As fases da Lua e o trabalho de parto em uma maternidade de risco habitual em Curitiba

Abstract

Resumo : A gestação e o parto são períodos envoltos por crenças, mitos e saberes populares que são repassados entre gerações, e dentre esses está a interferência das fases da Lua no trabalho de parto. Teve-se como objetivo identificar a relação das fases da Lua com o início do trabalho de parto de parturientes atendidas em uma maternidade de risco habitual no ano de 2018. Trata-se de estudo quantitativo descritivo de corte transversal, com coleta retrospectiva de dados secundários, a partir de planilhas e livros registros do Centro Obstétrico de uma maternidade de risco habitual do município de Curitiba, Paraná, no período de janeiro a dezembro de 2018 referente aos internamentos de gestantes que deram entrada no Centro Obstétrico por trabalho de parto espontâneo a termo e tiveram como desfecho parto vaginal não induzido ou cesariana de emergência. Os dados foram coletados entre março a maio de 2021 e analisados de forma descritiva e estatística (testes Shapiro-Wilk e U de Mann-Whitney). Foram analisados dados de 1.963 internamentos, e a média diária de internamentos foi de 5,39 gestantes; 953 (48,5%) internamentos ocorreram no período diurno e 1.004 (51,1%) no período noturno; foram identificados 15 motivos pelos quais as parturientes deram entrada no Centro Obstétrico, e o que mais apareceu foi o descrito como trabalho de parto espontâneo (1.612 - 82,1%). Prevaleceu a idade de parturientes de 20 a 29 anos (1.148 - 58,5%), primigesta (813 – 41,4%), com 39 semanas de gestação (508 – 25,9%), e a via de nascimento por parto vaginal (1.716 - 87,4%). O motivo que mais apareceu para as cesarianas foi em relação a distocias e parada de progressão (53 – 21,4%) e 505 (25,7%) fizeram uso de ocitocina no trabalho de parto. Dos profissionais que prestaram assistência no nascimento, 867 (44,2%) eram médicos e 856 (43,6%) enfermeiros; dos recém-nascidos, 1.013 (51,6%) eram do sexo masculino e 928 (47,3%) do sexo feminino; quanto ao APGAR, 70,9% e 77,7% dos recém-nascidos obtiveram índice maior ou igual a 7 no primeiro e no quinto minuto de vida, respectivamente. A fase lunar com maior número de internamentos foi Quarto Minguante (521 – 26,5%); e não foram encontradas diferenças significativas entre o número de internamentos nos dias de mudança de fase da Lua em relação aos outros dias (W = 15787, p-valor = 0.7572). A identificação da não relação das fases lunares com o início do trabalho de parto auxilia a desvendar mitos, crenças e saberes populares que cercam a gestação e o parto. Estes dados assemelham-se a outros estudos nacionais e internacionais, assim ressalta-se a necessidade de fornecer orientações às mulheres a partir de evidências já apontadas na literatura para que a experiência de gestar e parir seja positiva, sem interferências que possam gerar ansiedade. Ainda, contribui para a atuação do profissional enfermeiro na desmistificação de crenças que cercam a assistência obstétrica.

Abstract : Pregnancy and childbirth are periods surrounded by beliefs, myths and popular knowledge that are transmitted from generation to generation, and among them is the interference of the phases of the Moon in childbirth. The objective was to identify the relationship between the phases of the Moon and the beginning of labor in parturients attended at a maternity hospital at usual risk in 2018. This is a descriptive quantitative cross-sectional study, with retrospective collection of secondary data from the worksheets and notebooks of the Obstetric Center of a maternity hospital at regular risk in the city of Curitiba, Paraná, from January to December 2018 regarding the hospitalizations of pregnant women who they were admitted to the Obstetric Center for spontaneous labor at term and had non-induced normal delivery or emergency cesarean as an outcome. Data were collected between March and May 2021 and analyzed descriptively and statistically (U tests of Shapiro-Wilk and Mann-Whitney). Data from 1,963 admissions were analyzed, and the daily average of admissions was 5.39 pregnant women; 953 (48.5%) admissions occurred during the day and 1,004 (51.1%) at night; Fifteen reasons for admission of parturients to the Obstetric Center were identified, and the one that most appeared was described as spontaneous delivery (1,612 - 82.1%). The age of the parturients between 20 and 29 years (1,148 - 58.5%), primiparous (813 - 41.4%), with 39 weeks of gestation (508 - 25.9%) and vaginal route (1716 - 87) prevailed 4% ) The most common reason for cesarean delivery was dystocia and progressive arrest (53 - 21.4%) and 505 (25.7%) used oxytocin during labor. Of the professionals who provided childbirth care, 867 (44.2%) were physicians and 856 (43.6%) were nurses; of the newborns, 1,013 (51.6%) were male and 928 (47.3%) were female; as for the APGAR, 70.9% and 77.7% of newborns had an index greater than or equal to 7 in the first and fifth minutes of life, respectively. The lunar phase with the highest number of admissions was the Last Quarter (521 - 26.5%); and no significant differences were found between the number of admissions on the moon phase change days compared to the other days (W = 15787, p-value = 0.7572). Identifying the lack of relationship between the lunar phases and the onset of labor helps unravel popular myths, beliefs and knowledge about pregnancy and childbirth. These data are similar to other national and international studies, highlighting the need to guide women based on evidence already pointed out in the literature so that the experience of pregnancy and childbirth is positive, without interference that could generate anxiety. It also contributes to the role of professional nurses in demystifying beliefs around obstetric care.