Concepções socioeconômicas Guarani-Mbya

Abstract

Resumo: Os modos de produção e reprodução econômica das comunidades indígenas são diversos e guiados por lógicas enraizadas na sociedade, relacionadas ao modo de vida desses povos, sua cultura, religiosidade e organização social. Entretanto, esses também interagem com as dinâmicas econômicas não-indígenas. O presente estudo buscou analisar práticas socioprodutivas e organização socioeconômica Guarani Mbya descritas na literatura, considerando a relação com a sociedade não-indígena e com as políticas de orientação estatal. A base teórica do presente estudo pautou-se no Desenvolvimento Territorial Sustentável, ancorado na concepção de economia substantiva e mista e etnodesenvolvimento. Do ponto de vista metodológico a presente pesquisa pautou-se em uma abordagem predominantemente qualitativa e exploratório-descritiva. Os dados bibliográficos foram obtidos por meio de busca sistemática da literatura, considerando análises econômicas e etnográficas. Também fora realizada entrevista com agente da Funai para compreender o contexto regional do litoral do Paraná. Os dados foram observados por meio de análises documentais, propostas por May (2002). Quanto aos resultados da pesquisa observa-se que as principais práticas socioprodutivas Guarani Mbya articulam reciprocidade e troca nas dinâmicas socioprodutivas, caracterizando economias mistas, como para Sabourin (2011). Na economia Guarani Mbya, as dinâmicas mistas estão presentes na relação com a sociedade não-indígena no que tange à obtenção de suprimentos fora das aldeias, por meio do comércio, doações e o uso do dinheiro, por exemplo. A realidade no litoral do Paraná apresenta especificidades locais, como a disponibilidade ambiental e territorial regional, mas dialoga com o grande plano Guarani Mbya descrito na literatura. A atuação da Funai no litoral do Paraná é ativa e contribui para as questões socioprodutivas locais; mas os projetos propostos pela organização nem sempre contemplam a totalidade cultural Mbya. A questão da regularização fundiária de terras indígenas envolve conflitos socioambientais, como a sobreposição à unidades de conservação, reflexo de um cenário amplo vivenciado por comunidades tradicionais no brasil. As limitações do presente estudo residem principalmente na adequação do tópico socioeconomia a algumas expressões nas sociedades indígenas. Reconhecemos que a temática possui incontáveis desdobramentos que se interrelacionam. A questão da partilha, comumente associada à reciprocidade em obras analisadas, possui interfaces religiosas, sociais, socioprodutivas que englobam humanos, natureza e universo cosmológico. A partir do presente estudo observam-se lacunas a serem preenchidas por meio de pesquisas futuras como: "Quais restrições e limitações a economia indígena têm sido geradas pela regularização fundiária em terras indígenas?"; "De que forma os projetos governamentais podem atuar em conjunto com a economia substantiva, mesmo em um cenário não-indígena regido pela economia formal?"; "Como a valoração de produtos e comércio podem ocorrer nas sociedades indígenas sem consumir as práticas substantivas?". Reforça-se a necessidade de compreensão de contextos locais para tentativas de contribuir com o debate indígena nos contextos acadêmicos, sociais, políticos, legislativos, culturais.

Abstract: The modes of production and economic reproduction of indigenous communities are diverse and guided by logics rooted in society, related to the way of life of these peoples, their culture, religiosity, and social organization. However, they also interact with non-indigenous economic dynamics. The present study sought to analyze the Guarani Mbya socio-productive practices and socio-economic organization described in the literature, considering their relationship with non-indigenous society and with state-oriented policies. The theoretical basis of this study was based on Sustainable Territorial Development, anchored in the concept of substantive and mixed economy and ethnodevelopment. From the methodological point of view, this research was based on a predominantly qualitative and exploratory-descriptive approach. The bibliographic data were obtained through a systematic search of the literature, considering economic and ethnographic analyses. An interview with a Funai agent was also conducted to understand the regional context of the Paraná coast. The data was observed by means of documentary analysis, as proposed by May (2002). As for the research results, it is observed that the main Guarani Mbya socio-productive practices articulate reciprocity and exchange in the socioeconomic dynamics, characterizing mixed economies, as for Sabourin (2011). In the Guarani Mbya economy, mixed dynamics are present in the relationship with non-indigenous society when it comes to obtaining supplies outside the villages, through trade, donations, and the use of money, for example. The reality on the coast of Paraná has local specificities, such as the regional environmental and territorial availability, but it dialogues with the great Guarani Mbya plan described in the literature. Funai's actions on the coast of Paraná are active and contribute to local socio-productive issues; however, the projects proposed by the organization do not always contemplate the Mbya cultural totality. The issue of land regularization of indigenous lands involves socio-environmental conflicts, such as overlapping with conservation units, a reflection of a broad scenario experienced by traditional communities in Brazil. The limitations of the present study reside mainly in the adequacy of the socioeconomic topic to som eexpressions in indigenous societies. We recognize that the theme has countless unfoldings that are interrelated. The issue of sharing, commonly associated with reciprocity in the works analyzed, has religious, social, and socio-productive interfaces that encompass humans, nature, and the cosmological universe. From the present study we observe gaps to be filled through future research such as: "What restrictions and limitations to the indigenous economy have been generated by land title regularization on indigenous lands?"; "In what way can government projects act in conjunction with the substantive economy, even in a non-indigenous scenario governed by the formal economy?"; "How can the valuation of products and trade occur in indigenous societies without consuming the substantive practices?". The need for understanding local contexts is reinforced for attempts to contribute to the Indigenous debate in academic, social, political, legislative, cultural contexts.