Os ambientes alimentares no âmbito do regime alimentar neoliberal : estudo de caso em Curitiba/Brasil
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Data
2021Autor
Paula, Natália Ferreira de, 1989-
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Resumo: As constantes mutações do Sistema Alimentar têm sido interpretadas a partir da noção de Regimes Alimentares, segundo três épocas distintas. A partir de meados de 1970, embora sob distintas concepções, a ordem alimentar global foi especialmente interpretada com base nas noções de Regime Alimentar Neoliberal ou Corporativo, e Império Alimentar, cujos desdobramentos podem ser identificados nos ambientes alimentares obesogênicos. O padrão de consumo alimentar formado se traduz na dieta neoliberal, imersa numa sindemia global, afetando sobretudo a população mais vulnerável. À luz dessas tendências, o objetivo deste trabalho foi analisar a relação do estado nutricional de adultos e a situação socioeconômica prevalecente nos bairros de Curitiba/Pr com o macroambiente alimentar público e privado de FH. Para tanto, adotou-se a pesquisa ecológica, tendo como objeto de análise as dez Regionais Administrativas e os 75 bairros do município, nos quais a diversidade dos ambientes alimentares reflete o processo de planejamento urbano que resultou numa cidade hierarquizada e segregada. As áreas vulnerabilizadas, resultantes da fragmentação da cidade, são também aquelas que possuem maior prevalência de adultos acima do peso, contam com baixa densidade de equipamentos públicos e de redes de varejo que comercializam FH. O contrário também é verdadeiro, ao se identificar maior densidade de equipamentos de comercialização de FH e redes de varejo alimentício nas regiões mais estruturadas, onde a população desfruta de melhores condições de vida e de nutrição. Observou-se maior homogeneidade na distribuição dos estabelecimentos privados, não apresentando significância estatística para correlação com renda, nível de precariedade dos bairros e estado nutricional de adultos. Assim, regiões de alta renda contam com maior densidade de supermercados, feiras-livres, sacolões e mercados municipais, estabelecimentos comumente associados com maior disponibilidade de alimentos saudáveis, quando comparados com pequenos mercados de bairros. Dessa forma, a análise relativa ao macroambiente alimentar construído formal detectou iniquidades em relação ao estado nutricional e oferta de FH. Já para o macroambiente alimentar cultivado identificou-se um movimento contrário. As hortas comunitárias públicas estão concentradas nas regiões mais vulnerabilizadas, enquanto as particulares encontram-se pulverizadas na cidade, não sendo estabelecida relação com a segregação socioeconômica. O caráter mercadológico da distribuição dos equipamentos públicos analisados acompanha a estratégia de mercado das redes varejistas e faz com que as áreas geográficas da cidade mais favorecidas também sejam mais amparadas pelas políticas públicas de abastecimento alimentar. Neste sentido, as distorções encontradas no macroambiente alimentar de FH apontam para a necessidade de políticas de abastecimento alimentar alinhadas à configuração social e urbana para que os ambientes alimentares privados sejam moldados pelo princípio da equidade e do Direito Humano à Alimentação Adequada. As constantes mutações do Sistema Alimentar têm sido interpretadas a partir da noção de Regimes Alimentares, segundo três épocas distintas. A partir de meados de 1970, embora sob distintas concepções, a ordem alimentar global foi especialmente interpretada com base nas noções de Regime Alimentar Neoliberal ou Corporativo, e Império Alimentar, cujos desdobramentos podem ser identificados nos ambientes alimentares obesogênicos. O padrão de consumo alimentar formado se traduz na dieta neoliberal, imersa numa sindemia global, afetando sobretudo a população mais vulnerável. À luz dessas tendências, o objetivo deste trabalho foi analisar a relação do estado nutricional de adultos e a situação socioeconômica prevalecente nos bairros de Curitiba/Pr com o macroambiente alimentar público e privado de FH. Para tanto, adotou-se a pesquisa ecológica, tendo como objeto de análise as dez Regionais Administrativas e os 75 bairros do município, nos quais a diversidade dos ambientes alimentares reflete o processo de planejamento urbano que resultou numa cidade hierarquizada e segregada. As áreas vulnerabilizadas, resultantes da fragmentação da cidade, são também aquelas que possuem maior prevalência de adultos acima do peso, contam com baixa densidade de equipamentos públicos e de redes de varejo que comercializam FH. O contrário também é verdadeiro, ao se identificar maior densidade de equipamentos de comercialização de FH e redes de varejo alimentício nas regiões mais estruturadas, onde a população desfruta de melhores condições de vida e de nutrição. Observou-se maior homogeneidade na distribuição dos estabelecimentos privados, não apresentando significância estatística para correlação com renda, nível de precariedade dos bairros e estado nutricional de adultos. Assim, regiões