Clorexidine : análise dos efeitos

Abstract

Resumo: A clorexidine (CHX), um agerite amplamente utilizado em odontologia, apresenta efetiva ação fungicida e bactericida. Os efeitos deste agente foram avaliados sobre a liberação de ferro de ferrítina, a lipoperoxidação ferro-induzida e a transição de permeabilidade mitocondrial. Sua interação com outros metais, como o mercúrio (Hg), um dos principais componentes do amálgama, também foi avaliada. Este agente estimula a liberação de ferro de ferrítina de forma dose- dependente, sendo este estímulo, significativo em todas as concentrações utilizadas (5-100 pM). A lipoperoxidação avaliada pela formação de malondialdeído foi significativamente estimulada na presença de CHX (23 jjM) a partir de 20 minutos de incubação. A CHX induz a transição de permeabilidade mitocondrial (MPT) em concentrações de 0,5 pM e 2,5 pM. O efeito foi dependente da concentração de cálcio bem como do tempo de exposição à droga. A indução da MPT por CHX foi inibida por DTT e CsA, sugerindo que o mecanismo envolve a oxidação de grupamentos -SH e a formação do poro de transição de permeabilidade mitocondrial, respectivamente. A interação da CHX com a liga de amálgama dental foi avaliada in vitro e in vivo. Os experimentos in vibro utilizaram duas marcas comerciais de liga de amálgama: Permite C e GS50. Foram confeccionados corpos de prova, os quais foram incubados em tampão fosfato (pH6,5) por 24 horas a 37°C, na ausência ou na presença de CHX (0,12%). Os resultados acusaram presença de Hg em todas as amostras, porém em presença de CHX ocorreu um aumento estatisticamente significativo (p<0,05) para ambas as marcas comerciais. Os experimentos in vivo foram realizados com a participação de 10 voluntários, que doaram saliva para análises de crescimento bacteriano e de presença de Hg, antes e após bochecho com CHX (0,12%). Tal população mostrou-se estatisticamente homogênea quanto à idade, nível educacional, índices CPO e gengival. Apenas o índice de amálgama mostrou diferenças estatisticamente significativas entre os participantes. Os resultados mostraram uma correlação direta entre o índice de amálgama individual e o crescimento bacteriano após o bochecho com CHX a 0,12%. Nesta concentração, a CHX estimulou a liberação de Hg em 50% da população avaliada (p<0,05), porém não houve correlação entre o índice de amálgama individual e a taxa de Hg liberada na saliva após o bochecho. Um único bochecho de CHX (0,12%) foi suficiente para induzir, em 40% da população estudada, efeito (reversível) sobre a sensibilidade do paladar (gosto salgado). O efeito da CHX em estimular a liberação de Hg das restaurações de amálgama pode expor os pacientes aos efeitos deletérios do Hg e este aspecto deve ser levado em consideração no momento da sua utilização

Abstract: Chlorhexidine (CHX) is an antiseptic largely used in dentistry. The present study evaluated its effects on iron release from ferritin, iron-induced lipid peroxidation and mitochondrial permeability transition (MPT). Its interaction with other metals, such as mercury (Hg), which is one of the most important constituents of amalgam, was also evaluated. This agent stimulates the iron release from ferritin in a dose-dependent manner and, in all concentrations used (5-100 |xM), there was a significant stimulus. Lipid peroxidation was evaluated by formation of malondialdehyde and was significantly stimulated in the presence of CHX (23 pM), starting at 20 min. of incubation. CHX also stimulates MPT, in low concentrations such as 0.5 and 2.5 pM. Its effect was dependent of the calcium concentration as well as the time of exposure of the drug. The inhibition of this phenomena by DTT and CsA, suggests that its mechanism involves oxidation of -SH groups and the pore of MPT, respectively. Its interaction with amalgam was evaluated by in vitro and in vivo experiments. Samples of commercially available dental amalgams, namely Permite C and GS50, were used for in vitro studies. Specimens were incubated for 24 h at 37°C with phosphate buffer (pH 6.5), in the presence or absence of CHX (0.12%). Hg was found in all samples, but in the presence of CHX, there was a statistically significant (p<0.05) increase around 2 times of Hg release for both brands. Ten volunteers participated as donors of saliva samples. These were analyzed for bacterial growth and for the presence of Hg after only one mouthrinse with CHX solution (0.12%). The population studied was considered statistically homogeneous, in regard to age, educational level, CPO and gingival index. Only the amalgam index showed statistically significant differences between individuals. The results show a direct correlation between the amalgam index and salivary bacterial growth after mouthrinsing. CHX increased Hg release from dental amalgam restorations in 50% of the analyzed population. However, a correlation between the amalgam index and the rate of Hg release could not be established. Finally, only one mouthrinse with CHX solution (0,12%) was sufficient to induce reversible impairment of taste (salty) in 40% of the evaluated population. The knowledge that certain substances routinely used in dentistry are able to increase Hg release from amalgam fillings, overexposing the patients to deleterious effects of Hg, must be considered at the moment of their use