Violência contra profissionais de saúde : uma epidemia ignorada em tempos de COVID-19
Resumo
Resumo : A pandemia da COVID-19 ressaltou em todos os âmbitos da sociedade a relevância social dos profissionais de saúde para a manutenção da vida. No entanto, a violência contra os profissionais de saúde também ganhou destaque nesse momento, apesar de ser um fenômeno histórico e descrito pela literatura. O objetivo deste estudo é identificar como a mídia digital apresenta os casos de violência contra profissionais de saúde durante a pandemia da COVID-19. Trata-se de uma pesquisa documental, exploratória e descritiva, de abordagem qualitativa realizada a partir de reportagens publicadas em quatro portais digitais de notícias brasileiros de grande circulação. Foram selecionadas 37 reportagens, publicadas no período de 11 demarço de 2020 a 31 de janeiro de 2021, organizadas com o auxílio Google planilha online e submetidas à análise de conteúdo temática. A escolha da fonte de dados converge com o poder que as mídias digitais detêm a respeito da veiculação de informações no território brasileiro. Da análise de conteúdo das reportagens analisadas surgiram duas categorias empíricas: caracterização das violências sofridas pelos profissionais de saúde durante a pandemia de COVID-19 e motivos alegados para a ocorrência da violência: um retrato da sociedade. Identificou-se que nas reportagens analisadas a violência cometida contra profissionais de saúde foi geralmente praticada por familiares/acompanhantes e usuários, em serviços públicosde saúde de média e alta complexidade, motivados por descontentamento no atendimento, e possuiu como desfecho usual o registro do caso e investigação policial. De acordo com a mídia analisada, a classe médica foi reportada como a categoria mais agredida física e verbalmente, sendo os profissionais da Enfermagem os segundos mais violentados. Estudos apontam que profissionais de saúde como os da enfermagem subestimam comportamentos como agressões psicológicas, pois acreditam ser um fato comum do dia a dia de trabalho, o que contribui para a subnotificação, baixa repercussão e consequentemente naturalização do problema. A mídia, por retratar o que a sociedade produz e reproduz, representou os profissionais de saúde a partir de estigmas socialmente construídos e, além disso, revelou não amparar suficientemente esses profissionais ao não publicizar a retirada de direitos dos trabalhadores e a desestruturação de políticas públicas consolidadas na área da saúde, ao longo dos últimos anos. Concluiu-se que durante a pandemia de COVID-19 os casos de violência contra profissionais de saúde receberam destaque na cobertura da mídia, todavia esse fenômeno não é recente e, por isso, é necessário melhor compreensão sobre a determinação histórica e social construída a respeito da violência contra profissionais de saúde. O enfrentamento deste problema requer a abordagem do tema durante a formação profissional, a formulação e defesa de políticas públicas que compreendam a saúde do trabalhador como eixo estruturante das políticas de atenção à saúde integral. Abstract : The COVID-19 pandemic highlighted the social relevance of health professionals for the maintenance of life in all spheres of society. However, violence against health professionals also gained prominence at this time, despite being a historical phenomenon and described by the literature. The objective of this study is to identify how the digital media presents cases of violence against health professionals during the COVID-19 pandemic. This is a documentary, exploratory and descriptive research, with a qualitative approach carried out based on reports published in four digital news portals of great circulation in Brazil. 37 reports were selected, published from March 11, 2020 to January 31, 2021, organized with the help of Google online spreadsheet and submitted to thematic content analysis. The choice of data source converges with the power that digital media has over the transmission of information in the Brazilian territory. From the content analysis of the analyzed reports, two empirical categories emerged: characterization of the violence suffered by health professionals during the COVID-19 pandemic and alleged reasons for the occurrence of violence: a portrait of society. It was identified that in the reports analyzed, the violence committed against health professionals was generally practiced by family members / companions and users, in medium and high complexity public health services, motivated by discontent in the service, and the case record was the usual outcome. and police investigation. According to the analyzed media, the medical profession was reported as the category most physically and verbally attacked, with Nursing professionals being the second most violated. Studies indicate that health professionals such as nurses underestimate behaviors such as psychological aggression, as they believe it is a common fact of daily work, which contributes to underreporting, low repercussion and consequently naturalization of the problem. The media, for portraying what society produces and reproduces, portrayed health professionals from socially constructed stigmas and, moreover, revealed that they did not support enough the category of these professionals by not publicizing the withdrawal of workers' rights and the disruption of policies consolidated public policies in the area of health, over the past few years. It was concluded that during the COVID-19 pandemic, cases of violence against health professionals were highlighted in the media coverage, however this phenomenon is not recent and, therefore, it is necessary to better understand the historical and social determination constructed about it. of violence against health professionals. Facing this problem requires addressing the theme during professional training, formulating and defending public policies that understand worker health as a structuring axis for comprehensive health care policies.
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- Enfermagem [70]