de alta renda contam com maior densidade de supermercados, feiras-livres, sacolões e mercados municipais, estabelecimentos comumente associados com maior disponibilidade de alimentos saudáveis, quando comparados com pequenos mercados de bairros. Dessa forma, a análise relativa ao macroambiente alimentar construído formal detectou iniquidades em relação ao estado nutricional e oferta de FH. Já para o macroambiente alimentar cultivado identificou-se um movimento contrário. As hortas comunitárias públicas estão concentradas nas regiões mais vulnerabilizadas, enquanto as particulares encontram-se pulverizadas na cidade, não sendo estabelecida relação com a segregação socioeconômica. O caráter mercadológico da distribuição dos equipamentos públicos analisados acompanha a estratégia de mercado das redes varejistas e faz com que as áreas geográficas da cidade mais favorecidas também sejam mais amparadas pelas políticas públicas de abastecimento alimentar. Neste sentido, as distorções encontradas no macroambiente alimentar de FH apontam para a necessidade de políticas de abastecimento alimentar alinhadas à configuração social e urbana para que os ambientes alimentares privados sejam moldados pelo princípio da equidade e do Direito Humano à Alimentação Adequada. Abstract: As constantes mutações do Sistema Alimentar têm sido interpretadas a partir da noção de Regimes Alimentares, segundo três épocas distintas. A partir de meados de 1970, embora sob distintas concepções, a ordem alimentar global foi especialmente interpretada com base nas noções de Regime Alimentar Neoliberal ou Corporativo, e Império Alimentar, cujos desdobramentos podem ser identificados nos ambientes alimentares obesogênicos. O padrão de consumo alimentar formado se traduz na dieta neoliberal, imersa numa sindemia global, afetando sobretudo a população mais vulnerável. À luz dessas tendências, o objetivo deste trabalho foi analisar a relação do estado nutricional de adultos e a situação socioeconômica prevalecente nos bairros de Curitiba/Pr com o macroambiente alimentar público e privado de FH. Para tanto, adotou-se a pesquisa ecológica, tendo como objeto de análise as dez Regionais Administrativas e os 75 bairros do município, nos quais a diversidade dos ambientes alimentares reflete o processo de planejamento urbano que resultou numa cidade hierarquizada e segregada. As áreas vulnerabilizadas, resultantes da fragmentação da cidade, são também aquelas que possuem maior prevalência de adultos acima do peso, contam com baixa densidade de equipamentos públicos e de redes de varejo que comercializam FH. O contrário também é verdadeiro, ao se identificar maior densidade de equipamentos de comercialização de FH e redes de varejo alimentício nas regiões mais estruturadas, onde a população desfruta de melhores condições de vida e de nutrição. Observou-se maior homogeneidade na distribuição dos estabelecimentos privados, não apresentando significância estatística para correlação com renda, nível de precariedade dos bairros e estado nutricional de adultos. Assim, regiões de alta renda contam com maior densidade de supermercados, feiras-livres, sacolões e mercados municipais, estabelecimentos comumente associados com maior disponibilidade de alimentos saudáveis, quando comparados com pequenos mercados de bairros. Dessa forma, a análise relativa ao macroambiente alimentar construído formal detectou iniquidades em relação ao estado nutricional e oferta de FH. Já para o macroambiente alimentar cultivado identificou-se um movimento contrário. As hortas comunitárias públicas estão concentradas nas regiões mais vulnerabilizadas, enquanto as particulares encontram-se pulverizadas na cidade, não sendo estabelecida relação com a segregação socioeconômica. O caráter mercadológico da distribuição dos equipamentos públicos analisados acompanha a estratégia de mercado das redes varejistas e faz com que as áreas geográficas da cidade mais favorecidas também sejam mais amparadas pelas políticas públicas de abastecimento alimentar. Neste sentido, as distorções encontradas no macroambiente alimentar de FH apontam para a necessidade de políticas de abastecimento alimentar alinhadas à configuração social e urbana para que os ambientes alimentares privados sejam moldados pelo princípio da equidade e do Direito Humano à Alimentação Adequada. As constantes mutações do Sistema Alimentar têm sido interpretadas a partir da noção de Regimes Alimentares, segundo três épocas distintas. A partir de meados de 1970, embora sob distintas concepções, a ordem alimentar global foi especialmente interpretada com base nas noções de Regime Alimentar Neoliberal ou Corporativo, e Império Alimentar, cujos desdobramentos podem ser identificados nos ambientes alimentares obesogênicos. O padrão de consumo alimentar formado se traduz na dieta neoliberal, imersa numa sindemia global, afetando sobretudo a população mais vulnerável. À luz dessas tendências, o objetivo deste trabalho foi analisar a relação do estado nutricional de adultos e a situação socioeconômica prevalecente nos bairros de Curitiba/Pr com o macroambiente alimentar