by colostrum, as well as exclusive breastfeeding, were associated with lower percentages of these microorganisms.