Treinamento policial para o uso da força : revisão integrativa da literatura
Resumo
Resumo: O uso da força representa um elemento central do trabalho da polícia. Para que o uso da força seja empregado em consonância com as normas que o regem, é necessário um treinamento adequado dos agentes policiais. Contudo, muito pouco parece ter sido cientificamente produzido sobre o treinamento policial para o uso da força. Isso implica que não se tem certeza sobre a efetividade de grande parte dos métodos de treinamento empregados. Ainda, o conhecimento científico sobre o tema carecia de ser sintetizado de alguma forma. Revisões passadas abordaram elementos específicos do treinamento policial, sendo que algumas delas também incluíram o treinamento esportivo em suas sínteses. Tentativas de realizar revisões mais sistematizadas sobre o tema falharam. Diante do exposto, o presente estudo teve como objetivo identificar as melhores práticas no treinamento policial para promover um melhor desempenho no uso da força pelos profissionais de segurança pública. Para atingir o objetivo proposto, procedeu-se a uma revisão integrativa da literatura. Foram pesquisadas bases eletrônicas, periódicos individuais e a literatura cinza. Após as buscas e a aplicação dos critérios de inclusão, restaram 62 estudos a serem analisados. A maior parte da produção está concentrada nos EUA e publicada em periódicos de Psicologia, de Educação Física, das Ciências Policiais e de Criminologia/Criminal Justice. A maior parte dos estudos envolveu populações policiais e militares dos EUA. Incluíram-se estudos que avaliaram os efeitos, sobre a uso da força por parte dos participantes, de treinamentos simulados (por encenações, em vídeo ou de técnicas contextualizadas), aulas expositivas, treinamentos de operações especiais, artes marciais etc. Os treinamentos analisados diziam respeito a todos os níveis de força policial: verbalização ou desescalada, força não-letal e força letal. Os estudos foram descritos individualmente. A seguir, foi avaliada a qualidade do conjunto das evidências e apresentado o perfil das evidências encontradas, agrupadas por tipo de treinamento e por desfecho analisado, acompanhado pela força da recomendação para o uso. Para essas avaliações, foram utilizadas das diretrizes do Sistema GRADE. Os resultados indicam que o uso de estímulos semelhantes aos esperados no ambiente de atuação do policial pode aumentar a efetividade do treinamento. Dentro deste conceito, as melhores práticas identificadas foram as simulações encenadas (baseadas em realidade); o treinamento com uso de biofeedback; as simulações em vídeo; a prática de tiro em estande; a prática de artes marciais; os treinamentos com técnicas de imaginação (imagery); a contextualização das técnicas treinadas; e o uso de imagens e vídeos curtos para o treinamento do reconhecimento de ameaças. O fracionamento do comportamento treinado em unidades menores e o uso de avaliações simuladas periódicos podem potencializar a aprendizagem. Ao final, foram apresentadas considerações pertinentes aos avanços necessários sobre o assunto. Dentes elas, destacam-se: a alfabetização científica de policiais; a adoção de práticas de ciência aberta; a avaliação da retenção da aprendizagem após períodos sem treinamento; e a homogeneização dos desfechos avaliados e dos métodos de avaliação desses desfechos. Abstract: The use of force (UoF) is a central element of policing. Proper training to law enforcement personnel is needed to ensure that force is used in accordance with laws and policies. However, very little knowledge seems to have been scientifically produced regarding police UoF training. This implicates that we are not sure about the effectiveness of most of the adopted training methods. Moreover, the scientific knowledge on the subject required to be synthetized in some way. Previous literature reviews addressed specific elements of police training, and some of their synthesis even included sports training. Attempts to systematically review police training had failed. With all this said, this study's objective was to identify best practices on police training in order to promote better performance on UoF by law enforcement. In order to achieve that goal, an integrative review of the literature was conducted. Search included online databases, individual journals and grey literature. After searching and applying the inclusion criteria, 62 studies were analyzed. Most of the literature is concentrated in the USA and published in journals of Psychology, Physical Education, Police Science and Criminology/Criminal Justice. Most of the studies regarded American military and law enforcement. Interventions included simulation training (real-life based, video based or contextualized technical/tactical training), lectures, SWAT training, martial arts training etc. The analyzed training methods addressed every level of force: verbalization/communication/de-escalation, non-lethal force and lethal force. The included studies were individually described. Then, the evidence was grouped by training types and outcomes and was assessed through GRADE guidelines. Results suggest that the use of stimuli equivalent to those expected in real policing and its environment may enhance the training effectiveness. Within this concept, best identified practices were: real-life based simulations; training with biofeedback; video-based simulations; range shooting; martial arts training; imagery training; and the use of pictures and short videos to train for threat recognition. Splitting the target behavior in smaller units and the use of periodic simulated tests may also enhance learning. At the end, some considerations regarding necessary advances on the subject were presented. Of them, the following are worth mentioning: promotion of scientific literacy among police officers; open science practices; the assessment of learning retention after some period without training; and standardizing assessed outcomes and assessing methods.
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