público e privado de FH. Para tanto, adotou-se a pesquisa ecológica, tendo como objeto de análise as dez Regionais Administrativas e os 75 bairros do município, nos quais a diversidade dos ambientes alimentares reflete o processo de planejamento urbano que resultou numa cidade hierarquizada e segregada. As áreas vulnerabilizadas, resultantes da fragmentação da cidade, são também aquelas que possuem maior prevalência de adultos acima do peso, contam com baixa densidade de equipamentos públicos e de redes de varejo que comercializam FH. O contrário também é verdadeiro, ao se identificar maior densidade de equipamentos de comercialização de FH e redes de varejo alimentício nas regiões mais estruturadas, onde a população desfruta de melhores condições de vida e de nutrição. Observou-se maior homogeneidade na distribuição dos estabelecimentos privados, não apresentando significância estatística para correlação com renda, nível de precariedade dos bairros e estado nutricional de adultos. Assim, regiões de alta renda contam com maior densidade de supermercados, feiras-livres, sacolões e mercados municipais, estabelecimentos comumente associados com maior disponibilidade de alimentos saudáveis, quando comparados com pequenos mercados de bairros. Dessa forma, a análise relativa ao macroambiente alimentar construído formal detectou iniquidades em relação ao estado nutricional e oferta de FH. Já para o macroambiente alimentar cultivado identificou-se um movimento contrário. As hortas comunitárias públicas estão concentradas nas regiões mais vulnerabilizadas, enquanto as particulares encontram-se pulverizadas na cidade, não sendo estabelecida relação com a segregação socioeconômica. O caráter mercadológico da distribuição dos equipamentos públicos analisados acompanha a estratégia de mercado das redes varejistas e faz com que as áreas geográficas da cidade mais favorecidas também sejam mais amparadas pelas políticas públicas de abastecimento alimentar. Neste sentido, as distorções encontradas no macroambiente alimentar de FH apontam para a necessidade de políticas de abastecimento alimentar alinhadas à configuração social e urbana para que os ambientes alimentares privados sejam moldados pelo princípio da equidade e do Direito Humano à Alimentação Adequada. The constant mutations of the Food System have been interpreted from the notion of Food Regimes, according to three distinct periods. From the mid-1970s, though under distinct concepts, the global food order was especially interpreted according to notions of Neoliberal or Corporate Food Regime and also Food Empire, whose developments can be identified in obesogenic food environments. The resulting pattern of food consumption formed was translated into the neoliberal diet, sunk in a global syndemic, affecting above all the most vulnerable population. In the light of these trends, the objective of this study was to analyze the relationship between the nutritional state of adults and the prevailing socioeconomic conditions in the districts of Curitiba with the public and private food macroenvironment of Fruits and Vegetables (FV), in which the diversity of food environment reflects urban planning process that created a hierarchical and segregated city. Thus, the vulnerable areas, resulting from the fragmentation ofthe city, are also those with a higher prevalence of overweight adults, low density of public facilities and food retailers that sell FV. The opposite is also true, as a higher density of FV trading equipment and food retailing in more structured regions, whose population enjoy better conditions of living and of nutrition. A greater homogeneity was also identified in the distribution of private establishments, with no statistical significance for correlation with income, level of precariousness in the urban districts and nutritional status of adults.Therefore, highincome areas have a higher density of supermarkets, street markets, grocery stores and markets managed by municipal government, establishments commonly associated with greater availability of healthy foods, when compared to small neighborhood local markets. This way, the analysis related to the formal and built food macroenvironment, detected inequities related to the nutritional status and supply of FV in Curitiba. As for the cultivated food macroenvironment, a contrary movement was identified. Public community gardens are concentrated in the most vulnerable regions, while private gardens are scattered throughout the city, with no relationship with socioeconomic segregation. The marketing character of the distribution of public facilities analyzed resembles the market strategy of the retail chains and makes the most favored geographic areas of the city also better supported by public food policies. In this sense, the distortions found in the food macroenvironment of FV point to the need to analyze food policies in line with social and urban configuration, so that private food environments be shaped by by the principle of equity and the Human Right to Adequate Food.
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